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Monja Coen e a busca do equilíbrio

“O despertar da consciência é o que vai nos dar melhor bem-estar”, diz a fundadora da Comunidade Zen Budista Zen do Brasil sobre mudanças, pandemia e saúde

por Helena Galante, da Boa Forma Atualizado em 18 Maio 2021, 23h56 - Publicado em 18 Maio 2021 23h43
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(Clube Lambada/Ilustração)

ncontrar e manter o equilíbrio tem sido um desafio para você ultimamente? Aos 73 anos, Monja Coen também sentiu os efeitos da pandemia – mas tem ensinamentos valiosos para compartilhar e nos ajudar a passar por esse momento tão complicado. “No começo do ano passado fui tão solicitada, fiquei tanto tempo em frente às telas, que tive que usar óculos escuros de noite. A gente quer atender todo mundo, mas tem que aprender a dizer não, entender qual é o limite”, ela conta nesta entrevista exclusiva para a Boa Forma.

No último ano, ela passou por uma cirurgia, teve que parar com a rotina de atividades físicas, sentiu o peso do corpo aumentar, achou brechas para retomar as aulas de pilates e yoga. Ainda que a sucessão de acontecimentos sugira uma montanha-russa emocional, a Monja Coen manteve a serenidade e a disposição para cuidar de si e de quem precisasse. “Minha tarefa como monja zen budista é provocar as pessoas a despertar, sentir prazer na existência, viver uma vida agradável e saudável para você e para todos.”

Na entrevista, ela compartilha como sentar-se em zen é vital para perceber suas necessidades verdadeiras e voltar para o eixo de equilíbrio. Com 2,5 milhões de seguidores no Instagram e 1,7 milhão de inscritos no seu canal no YouTube, a budista mais pop do Brasil nos ensina o caminho para sentir-se bem: “Contentamento é um dos vetores do bem-estar, é estar contente com você, do jeito que você é”.

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(intervenção sobre imagem / Dai Hannya/Fotografia)

Vida no Templo

É de seu escritório com uma estante repleta de livros, computador da Apple, tripé para o celular e iluminação para vídeos que a Monja Coen tem feito a maioria de suas conversas com os seguidores da comunidade budista e de diferentes religiões. As lives, que dispararam em número desde o início da quarentena, em março do ano passado, e todas as palestras e entrevistas chegaram a causar efeito nas suas cordas vocais. Foi uma aluna, fonoaudióloga, que percebeu e encaminhou exercícios de voz para amenizar o problema.

No Templo Taikozan Tenzuizenji, sede da Comunidade Zendo Brasil instalada no Pacaembu, em São Paulo (SP), todas as manhãs da Monja Coen são preenchidas por meditação e momentos de prece. “Rezo por todas as pessoas que sofreram e depois rezo para os vivos, para que os governantes possam ter um pensamento coletivo”, conta. Depois do momento litúrgico, a rotina não é tão diferente da de muitos brasileiros que passaram a trabalhar em esquema de home office: limpar a casa, dar comida para o cachorro, abrir o computador, responder e-mails… E escrever livros, muitos livros. Tempo de Cura – Como Podemos nos Tornar Seres Completos, Firmes e Fortes, lançado em abril pelo selo Academia, da Editora Planeta, é um dos mais recentes. Na capa, a cabeça da estátua de Davi, de Michelangelo, aparece usando uma máscara vermelha. Em tempo: a Monja Coen já tomou as duas doses da vacina da covid-19 e segue usando máscara sempre que necessário.

“Olhar para as pessoas é estimulante. Minhas palestras são dinâmicas, têm a ver com o momento, com o que as pessoas estão falando. Nesse sentido, esse formato é um esforço maior. Não peguei trânsito, não tive que ir ao aeroporto, estou em casa, em certo conforto. Mas há o desconforto de não estar interagindo, sentimos muita falta disso”

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Seu programa na rádio Mundial (FM 95,7 e AM 660), antes gravado no estúdio, agora também é feito de casa. Muito requisitada para palestras para funcionários de empresas e estudantes, ela sente falta do contato mais próximo com os espectadores. “Faço palestras para 6000 pessoas, 1000 pessoas, 500 pessoas. De repente, porém, faço uma palestra pelo computador em que só vejo a mim mesma”, lamenta. “Olhar para as pessoas é estimulante. Minhas palestras são dinâmicas, têm a ver com o momento, com o que as pessoas estão falando. Nesse sentido, esse formato é um esforço maior. Não peguei trânsito, não tive que ir ao aeroporto, estou em casa, em certo conforto. Mas há o desconforto de não estar interagindo, sentimos muita falta disso.”

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O corpo, a mente e o tempo

Batizada como Cláudia Dias Baptista de Souza quando nasceu, em junho de 1947, a Monja recebeu de seu professor seu novo nome em janeiro de 1983. “Coen”, que em japonês significa “um só círculo”, foi inspirado num poema da China antiga. “Ele dizia: a luz faz com que todas as formas se manifestem. Quando luz e forma são transcendidos, o que é?”, conta ela. É em busca do reconhecimento da completude que ela realiza cerimônias, orienta práticas de meditação e busca manejar seu tempo, inclusive em frente às telas.

“Há coisas que a gente não se dá conta. A gente cansa da luz da tela. Aliás, sempre diminuo o brilho da tela, senão, para o corpo, sempre é a luz do amanhecer. O cérebro fica exausto.” Difícil não se identificar, não é?

