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De volta ao armário

A violência familiar afeta o dia a dia, o psicológico e reprime a identidade e a sexualidade de pessoas LGBTQI+ trancadas em casa durante a quarentena

por Heloisa Aun Atualizado em 23 jul 2020, 10h13 - Publicado em 22 jul 2020 09h55
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(Clube Lambada/Ilustração)

om o início da pandemia e o consequente desemprego, o estudante Marcelo* se viu sem qualquer possibilidade de pagar as contas de seu apartamento e teve de voltar a morar na residência do avô, no ABC paulista, onde divide o espaço com mais 10 familiares, entre irmãos, tios e primos. Retornar a esse lugar representou, também, a manifestação da violência que sentiu na pele, quando, aos 15 anos de idade, foi expulso de casa após descobrirem que ele é gay. As feridas do passado, que estavam em processo de cicatrização, se fizeram presentes mais uma vez, mas em isolamento social. “Estou dolorosamente me trancando de volta no armário”, relata.

O rapaz, que até a quarentena trabalhava na área de vendas, foi abandonado ainda na infância pelos pais. Cresceu com o avô e a tia em um ambiente religioso e completamente homofóbico. Ao ser obrigado a construir a vida sozinho na adolescência, Marcelo contou com a ajuda de amigos e do menino com quem estava namorado naquele período. Após anos, voltou a ter contato com a família, mas sem falar abertamente sobre sua orientação sexual e a vida pessoal.

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(Phil Hearing/Unsplash)

Agora, a crise do novo coronavírus e o cotidiano ao lado de seus parentes trouxe à tona uma série de preconceitos e humilhações. “Um tio me proibiu de chegar perto ou brincar com seus filhos, por eu ser gay, e, quando contei o que havia acontecido para minha tia, a resposta foi que ela iria orar para esse ‘mal’ sair de meu corpo”, diz. No mesmo dia em que conversou com a Elástica, havia escutado no café da manhã que “a pior raça do mundo é a dos gays”. “Todos me olharam, esperando uma resposta, mas eu me calei. Eles sabem que tenho que me calar se eu quiser ter um lugar para ficar”, conta.

Segundo o estudante, a parte mais desgastante de estar isolado em casa com a família é ter que reprimir a maneira como ele se expressa e censurar qualquer assunto que envolva a comunidade LGBTQI+. Apesar de não ter apoio psicológico, Marcelo conta com uma rede de ajuda de seus irmãos e dos amigos mais próximos, mesmo à distância. “Assim como essa rede foi importante ao me assumir gay há alguns anos, nós precisamos ainda mais de auxílio em meio à pandemia”, reflete. “Atualmente, eu resisto em silêncio, mas também talvez essa seja uma forma de ter orgulho de quem sou. Eu vou me reconstruir.”

“Um tio me proibiu de chegar perto ou brincar com seus filhos, por eu ser gay, e, quando contei o que havia acontecido para minha tia, a resposta foi que ela iria orar para esse ‘mal’ sair de meu corpo”

Marcelo*
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A história de Marcelo tem inúmeros pontos em comum com o que muitos LGBTQI+ vivem na quarentena ao lado de suas famílias. Uma pesquisa online realizada entre os dias 28 de abril e 15 de maio pelo coletivo #VoteLGBT, com a participação de pesquisadores da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), consultou cerca de 10 mil pessoas em todos os estados e no Distrito Federal e reiterou que esse grupo apresenta os mais elevados índices de problemas de saúde mental e ausência de renda, se comparado ao restante da população. Além disso, 10% dos participantes do levantamento pontuaram que a maior dificuldade enfrentada é a tensão no convívio familiar durante a pandemia.

