ntre um reboliço e outro daquele caótico 2013, uma reunião em São Paulo colocou diversos grupos de esquerda frente a frente para uma conversa estratégica. Foi um encontro de agendas amplas. Representantes de núcleos anarquistas, alas de partidos, ramificações de movimentos sociais, toda pauta esteve um pouco ali. Inclusive a futebolística. Como participantes, membros da Gaviões da Fiel, torcida organizada do Corinthians, estabeleceram um elo entre os planos das ruas e a inquietude das arquibancadas. O som atravessado e enviesado de panelas e tambores que subverteu as mensagens originais do que, hoje, chamamos de Jornadas de Junho não contou com o protagonismo ou mesmo a participação sensível de torcidas organizadas, em São Paulo. Mas já havia um coração batendo ali.
Uma torcida organizada não nasce quando a ata de fundação é assinada, tampouco quando o carimbo beija o documento do CNPJ. Sendo o concreto da arquibancada um grande espaço livre e um time de futebol o encontro apaixonado com o afeto imaterial, é toda semana que a lealdade se renova nestas bases. São estes torcedores e torcedoras, no entanto, que estão intimamente ligados ao olhar enviesado policial, social e às formas radicais e marginais de comunicação. Seus instrumentos, faixas, cantos de ordem e artefatos também estão nas ruas quando manifestantes fincam o pé nelas em nome de algo. Associam, assim, do ponto de vista não só estético, mas também simbólico, o torcer semanal do futebol aos movimentos pela democracia que acompanhamos no último domingo de maio e nos primeiros deste mês. Com um diferencial: se, em 2013, as vozes se tornaram difusas e confusas, uma característica nata de um torcedor é não trocar de arquibancada, nem de lado.
A palavra é do professor Flávio de Campos, da Universidade de São Paulo. “Uma identidade clubística se colocou na Avenida Paulista [nas últimas semanas]. Grupos rivais, com identidades diversas, compartilhando o mesmo espaço e um programa político comum: a defesa da democracia e o combate ao fascismo”, disse em recente live à Revista de História do departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, do qual faz parte. “A diversidade deles, em cores e representatividade, contrasta com o agrupamento homogêneo das pessoas de amarelo pró-governo. A despeito das rivalidades, foi construída pelo futebol uma plataforma de democracia”.
Ainda que não seja por meio de seus CNPJs ou de uma palavra formal, estranho seria se não houvesse, dentro das torcidas organizadas, pessoas dispostas a responder enfaticamente os desfiles “patrióticos” associados ao governo do presidente da República Jair Bolsonaro e embandeirados de nazifascismo. Acostumados a proibições sistêmicas, grupos íntimos das arquibancadas, com diversas ramificações, desafiaram primeiramente o coronavírus e, na sequência, as diferenças clubísticas. Participar da construção de uma oposição ativa e coordenada era o jogo principal, com a bola no asfalto, prestes a ser jogado.
“‘Seu pau no cu do caralho’, ouvi enquanto caminhava pra pegar uma cerveja. Eram faíscas”
Gabriel Santoro, torcedor do Palmeiras
“Tenho dois filhos pequenos e quero que eles cresçam orgulhosos dos posicionamentos do pai. A luta contra o totalitarismo é justa e eu não abro mão dela”, afirma Gabriel Santoro, que levou um tiro de bala de borracha no peito durante o primeiro protesto na Avenida Paulista, em 31 de maio passado. Designer de 37 anos, ele é torcedor do Palmeiras, cujo movimento antifascista atende por P16. O grupo foi criado em 2014, ano de centenário do clube e, não por acaso, também de inauguração de um estádio novo, o Allianz Parque, que viria a transformar e elitizar o público regular daquela agremiação. Foi também o ano da eleição de Jair Bolsonaro como o deputado federal mais votado do Rio de Janeiro. P16 é referência à ordem no alfabeto das letras A e F – respectivamente a 1ª e a 6ª – que a caracterizam antifascista.
