
uando a designer de moda Lívia* decidiu voltar para São Paulo depois de se formar na faculdade, imaginou que sua renda e independência financeira viriam de algum emprego relacionado à área. Entretanto, a chegada da pandemia acabou significando que a empresa onde ela trabalhava precisasse cortar gastos e, assim, a jovem de 22 anos foi demitida. Sem renda e com contas para pagar, Lívia descobriu uma maneira de ganhar dinheiro sem sair de casa. “Vi uma publicação num grupo de Facebook sobre renda extra e lá tinha o comentário de uma garota que ganhava para fazer ligações em vídeo com estrangeiros. Ela postou uma foto do comprovante de pagamento e o valor chegava a quase R$1.600 por semana. Foi aí que decidi falar com ela”, conta.

Depois de conversar com a garota, Lívia descobriu que as chamadas de vídeo com estrangeiros se tratavam de uma prática bastante conhecida aqui no Brasil. Ser camgirl – ou “garota de webcam”, em português –, significa dedicar parte do seu tempo em frente a uma câmera, muitas vezes se exibindo de maneira sexual ou apenas conversando com outras pessoas dispostas a pagar pelo seu tempo. Ela entrou no LivU, aplicativo recomendado para pessoas maiores de 18 anos em que você conversa e fala com pessoas novas por vídeo, no início de dezembro de 2020.
Funciona da seguinte forma: a cam girl conversa com estrangeiros e ganha dinheiro a partir do tempo de chamada, ou seja, quanto mais tempo batendo papo, mais grana você ganha. Além disso, os clientes também podem presentear as modelos com ‘moedas’, que são convertidas em pagamento no fim da semana.

O pagamento é feito em dólares e convertido automaticamente em reais a partir de uma conta feita num banco internacional. Os dados dessa conta bancária ficam sob sigilo do aplicativo e as camgirls são orientadas a nunca passarem esses dados para seus clientes. Uma quantia parcial do dinheiro produzido no LivU fica com os responsáveis pela plataforma, como uma taxa de administração, e o restante é disponibilizado para a modelo, que pode sacar a quantia semanalmente se atingir a meta de 20 mil moedas. Para conquistar esse número, é preciso receber presentes dos clientes e ter muito tempo de chamadas efetuadas. Quem está melhor no ranking, recebe com mais facilidade
Em relação às conversas vivenciadas dentro da plataforma, a jovem relata que é sempre uma caixinha de surpresas. “Tem muito cara lá que está bem solitário por conta da pandemia e só quer conversar, saber como está o lockdown no meu país e fazer amizade. Outros são mais objetivos e logo pedem para me ver pelada ou realizar algum fetiche. Elogios não faltam, mas pessoas escrotas também não. Pode ser um ambiente bem tóxico se você não estiver bem emocionalmente”, conta a designer de moda.
“Tem muito cara lá que está bem solitário por conta da pandemia e só quer conversar. Outros são mais objetivos e logo pedem para me ver pelada ou realizar algum fetiche. Elogios não faltam, mas pessoas escrotas também não. Pode ser um ambiente bem tóxico se você não estiver bem emocionalmente”
Lívia*, cam girl