O psicólogo Hamilton Kida, criador da plataforma Rainbow Psicologia LGBT, explica que o momento de agora é bastante complexo, pois a dependência financeira da família também acarreta uma dependência emocional. “Quando a pessoa volta a depender dos parentes, ela se vê à mercê dessas relações. Isso acontece com qualquer um que tenha que viver com os pais novamente. Ao envolver a questão da sexualidade e do gênero, tudo isso se agrava por causa do preconceito e do julgamento. O que a gente precisa tentar buscar é o apoio de uma rede de fora desse círculo mais próximo, com amigos ou outros familiares”, conclui.

A Rainbow, fundada em 2018, é um coletivo de psicólogos comprometidos a atender o público LGBTQI+, sem qualquer julgamento ou preconceito. A ideia da plataforma é ser um campo seguro onde essa comunidade sabe que pode procurar ajuda. Mais de mil pessoas já foram atendidas por cerca de 120 profissionais cadastrados e na pandemia o número só cresceu, com consultas online para o Brasil inteiro. Se você precisa de apoio ou conhece alguém que esteja nessa situação, vale procurar a Rainbow.

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(Igor Starkov/Unsplash)

“Não respeitam nosso nome e identidade”

Se a situação é crítica para homens gays e mulheres lésbicas, pessoas que pertencem a outras letras da sigla enfrentam questões ainda maiores. Travestis, mulheres e homens trans e pessoas não-binárias já estavam entre os grupos mais vulneráveis, e a pandemia só intensificou essa problemática. Casos de transfobia aumentaram, o desemprego, que já era enorme, também explodiu, além da violência familiar, que faz com que muitas pessoas vivam desamparadas e sem qualquer renda.

É o caso de André*, de 19 anos, que não começou a transição de gênero, pois ainda depende financeiramente dos pais, embora tenha se descoberto como homem trans aos 14. Desde 20 de março, o jovem passa 24 horas por dia na casa da família, em Recife, Pernambuco. Os dias de isolamento são marcados por agressões verbais, já que a mãe e o pai ainda o chamam pelo nome de registro e não reconhecem sua identidade. “Eu não contei a eles formalmente até agora. Porém, toda vez que escuto algum comentário preconceituoso, fico me sentindo horrível por dentro”, continua.

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(Henry Be/Unsplash)

Enquanto espera o fim deste período para procurar emprego e morar com uma amiga, o rapaz sente as humilhações diárias por parte dos próprios pais. “Chegaram a vir no meu quarto e falar que estou acabando comigo mesmo, que meninas não podem se vestir como homem ou ter cabelo raspado, que preciso de tratamento, que sou feio e que não tenho ‘tal coisa’ entre as pernas”, afirma o recifense. Como apoio, ele conta apenas com amigos e de forma virtual. “Espero que isso acabe o mais breve possível. Eu não aguento mais.”

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Carolina*, mulher trans de 19 anos, também enfrenta, em meio à pandemia, a luta por ser respeitada e reconhecida pela família de acordo com o gênero o qual se identifica. Desempregada, a escritora e estudante de Letras vive com os parentes em Belém do Pará, na casa onde iniciou a quarentena há mais de 100 dias. A conversa com os pais sobre sua transgeneridade ocorreu há pouco tempo, na mesma época em que pegou sarampo, e nada mudou. “Aliviou o peso em cima de mim, mas não ouço meu nome verdadeiro e nem os pronomes corretos por parte deles. Desde então, sinto que sou uma fraude comigo mesma”, reflete.

“Não ouço meu nome verdadeiro e nem os pronomes corretos por parte deles. Desde então, sinto que sou uma fraude comigo mesma”

Carolina*

O sentimento, para ela e tantas pessoas trans, vai além de apenas um nome, e sim, faz parte de um processo de reconhecimento. “Não ser tratada no feminino e receber olhares tortos tentando me ‘corrigir’ é uma experiência traumática”, acrescenta a jovem, que, devido à crise da covid-19, teve que deixar de lado o início do tratamento hormonal, seu maior sonho. Nos últimos dias, o que de mais marcante aconteceu, trazendo um pouco de esperança, é o fato de sua mãe ter falado com as amigas sobre a filha, mesmo que ainda seja tratada como “constrangimento”. Carolina se mantém firme graças ao apoio de amigos, uma prima, colegas da faculdade e até alguns frequentadores da igreja, que a auxiliaram para tratar as crises de ansiedade. “É como se eu fosse uma pessoa fora de casa e outra aqui dentro. Isso me magoa todos os dias”, finaliza.