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“Muita gente, realmente, colou pela causa democrática”
Gabriel Santoro, 37 anos, design e antifa palmeirense que participou da manifestação a favor da democracia, em 31 de maio
“Não é verdade que o clima estava amistoso na primeira manifestação pela democracia, na Avenida Paulista. Nós, palmeirenses, sentimos a tensão. Antes de sair de casa, vesti uma jaqueta azul por cima da camisa do Palmeiras e encontrei amigos por volta de 11h, na Paulista. Caminhamos separados até o MASP e, quando lá chegamos, havia alguns corintianos. Muitos olharam torto. Pensei então que, se fomos lá para marcar posição pela democracia, era hora de encarar estes olhares. Tirei a minha jaqueta e aos poucos também mostramos outras camisas e a bandeira da P16. Ficamos mais visíveis e logo éramos por volta de 40.
Até que chegou o bonde gigantesco com uns 600 corintianos. Nem deu tempo: já vieram cobrar explicação da gente. ‘Causa única, contra governo totalitário’, respondemos. Eles entenderam, ficaram cada um na sua, mas, entre os 600, tinham muitos caras ‘de pista’, conhecidos de tretas de organizada, que ali estavam mais para pegar palmeirense do que para gritar pela democracia. Estes deixaram o clima azedo. Um membro histórico da Gaviões da Fiel até veio falar com a gente, dizer que estava tudo bem, mas sempre que andávamos éramos seguidos com olhares e provocações. ‘Seu pau no cu do caralho’, ouvi enquanto caminhava pra pegar uma cerveja. Eram faíscas. Decidimos ficar mais juntos, até porque tinha palmeirense igualmente ‘de pista’ e, quando as duas partes se identificam assim, fica tenso. O burburinho cresceu perigosamente.
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Chegou a Torcida Jovem, do Santos, e ela também sentiu uma hostilidade. Acabaram se retirando. Mas não teve nenhuma violência maior, não pegou nada. Importante dizer que, do nosso lado, não tinha polícia. Então, se rolasse uma treta, quem apanhasse ficaria por isso mesmo. Só que esse clima mudou quando o confronto com a polícia começou. O confronto rolou numa hora que já não tinha tanta gente quanto no começo. O nosso bloco estava menor e estávamos debatendo o que fazer enquanto ficávamos em menor número.
Nosso grupo se dissipou na hora das bombas. Quando vi, estava sozinho com vários corintianos ao redor, um cara da Independente e gente que aderiu ao movimento na hora, como entregador de comida e morador de rua. Nosso bloco ficou reforçado e assim acabou a tensão entre nós. Colocamos nossas energias contra a polícia. Depois disso, aí sim, o clima ficou ameno; estávamos na mesma pegada. E foi então que eu tomei um tiro. A organização era clara: estávamos em uns quinze caras na linha de frente – um deles, entregador de comida, colando com bag e tudo. Os detrás atiravam pedras e eu, na frente, me defendia com um pedaço de madeira que encontrei e improvisei como escudo.
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Do lado de lá, bombas de gás lacrimogêneo voavam na nossa direção. Uma delas caiu do meu lado e, quando tentei sair de perto dela, vacilei e me desprotegi. Foi aí que uma bala de borracha atingiu a parte baixa do meu peito. Foi um vacilo. A distância entre a gente e a polícia era pequena. O gás [lacrimogêneo] nem era mais um problema, porque depois de uns minutos a gente se acostuma com ele. O tiro me machucou, mas os problemas maiores eu enfrentei com o estilhaço de uma bomba, que feriu meu tornozelo com profundidade. Passei algumas horas no hospital, em um procedimento nesta ferida. Saí de lá à meia-noite, com pontos no cotovelo e também no tornozelo, claro.
Parte de meus amigos palmeirenses, quando estavam indo embora, foram assediados por torcedores do Corinthians, atrás do MASP. Mesmo que estivessem pela mesma causa, existia uma opressão da maioria. Estes focos existem, mas o problema mesmo é quando aparece alguém ‘de pista’. Porque este cara desperta lembranças inconciliáveis de outras tretas. Comigo quase ninguém quer nada, porque não sou de linha de organizada, mas isso não se aplica a vários que saem de casa dispostos a confrontar figurinhas carimbadas. Tem pessoas que não podem ir nestes confrontos. São associadas a outras tretas. Mas deu pra ver que muita gente, realmente, colou pela causa democrática e, já de noite, vi muita gente inspirada, querendo colar no próximo, querendo representar e tirar essa ideia errada sobre a torcida do Palmeiras. Para mim, é uma luta minha desde sempre. Tenho um pai evangélico, que é tranquilão, mas muito contra quebradeira, e filhos pequenos que eu quero que se orgulhem do meu posicionamento. A luta é justa.”
