
professora Sonia Pinheiro casou-se aos 28 anos, teve duas filhas e, depois de duas décadas de matrimônio, se separou. Quando lhe perguntavam sobre seu estado civil, ela baixava a voz para responder: “divorciada”. A única mulher entre seis irmãos também foi a única com coragem de assumir uma separação. Com 50 anos, depois de ter vivido o luto pelo fim do casamento, voltou a namorar. “Conheci um cara legal e fui aprendendo a jogar o preconceito no fundo do poço”, conta. Hoje, aos 63, ela compartilha amor e momentos felizes com outro homem, de 68 anos.
“Não sei qual é o título da nossa relação, mas tenho um parceiro com quem gosto de estar junto, de sair e me divertir. Minha filha diz que o nome disso é crush, mas para que dar um rótulo?”, ri Sonia, acrescentando que casar não é a prioridade deles. “Eu construí uma trajetória independente e cheguei até aqui desse jeito. Quero viver a minha vida, não a do outro. Acho que, nessa idade, a mulher tem mais facilidade de descobrir esses caminhos.”
De fato, os relacionamentos tendem a ser mais saudáveis e satisfatórios na terceira idade, segundo psicólogas e outras terapeutas ouvidas pela reportagem. “As mulheres mais maduras já sabem do que gostam e do que não gostam. Na juventude, geralmente acabamos cedendo, nos diminuindo para caber na vida de outra pessoa”, diz Sofia Menegon, consultora em relacionamentos e sexualidade e colunista de CLAUDIA.
Maria do Carmo Lopes, de 76 anos, não teve receio em viver um outro amor quando ficou viúva, depois de mais de três décadas de casamento. Quando conheceu o atual marido, ela tinha 56 anos e ele, 39. “Comecei a sair sem medo, porque queria apenas me divertir. Nunca me preocupei com o que o povo pensa, só me preocupo comigo mesma. Sempre fui independente e o que quero é viver o que eu quiser”, afirma, com firmeza e bom humor. Ela garante que se sente mais consciente neste relacionamento do que nas experiências da juventude. “Você fica na relação se estiver bom. Se não, larga e pronto.”
“Comecei a sair sem medo, porque queria apenas me divertir. Nunca me preocupei com o que o povo pensa, só me preocupo comigo mesma. Sempre fui independente e o que quero é viver o que eu quiser”
Maria do Carmo, 76 anos
É claro que nem tudo são flores para as mulheres que querem dar uma nova chance ao amor e à paixão depois dos 60 anos. Sonia conta, por exemplo, que de início tinha preguiça de voltar a paquerar. “Nunca usei sites de relacionamento porque, pelas experiências de minhas amigas, os homens não querem mulheres da mesma faixa etária que eles”, diz. Essa foi uma queixa comum entre as senhoras entrevistadas.

Por outro lado, essa situação já pode se converter em uma espécie de critério de eliminação na hora de procurar alguém com quem se relacionar. “Homens que se negam a se envolver com pessoas da mesma idade não são parceiros maduros para elas, não estão prontos para relacionamentos leves e livres”, explica Sofia.
A especialista acrescenta que, apesar de o medo da solidão ser legítimo, é importante lembrar que nem todas as relações mais significativas precisam ser, necessariamente, românticas. “Amizades são fontes de amor, por exemplo. É essencial fortalecer esses afetos que já estão em nossas vidas”, ressalta. Em qualquer idade, as relações românticas só valem a pena se as expectativas de todos os envolvidos estão alinhadas e se há respeito. “Você consegue olhar mais para você mesma depois dos 60 anos e entender suas prioridades. Eu abracei minha liberdade. Hoje, quem manda na minha vida sou eu e sou feliz assim”, conclui Sonia.