Como comenta o psicólogo Hamilton Kida, o desrespeito ao nome social é uma das principais violências que as pessoas trans atendidas por ele estão enfrentando na quarentena. “Nós falamos muito sobre violência física, mas a psicológica pode ser ainda mais devastadora em alguns casos. Muitos que estavam na fase de transição, incluindo o nome e a forma como se expressam para o mundo, tiveram que conviver com familiares opressores. E essa invisibilidade é cruel, pois significa ter a própria identidade negada”, analisa.

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(Michael Dziedzic/Unsplash)

“Me reprimem e me fazem voltar para dentro”

Antes da pandemia, Corin Ipiranga passava a maior parte de seus dias fora da casa em que vive com a família, em Belém do Pará. Saía logo às 5h30 da manhã para ir à faculdade, depois participava de reuniões do coletivo que atua, fazia curso de inglês ou rodava a cidade para comprar materiais necessários para sua lojinha de bordado e pintura. Tudo isso era necessário para evitar ao máximo ficar com os pais e escutar comentários preconceituosos e ofensivos. Agora, não há mais essa possibilidade, ao menos por enquanto. Estudante de psicologia, Corin assumiu ser trans não-binárie (ou genderqueer) e os planos de se mudar para outro lugar foram por água abaixo. “Não quero deixar a minha depressão tomar conta de mim, então tento me segurar porque sei que vai dar certo”, deseja, emocionada.

Suas crises de depressão têm sido controladas por causa do apoio do irmão mais novo. “Ele entende meu gênero, usa o nome social, os pronomes neutros e tudo mais. É um cara incrível, que tenho orgulho de ver que fui eu quem criei, pois crescemos juntos”, relata. Toda vez que os pais falam algo transfóbico, como, por exemplo, que Corin é uma “pessoa depravada”, o rapaz defende a irmã com todas as forças. “Se não fosse ele, já teria desistido de lutar por quem eu sou, pela minha identidade. Às vezes, parece que aceitar aquela situação é melhor do que batalhar contra ela”, declara.

“Meus pais jogam na minha cara que o momento em que eu assumi ser pansexual e trans não-binárie foi o mais triste da vida deles. E é muito doloroso, pois foi justamente quando me senti confortável e livre para falar quem eu sou”

Corin Ipiranga

Os pais, por sua vez, sabem que Corin não se considera mulher, mesmo tendo um corpo que a sociedade determina como feminino, mas não aceitam sua identidade não-binárie e ainda se abstêm, com desculpas como: “estamos velhos, esperamos que você respeite”. Na contramão do que seria ideal, ambos fazem questão de usar seu nome de batismo e pronomes femininos, o que é uma agressão verbal cotidiana. “Para eles, era melhor eu não ter falado nada. Meus pais são LGBTfóbicos, machistas e racistas, por isso é muito difícil uma pessoa que está lutando contra isso viver ao lado deles”, completa. Outro ponto de embate entre a família é o fato de a “filha” não seguir as práticas religiosas impostas por eles.

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“Meus pais jogam na minha cara que o momento em que eu assumi ser pansexual e trans não-binárie foi o mais triste da vida deles. E é muito doloroso, pois foi justamente quando me senti confortável e livre para falar quem eu sou. Mas não: eles me reprimem e me fazem voltar para dentro”, diz. As situações e comentários violentos têm se mostrado tão difíceis que há dias em que Corin prefere passar o tempo inteiro dormindo ou vendo séries no quarto. Em outros, tenta se animar e fazer coisas que gosta, como bordar, pintar e dançar. “A arte foi uma das formas que encontrei também de expressar meus sentimentos, desde criança”, reitera.