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Espaços
Os nomes dos agrupamentos antifa costumam evitar a palavra “torcida”. Para esclarecer uma preferência por não se cercarem pelas paredes que delimitam as ações de uma organizada tradicional, e, assim, não serem confundidos. É um cuidado nominal e também espacial, como define o jornalista Diogo Magri. “Há um relacionamento social abusivo das organizadas com as antifas. A discussão sobre disputa de território está posta no futebol, mas, no estádio, todos sabem onde fica cada torcida. As antifas nem querem o lugar das organizadas, mas há disputa à medida que elas ficam em locais onde há autorização para isso”, diz ele, autor de Torcidas Antifascistas no Brasil – O Futebol como Trincheira Política, estudo acadêmico defendido, ano passado, na USP. “Fora do estádio, é normal que a mesma lógica seja aplicada. É assim com o espaço físico e também com a autonomia para as ações políticas.” Não é rara a cena de núcleos antifas sendo constrangidos nos arredores dos estádios de seus clubes por praticarem ações políticas que incomodem torcidas maiores.
Durante suas pesquisas, Diogo levantou cerca de 50 coletivos ligados a clubes de futebol Brasil afora – e traçou as características principais de 12 importantes torcidas que nasceram com finalidade antifascista e cuja média de idade dos membros é 28,3 anos (veja box no fim da matéria). Se as organizadas como conhecemos começam a existir a partir da década de 1960, as antifas entram no tabuleiro mais de 40 anos depois, a partir da fundação da Ultras Resistência Coral (URC), em julho de 2005. Mais antiga do país, a torcida antifascista do Ferroviário, agremiação da capital cearense ligada às camadas mais populares do proletariado, foi um sonho concretizado por um comunista e um anarquista fanáticos pelo clube, e nasceu amparada no seguinte lema: nem guerra entre as torcidas; nem paz entre as classes.
Para a dupla fundadora, o inimigo não é o torcedor do outro time, mas as classes hegemônicas que oprimem os trabalhadores. E, mais ainda, é fundamental que os atuais quinze membros tenham um posicionamento político ligado à esquerda e, de imediato, contra o capitalismo. “Já fui impedido de entrar em estádio com uma bandeira que exibia uma foice e um martelo desenhados junto à palavra antifascismo”, diz o advogado Eric Gomes, 33 anos, que faz parte do coletivo. “Assumir para si e coletivamente o compromisso da luta contra o fascismo é assumir um risco”, completa.
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A URC se tornou referência para outros pares de arquibancada contrários ao fascismo também por adotar um discurso que pouco ecoava, naquele começo de novo milênio, e tratava de pautas identitárias. “Para além de incentivar nosso time de coração, iniciamos movimentos de discussão e reflexão contra o machismo, racismo, classismo e a LGBTfobia, questões que viriam a ganhar força somente alguns anos depois”, conta o advogado Eric. “Refletir essas complexidades do e com o operário, o trabalhador, está previsto no nosso manifesto de fundação. Isso foi inovador e trouxe essa legitimidade aos olhos das outras antifas.”
Pioneira, portanto, a Ultras também auxiliou na criação de um conglomerado maior de coletivos antifascistas de arquibancada que surgiria com força concentrada, aqui e no exterior, em junho de 2013. Foi, por exemplo, em um protesto pelas ruas do Rio de Janeiro – onde bandeiras acenavam, entre outras pautas, contra a exorbitância de dinheiro público empregado na promoção da Copa do Mundo de 2014, no Brasil, e a qualidade do transporte público – que dois cariocas se conheceram e costuraram a criação da Flamengo Antifascista. Na rua sempre há o encontro.