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(intervenção sobre imagem / Dai Hannya/Fotografia)
Ao assumir o compromisso de escrever muitos livros, acabou deixando o autocuidado um pouco mais de lado. “Engordei muito, comecei a sentir dor no joelho, nas costas. No fim do ano passado falei que assim não dava! Recomecei a fazer yoga, pilates, e percebi mudanças”, constata. Sem perder o bom humor, a Monja Coen continua: “O joelho, que chegava no nariz, agora não chega mais, porque tem uma barriga no meio do caminho. Pensei: ‘que corpo é esse que não reconheço?’. Mas é o meu corpo agora. Demanda paciência para recomeçar, para voltar, ser saudável. Muitos estão assim agora, talvez percebendo que tenham esquecido de treinar a mente também.”

“O joelho, que chegava no nariz, agora não chega mais, porque tem uma barriga no meio do caminho. Pensei: ‘que corpo é esse que não reconheço?’. Mas é o meu corpo agora. Demanda paciência para recomeçar, para voltar, ser saudável. Muitos estão assim agora, talvez percebendo que tenham esquecido de treinar a mente também.”

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Foi de sua professora de yoga que a Monja Coen ouviu uma importante lição de autocompaixão e não-violência: “Ela me dizia: ‘não reclame do seu corpo, não desgoste de você. Não seja violenta com seu corpo, veja o que seu corpo pode fazer, mas também não seja limitada pelo seu limite”. O entendimento das possibilidades de cada momento passa pelo processo de autoconhecimento, de se perceber em constante transformação. “Cada corpo responde de um jeito diferente. Temos que nos conhecer a cada momento. Eu não sou a mesma de quando acordei.” A mesma mentalidade aberta vale para a hora de escolher o que comer: “Alimentação saudável não é a mesma para todo mundo. Não significa que todo mundo vai virar vegano ou todo mundo vai comer de tudo. É comer o que é adequado para cada circunstância”.

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Juventude, beleza e uma cirurgia de urgência

Os efeitos da passagem do tempo são percebidos com leveza pela Monja Coen – mesmo quando os resultados não são agradáveis. “Quando tinha 20 anos, gostava de ir à praia e ficar deitada tomando sol por horas. Hoje, comecei a ter carcinomas, os abusos trazem resultados depois dos 60, a pele fica sensível”, conta a Monja. “Não podemos nos forçar a ser adolescentes com 50, 60 anos de idade.” Aprender a pensar nas consequências futuras é uma habilidade importante não só para os cuidados pessoais, mas também para os cuidados com todo o planeta. “O que nós fazemos, falamos, pensamos, mexe na trama da existência. Por isso, podemos tomar atitudes que sejam as melhores para as gerações futuras, para os netos dos meus netos. Podemos desenvolver a capacidade de dialogar para que a vida aqui seja menos agressiva e mais compreensiva.”

“O que nós fazemos, falamos, pensamos, mexe na trama da existência. Por isso, podemos tomar atitudes que sejam as melhores para as gerações futuras, para os netos dos meus netos. Podemos desenvolver a capacidade de dialogar para que a vida aqui seja menos agressiva e mais compreensiva”

Na esfera pessoal, lidou com um susto recentemente. “Tive que fazer uma cirurgia por conta de uma apendicite aguda, tive que correr para o hospital. Por sorte, foi antes do pânico de não termos leito disponível. Na consulta com os médicos, usei máscara, óculos, face shield, luvas, avental. O pessoal achou que era uma médica. Encontrei outro senhor que estava assim e concordamos: melhor se precaver do que remediar. Quando se é jovem, se é mais atirado: ‘se eu ficar doente, eu me curo’. Não é assim para esse serzinho se reproduzindo”, afirmou, sobre o coronavírus.

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Para ajudar quem está no início da prática de meditação, todos os domingos, às 11h, na página no Facebook da Zendo Brasil, há uma prática de zazen de iniciantes. “Sentar-se em zen é importante para perceber suas necessidades verdadeiras e voltar para o eixo de equilíbrio”, afirma Monja Coen. No domingo, 2 de maio, Genzo (André Spinola e Castro do Tenzui, autor das fotos desta reportagem) conduziu a prática e lembrou: “Zen não é o que a gente ouve ou o que a gente fala ou o que a gente lê. Isso indica o caminho, mas não é o zen”.

“Para qualquer caminho de autoconhecimento, qualquer prática espiritual, as nossas motivações para começar partem de uma não-aceitação, de uma infelicidade ou insatisfação. Mas é muito importante nós nos aceitarmos como somos. Por mais que você faça zazen, por mais que você tenha facilidade de atingir samadhi, iluminação, por mais que tenha experiência profunda e transformadora, você se transforma em você mesmo. O que muda é o olhar”, ensinou Genzo.

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Contentamento com a existência

Entre a inconformidade com o que precisa ser mudado e a aceitação de tudo o que é, onde fica o ponto de equilíbrio? “Precisamos desenvolver um estado de contentamento com a existência, bem-estar físico, mental e social”, ensina Monja Coen. Como perceber, na prática, essa ausência do contentamento? A Monja Coen traz um exemplo: “A pessoa que está sempre descontente, reclamando, que mesmo em ótima forma física queria estar igual a modelo, ela tem uma insuficiência.”

“Contentamento é um dos vetores do bem-estar, é estar contente com você, do jeito que você é.”

É essa habilidade de traduzir sabedoria profunda em situações facilmente identificáveis que aproxima Monja Coen do seu público. “Contentamento é um dos vetores do bem-estar, é estar contente com você, do jeito que você é.” Como monja zen budista, sua determinação é provocar as pessoas a despertar, sentir prazer na existência, viver uma vida agradável e saudável para você e para todos. Existe maneira melhor de viver em boa forma? “O despertar da consciência é o que vai nos dar o melhor bem-estar.”

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