o último dia 17 de agosto, São Paulo ganhou uma nova galeria de arte. Trata-se do Estúdio 41, totalmente dedicado à fotografia, localizado no bairro do Itaim Bibi. Para sua estreia, o espaço convidou Dani Tranchesi para exibir as fotos de seu novo livro, chamado 3 é 5, um trabalho que ela realizou em feiras paulistanas entre os meses de junho e dezembro de 2020, quando a covid-19 avançava com força total no país.
São fotos densas, que retratam o que está além da nossa visão quando vamos às feiras. Se normalmente nossos olhos miram para baixo, na altura das barracas, enquanto escolhemos os produtos, Dani focou suas lentes um pouco mais acima, em quem faz acontecer, que nos abastece com alimentos de qualidade mesmo com um vírus mortal rondando à nossa volta.
Junto com esse trabalho fotográfico de registro documental, Dani também montou um estúdio móvel com um fundo trabalhado para fotografar alguns feirantes. Além disso, levou o cineasta Pedro Castelo Branco para registrar o movimento tão tradicional e gostoso das feiras. Nós conversamos com a fotógrafa sobre a seu livro “3 é 5”. Confira:
Você decidiu ir às ruas durante o momento inicial da escalada da covid para fotografar as feiras paulistanas. O que fez desse o momento perfeito para realizar “3 é 5”?
Eu pretendia viajar pelo Brasil em 2020 trabalhando num projeto de arte e religiosidade. Tinham várias festas populares para fotografar. Com a pandemia bateu o desespero do que fazer. Descobri que as feiras não tinham parado e, como sempre amei a alegria e confusão das feiras e mercados, achei que ia dar um bom projeto.
O livro tem imagens profundas, borradas, enevoadas, um retrato denso de um ambiente que geralmente tem ares coloridos e quase mágicos. Por que retratar a feira através desses detalhes de pessoas passando, pixos nos muros, trabalhadores desamparados que não desistem de levar comida de qualidade para a população?
Eu não queria retratar a feira da forma como as pessoas estão acostumadas a ver, através das frutas e verduras, e sim através dos seus protagonistas, de quem faz aquilo acontecer todos os dias independente do clima, da pandemia ou de qualquer outra dificuldade. A minha fotografia tem uma preocupação com o humano. E a feira é isso, é resistência.
“Eu não queria retratar a feira da forma como as pessoas estão acostumadas a ver, através das frutas e verduras, e sim através dos seus protagonistas, de quem faz aquilo acontecer todos os dias independente do clima, da pandemia ou de qualquer outra dificuldade”
Você levou alguns feirantes para fotografá-los também em estúdio. O que significa humanizar aquelas pessoas que visitamos semanalmente, o peixeiro, o fruteiro, a moça dos temperos, o senhor que vende miúdos?
Na verdade eu levei o estúdio até eles. Montei um estúdio ambulante na calçada ao lado da feira, uma coisa bem mambembe. Quando eles tinham um tempinho entre um cliente e outro vinham me ver e tirávamos os retratos. Foi incrível porque, nessa altura do processo, já conhecia muito bem todos eles, sabia um pouco das histórias de cada um, afinal durante uns 5 meses encontrei com eles toda semana.
Qual seu ritual particular quando vai à feira? Acorda cedo? Faz uma lista de compras ou se deixa levar pelas ofertas? O que te fascina e te motiva nessa experiência tão particular?
O que me motiva é a relação com as pessoas da feira, é saber que posso comprar naquela barraca, que sei a qualidade, sei que se não ficar satisfeita na semana que vem posso conversar sobre o assunto com o dono da barraca. Adoro a conversa, a troca de informações, coisa que você não tem no supermercado e muito menos nas vendas online. Fora que é um programa ao ar livre, com um apelo visual incomparável.
O que não falta no seu carrinho de feira, e o que é muito melhor comprar na feira do que em lojas?
No meu carrinho nunca falta massa de pastel nem frutas de época.
3 é 5 from DANIEL KFOURI on Vimeo.