“Colocamos nossas energias contra a polícia. Depois disso, aí sim, o clima ficou ameno; estávamos na mesma pegada. E foi então que eu tomei um tiro”
Gabriel Santoro, torcedor do Palmeiras
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Com vários grupos antifas espalhados e estabelecidos pelo país, um período de megaeventos esportivos serviu para apimentar o debate no rebote das fraturas que 2013 causou em um Brasil fervilhante. Para Flávio de Campos, começava ali um embate muito mais do que cromático. “Um conteúdo de crítica surgiu com o contexto da Copa das Confederações, ainda em 2013, e com Copa do Mundo e Olimpíadas pela frente. As críticas justas feitas pelos movimentos sociais transformaram o futebol em causa”, afirma o historiador da USP. “Houve, então, uma dividida curiosa, com grupos que eram contrários à organização dos megaeventos. Nesse momento, formaram-se dois agrupamentos e passa a tomar corpo um à extrema-direita, mais fascista, que dá início à apropriação de símbolos nacionais”.
O coro do movimento que gritava “Não vai ter Copa” posiciona, no olhar em retrospecto, a certeza de que o movimento dos antifascistas futeboleiros pela democracia em 2020 não foi um fenômeno repentino. Enquanto a Copa das Confederações de 2013 emulava normalidade dentro dos estádios e promovia um Brasil campeão com goleada na final, fora deles os grupos progressistas mostravam que o futebol não era só um entretenimento nem tinha finalidade inegociável. Os assentos das novas arenas – ocupados por camisas amarelas enquanto bandeiras vermelhas do lado de fora defendiam até a aldeia Maracanã, atropelada pelos planos em prol do Mundial – traziam, claro, uma dramatização dos conflitos sociais. “O verde-amarelismo é acionado como elemento aglutinador do antipetismo e contra a esquerda. No segundo turno da eleição presidencial de 2014, a campanha do candidato Aécio Neves usa as redes sociais para orientar partidários a vestir a camisa amarela da seleção. Vem, então, uma onda de aecistas vestindo a amarelinha em uma lógica simbólica de apropriação daquela camisa”, lembra Flávio.
As redes sociais – notadamente o Facebook – tiveram papel de destaque também durante as Jornadas de Junho e em outros movimentos pelo mundo em termos de organização e troca de informações. E o mesmo ocorreria entre as torcidas antifascistas, que fizeram uma leitura muito pertinente dessa plataforma, como pontua o historiador Victor de Leonardo Figols, em Torcidas Antifascistas no Brasil – O Futebol como Trincheira Política. “No momento após as manifestações de 2013, percebo um crescimento desses movimentos antifascistas nas redes sociais, aglutinando-se no Facebook, onde tudo era organizado na Primavera Árabe e nas Jornadas de Junho”. Figols atualmente estuda as identidades dos clubes de futebol da Espanha e a globalização do futebol entre 1970 e 2000.
Não foram poucos os grupos de torcedores antifascistas que nasceram apenas no campo virtual, sem pretensão de ocupar os espaços físicos. Os antifascistas do Grêmio, de Porto Alegre, por exemplo, transformaram-se em torcida com militância física em 2019, quatro anos depois de passarem a existir como página do Facebook. Mais fortes, numerosos e decididos sobre a mensagem a passar, fizeram o caminho seguro e convicto para as ruas. “Nós estamos falando de rua, né?”, questiona um membro da Tribuna 77, grupo antifa de gremistas, que prefere o anonimato. “Existem movimentos com CNPJ que negociam com poderes, e existem movimentos de rua. E, também, tem a elite que frequenta a arena. Quando você entra na arena, hoje, o olhar é o mesmo de quando se entra em um mercado chique, um shopping de elite. O futebol vai continuar refletindo as desigualdades da nossa sociedade. Com um cenário tão elitizado, os espaços do futebol, hoje, são a rua, que não custa oitenta contos para entrar. As massas do futebol, hoje, só podem mesmo se reconhecer e encontrar nas ruas”.
Sendo a rua, portanto, um palco indispensável para a luta pela democracia do Brasil e também para os encontros daqueles que não pisam mais em um estádio de futebol, a união e a tolerância entre antifas de diferentes clubes é como um gol decisivo. “Surpreendeu a todos que as antifas tenham conseguido união na rua”, afirma o jornalista Diogo Magri. “Esse é o ponto principal das críticas teóricas ao movimento. Faltava força para ele se concretizar na rua, justamente porque a força estava fragmentada entre pequenos grupos clubísticos antifas. Era um nicho que não se encontrava nunca. Mas sempre teve potencial para algo maior, desde que se juntassem.”