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(Nine Kopfer/Unsplash)

Há alguns anos, Corin percorreu um processo interno e externo de reflexões e novas descobertas. Em 2018, ao acompanhar de perto a transição de um homem trans, começou a ler a respeito e chegou a se identificar da mesma forma. “Iniciei algumas mudanças e usei binder, o que foi uma tortura no meu caso. Só que eu não me sentia 100% complete. Logo nesta fase, assisti a alguns vídeos no YouTube sobre uma pessoa não-binárie e passei a pesquisar mais. Percebi, então, quem eu sou e a sensação foi de ‘ok, aqui é meu lugar’”, lembra. “Hoje, digo com toda certeza do mundo que sou genderqueer e me sinto muito feliz com isso”, continua.

Apesar da represália familiar, o processo de aceitação foi possível a partir da rede de apoio dos amigos, de sua futura namorada, do irmão mais novo e da irmã mais velha. Em relação ao outros dois irmãos de Corin, um é completamente LGBTfóbico e a outra não tem mais contato. “Mesmo com todas dificuldades e o isolamento social de agora, consigo enxergar que sou uma pessoa feliz e completa porque me encontrei no meu gênero. Sempre lembro disso para ter forças e continuar lutando para ajudar mais pessoas. A gente tem que aprender a respeitar as diferenças”, ressalta.

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(Joseph VM/Unsplash)

“Ela disse que jamais assumiria uma filha assim”

Marina* nasceu com Síndrome de Asperger, um estado do espectro autista, e se reconhece como lésbica desde que se entende por gente. Formada há dois anos como assistente social, nunca teve emprego fixo e trabalhava como diarista ou coletando material reciclável. Na época da escola, sofria bullying por ser diferente dos colegas e não gostar das mesmas coisas que a maioria das meninas de sua idade. Em casa, a situação nunca foi melhor: a partir do momento em que se assumiu para a família, aos 21 anos, passou a ser vítima de palavras pejorativas recorrentes e nunca recebeu apoio.

Atualmente, ela mora com a mãe e um sobrinho que tem autismo em um bairro periférico de Guarulhos. “Considero ele como filho. É o motivo pelo qual estou vivendo, e quero ser melhor a cada dia”, declara. “Quando a pessoa é LGBT, desprovida de beleza física e vida social, aprende a ter como a melhor companhia ela mesma. Eu, nesses 35 anos de vida, aprendi a gostar de mim e a me aceitar.”

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(Gerrie Van Der Walt/Unsplash)

As violências psicológicas a afetaram tanto que, até hoje, Marina nunca namorou e não se sente confortável em ter qualquer relacionamento, além de duas pessoas com quem mantém algum vínculo social. “Uma vez, minha mãe falou que só não me jogava para fora de casa porque até para ser moradora de rua eu teria de ter qualificação. Se tivesse tido o apoio da minha família e oportunidades, hoje eu teria o meu espaço e talvez um emprego”, reflete.

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Como se pode imaginar, o isolamento social junto de alguém que não a aceita transformou-se em algo “assustador”, como ela mesma descreve. “Não tem como procurar trabalho e fazer distanciamento em um imóvel de três cômodos, com uma idosa e uma criança que me pede beijo de 30 em 30 minutos. Todas as faxinas que eu tinha foram canceladas, em maio dois patrões me deixaram cesta básica, e é isso o que temos.”

“Quando a pessoa é LGBT, desprovida de beleza física e vida social, aprende a ter como a melhor companhia ela mesma. Eu, nesses 35 anos de vida, aprendi a gostar de mim e a me aceitar”

Marina*

O fato de não contribuir financeiramente em casa dificulta ainda mais a relação com a mãe, pois a assistente social não tem liberdade nem para assistir a algum programa na televisão até mais tarde. “Ela fala que a conta de luz vai vir alta e que não sou eu quem vou pagar”, afirma. Para além deste tipo de comentário, a lesbofobia ocorre de modo frequente e devastador. “Qualquer pauta de LGBT que aparece no jornal, minha mãe fala que pessoas assim estão tomadas por um espírito de prostituição. E que essa pandemia existiu para punir a promiscuidade dos LGBTs”, completa. Marina conta que chegou a ouvir da mãe, durante a quarentena, que “o mundo pode estar cheio de gente anormal”, mas ela “jamais assumiria uma filha assim”.

