Encanto e espanto democratizados
No início, as produções de Uýra foram voltadas exclusivamente para as redes sociais. Emerson não pensava em produzir para o que chama de “sistemão” de arte – circuitos tradicionais de museus e exposições – mas tem aprendido a pisar e a se colocar nesses espaços. A experiência gerou reconhecimento e bons resultados no meio artístico, mas ainda toca em um ponto delicado para ele, que justifica: “a gente trata de coisas muito importantes sobre ancestralidade e cultura. São as mirações dos nossos sonhos que viram arte. E elas falam de vovó, né? Da floresta, das coisas vivas. Então, são negociações que para a gente podem ser muito caras, se essas obras ou falas chegam a locais que são de violência. Nós não queremos isso.”
A drag enxerga a negociação de seu trabalho em espaços formais como uma de suas vulnerabilidades, mas não a única. Por ter a fotoperformance como sua principal linguagem artística, a exposição física e espiritual é grande. Principalmente, durante os ensaios que muitas vezes são feitos na rua e em meio ao lixo. Ela lida, ainda, com comentários desagradáveis, gravações e divulgações irresponsáveis de suas performances.
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A artista alcança cada vez mais o objetivo de democratizar seus conhecimentos, seja através das exposições formais, dos lambe-lambes nas ruas ou do Instagram, que conta com mais de 21 mil seguidores. O reconhecimento de seu talento, no entanto, veio como uma resposta da visibilidade internacional que recebeu por participar de exposições na França e no Canadá. “Pelo próprio processo colonial a gente tende, em grande parte do Brasil, a valorizar o que é de fora, né? Hoje já tenho um carinho dos artistas da cidade e agora começo a adentrar outros espaços, principalmente do ano passado para cá”, afirma.
Tão grande é a aprovação que muitos eventos já estão marcados na agenda da paraense durante este ano. Já são pelo menos duas exposições internacionais confirmadas, uma em São Francisco (EUA) e a outra na Holanda. No Brasil, seu trabalho estará presente na 34ª Bienal de São Paulo, que acontece de 4 de setembro a 5 de dezembro de 2021. Serão apresentados no evento duas séries fotográficas já produzidas e dois trabalhos inéditos. Um deles é a série fotográfica “Retomada” e o outro é a instalação “Malhadeira”.
“Pelo próprio processo colonial a gente tende, em grande parte do Brasil, a valorizar o que é de fora, né? Hoje já tenho um carinho dos artistas da cidade e agora começo a adentrar outros espaços, principalmente do ano passado para cá”
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Em suas criações de foto performance, Uýra atua na pesquisa, concepção visual, montagem e convida um profissional para realizar a parte fotográfica. Ela destaca o fotógrafo Matheus Belém como um superparceiro que produziu a maior parte de seu acervo e a artista visual Keila Serruya, como grande apoiadora de suas missões.
Atualmente, sua instalação “Mãe da Lua” faz parte de uma exposição que dura até o fim de março, na Casa França-Brasil, no Rio de Janeiro. Além de relevância no meio artístico, a paraense já recebeu menção honrosa pelo trabalho com arte e educação ambiental feito com as comunidades ribeirinhas de Manaus.
Fato incontestável é que, por onde passa, seja por meio de fotografias ou pessoalmente, todos os olhares se voltam para Uýra Sodoma. Por encanto ou espanto, o que ela faz é crucial: “Eu entendo que essa imagem carrega força e tem potência para captar olhares para as questões que me atravessam e que são urgentes de compreensão a nível coletivo. Às vezes as pessoas olham para o que é necessário, né? Esse é o meu trabalho, assim, enquanto Uýra.”
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