“Um conteúdo de crítica surgiu com o contexto da Copa das Confederações, ainda em 2013, e com Copa do Mundo e Olimpíadas pela frente. As críticas justas feitas pelos movimentos sociais transformaram o futebol em causa”
Flávio de Campos, historiador
Espalhados
Em Fortaleza, John (seu nome verdadeiro foi preservado pela reportagem) partiu para a manifestação por volta das 14h, no domingo, 7, assim que estiou a chuva. O trajeto tinha a Praça Portugal como ponto da partida e descia a Avenida Desembargador Moreira, onde houve confronto entre policiais militares e representantes de torcidas e participantes de movimentos sociais, até chegar à praia de Iracema. Oito integrantes da Ultras foram às ruas apesar de um decreto que proibia aglomerações no Ceará.
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Aos 23 anos, John, que já havia participado do primeiro festival hardcore contra o fascismo na capital cearense, em 2018, deixou sua casa e seguiu, com uma faixa antifa na mochila, para o protesto. Ele, que junto de um colega e uma amiga foi de ônibus ao encontro dos manifestantes, relata que, já nos terminais, o clima de repressão era grande. “Policiais filmavam quem chegasse vestindo preto. O aparato deles era de guerra. Estiveram lá gente do [Batalhão] Raio [considerado a tropa de elite da PM do estado], o [Batalhão de Polícia de] Choque, Cavalaria da PM, Canil [da PM], PRE [Polícia Rodoviária Estadual] e Cotam [Comando Tático Motorizado]”, enumera.
“Uma hora depois de ficarmos com o rosto virado para a parede e ouvirmos uma manifestante chegar algemada e reclamando da forma como foi conduzida até ali, fomos liberados”
John, integrante da Ultras
Assim que chegaram à Praça Portugal, John e seus amigos foram revistados e encaminhados à delegacia por burlar o decreto e portar faixas com símbolos antifascistas e que faziam alusão à anarquia. “Uma hora depois de ficarmos com o rosto virado para a parede e ouvirmos uma manifestante chegar algemada e reclamando da forma como foi conduzida até ali, fomos liberados. Devolveram nossas bolsas, mas sem dois moletons, a faixa, a bandeira, duas bandanas, uma camisa e a garrafa de água que ali estavam”, conta. “Pegaram tudo! Quando questionamos esse procedimento, fomos intimidados e disseram para a gente ir logo embora dali.”
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Nas ruas da capital gaúcha que receberam um Grenal pacífico e brioso nos últimos domingos, outras duas pautas foram percebidas com ênfase. Uma delas, o racismo, como conta o membro da Tribuna 77: “Essa pauta estava muito presente no Rio Grande do Sul. Sofremos com o estigma, mas Porto Alegre é uma capital negra. Clubes populares representam isso e não aqueles estádios cheios de brancos com ingressos caros. Na nossa vida de estádio, sabemos que os brancos têm privilégios até ali”.
Outro fato que deixou as antifas com a faca entre os dentes aconteceu em 19 de abril, data de uma manifestação pró-Bolsonaro, em Porto Alegre. Naquele ato, homens vestidos de amarelo agrediram covardemente uma mulher que vestia vermelho. Depois de a identidade dos agressores ser revelada, descobriu-se que um deles era associado a uma torcida organizada. Logo, então, surgiram as manchetes e os consequentes comentários associando torcidas e violência. “Foi ali que, para nós, teve início o movimento no Rio Grande do Sul. Aquela agressão foi um golpe na democracia e a vincularam indevidamente a torcedores.”
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Média de idade aproximada nas torcidas antifas
Para a pesquisa acadêmica Torcidas Antifascistas no Brasil: o futebol como trincheira polícia, o jornalista Diogo Magri traçou, em 2019, as características principais de 12 importantes torcidas que nasceram com finalidade antifascista. Por meio dela, é possível compreender a média de idade de seus participantes ativos.
Nem só de homens faz-se a luta contra o fascismo (claro). Leia a segunda parte da reportagem aqui.