Desde os 21 anos, quando descobriu sua sexualidade, Marina passou a fazer acompanhamento psicológico em uma Unidade Básica de Saúde (UBS) perto de onde mora, além de ser atendida semestralmente pela psiquiatria porque faz uso de antidepressivos. Com a covid-19, os serviços foram suspensos e ela ficou desamparada. Foi então que conheceu a Rainbow Psicologia LGBT, por indicação da Elástica, e procurou ajuda.

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(Gabriela Zosin/Unsplash)

“O preconceito vem de fora”

Marcelo*, André*, Carolina*, Corin e Marina* lutam por respeito e reconhecimento em suas próprias casas, para além da LGBTfobia latente na sociedade. Hamilton Kida explica que, quando a pessoa consegue enxergar que esse preconceito vem de fora, fica um pouco mais fácil de lidar. Mas, caso ela mesma se sinta culpada pelo o que é, a angústia tende a ficar maior. “A gente tenta fazer com que eles deixem esses sentimentos para o outro. É um trabalho de fortalecimento da personalidade para que cada um possa validar essa identidade independente do ambiente em que vive, seja entre amigos ou com a família”, ressalta o psicólogo.

O trabalho do atendimento psicológico tem como principal intuito fazer com que o paciente compreenda e tenha consciência do que é agressão para, acima de tudo, não se culpabilizar. Em relação à violência no isolamento social, o especialista indica que o que mais importa é a forma como cada um vê a situação e como se sente sobre isso, e não se a vítima pretende falar e se expor aos parentes nesse momento delicado. “Há casos e casos, portanto, é preciso ver se a sensação é de estar voltando para o armário ou se é situacional, e que, com o fim da pandemia, a independência poderá se restabelecer”, diz.

Para Kida, as conversas em grupo durante a quarentena com outras pessoas LGBTQI+ na mesma situação geram empatia e auxiliam quem precisa de ajuda. O próprio Rainbow se propõe a organizar esses encontros semanalmente, agora de forma online, com rodas de debate acerca de diferentes temas, como machismo, masculinidade, racismo, sexualidade e identidade. “Com isso, eles percebem que a culpa de tudo que estão sentindo é algo coletivo e não de cada um”, acrescenta.

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(Vince Lee/Unsplash)

Quando a “porrada” vem de fora, ela dói menos. Por isso, o psicólogo indica qual é a melhor forma de os pais e demais parentes buscarem lidar com pessoas LGBTQI+ na família: acolher e não julgar. Para quem tem uma estrutura familiar com afeto e carinho, ao sofrer algum tipo de discriminação, saberá trabalhar internamente de outra maneira e sofrer menos, uma vez que perceberá que o ocorrido é decorrente de um fator externo, e não interno.

Hamilton pontua, ainda, que muitas conversas que deveriam ser feitas nesta fase serão adiadas, afetando consequentemente o processo de autoaceitação de pessoas LGBTQI+. No entanto, a quarentena provoca outro fenômeno, pois, ao mesmo tempo em que sucumbe o convívio social, cada ser humano está compelido a olhar para si com maior profundidade. Questões, que antes ficavam debaixo do tapete, ou eram “solucionadas” com uma cerveja para relaxar, estão florescendo nas ideias e na mente de muita gente. “Não à toa a busca por acompanhamento psicológico triplicou nos últimos meses”, finaliza.

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*Os nomes dos entrevistados marcados com asterisco foram alterados para preservar suas identidades

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