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Veganismo para todes

Conversamos com ativistas que tratam a alimentação sem carne como emancipação periférica e racial

por Carolina Fortes 20 jan 2021 01h31
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(Clube Lambada/Ilustração)

á dois anos no veganismo e cinco no vegetarianismo, eu poderia fazer uma lista de perguntas e comentários que ouço toda vez que falo em algum lugar que sou vegana: “Mas o que você come?”. Ou “eu nunca conseguiria, amo carne”. E o tradicional “acho muito radicalismo”. Há também a questão que norteia essa reportagem: “é muito caro, coisa pra gente rica”.

Conversando com pessoas que encontrei pelo caminho nesses últimos anos, seja na vida real ou em grupos nas redes sociais, consigo entender o por quê desse último estigma. Se você digitar as palavras “veganismo”, “dieta vegana” e “comida vegana” no Google, entre as imagens que aparecem, predominam pessoas brancas, magras, cisgêneras e pratos coloridíssimos, cheios de ingredientes caros e inacessíveis para a grande maioria. Nas prateleiras dos supermercados, os produtos vendidos pelas grandes marcas custam, em média, R$ 20 – seja uma porção de 300g de coxinhas, quatro hambúrgueres de soja ou uma caixa de nuggets vegetal. Além disso, os restaurantes veganos estão concentrados, predominantemente, nas regiões centrais ou ricas das cidades, e a maioria das refeições para uma pessoa gira em torno de R$ 25.

Com a intenção de subverter essa lógica de que é preciso ser rico para ser vegano, e também sair do estereótipo de que as garotas-propagandas são Xuxa Meneghel e Luísa Mell – enquanto muita gente esquece, por exemplo, que Rincon Sapiência faz um trabalho incrível difundindo o vegetarianismo –, pessoas comuns se tornaram famosas nas redes sociais compartilhando seus pratos nada elaborados e discussões muitas vezes evitadas no meio da militância. Os irmãos Leonardo e Eduardo Luvizetto dos Santos, por exemplo, mantêm a página @veganoperiferico. A estudante de nutrição Caroline Soares foi praticamente pioneira ao criar, ainda no Facebook, o grupo Veganos Pobres Brasil, e depois migrar para o Instagram com a página @logoeuveganapobre_. Outras pessoas buscam, ainda, fazer a intersecção necessária do veganismo com outros movimentos sociais, para alcançar o fim das explorações dentro da sociedade. Com base nisso, Ellen Monielle (@eco.fada), Thalitta Xavier e Luciene Santos (@sapavegana) discutem o antirracismo, pauta deixada de lado dentro de um movimento que, muitas vezes, tem dificuldades em se confrontar com os próprios privilégios. “É ilusório achar que o veganismo por si só irá conseguir alcançar seus objetivos sem se articular com outros movimentos, como o movimento negro, feminista, indígena, LGBTQIA+, dentre outros”, afirma Ellen.

“É ilusório achar que o veganismo por si só irá conseguir alcançar seus objetivos sem se articular com outros movimentos, como o movimento negro, feminista, indígena, LGBTQIA+, dentre outros”

Ellen Monielle
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Também conhecido como veganismo popular ou anticapitalista, o veganismo político foi um conceito idealizado em 1988 por Donald Watson e seus colegas da Vegan Society do Reino Unido. Naquela época, eles definiram o termo como “o modo de vida vegano que mantém firme o posicionamento ético contrário ao especismo, assim como às demais hierarquias morais, e promove engajamento político pela emancipação dos animais não humanos e, por tabela, de todos os seres humanos e do meio ambiente”. Essa definição, muito distante de uma dieta que busca um estilo de vida saudável, tem se perdido em meio à lógica mercadológica, que busca associar o movimento vegano a uma alimentação cara e produtos “low-carb” e sem glúten. “O que você acha na internet são representações muito diferentes do que é o veganismo na prática. Eu não me sentia representada, porque sou uma mulher da favela, de quebrada, e só via pessoas falando sobre o veganismo classe média porque é a realidade que elas vivem”, conta Caroline Soares.

Em muitas publicações, a estudante de nutrição satiriza esse status elitizado do movimento, como em uma receita na qual ensina a fazer homus, uma pasta feita com grão de bico. “Segura esta receita de homus que aprendi em uma das minhas viagens para o Caribe, então não adianta que os ingredientes não tem no Brasil, afinal para ser vegana tem que ser rica”, escreve. Apesar do deboche na fala ser evidente, é muito comum escutarmos ou lermos pessoas veganas indicando ingredientes que só são encontrados fora do Brasil, receitas que levam alimentos caríssimos ou produtos financeiramente inacessíveis para a maioria das pessoas. Em um grupo do Facebook que só tem brasileiros, por exemplo, uma integrante sugere um “camarão” vegano que encontrou na Alemanha. Em outra publicação, uma mulher divulga fotos de um prato que comeu em um foodtruck nos Estados Unidos. Há ainda recomendações em Portugal, Irlanda, Grécia, entre outros.

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“O que você acha na internet são representações muito diferentes do que é o veganismo na prática. Eu não me sentia representada, porque sou uma mulher da favela, de quebrada, e só via pessoas falando sobre o veganismo classe média porque é a realidade que elas vivem”

Caroline Soares
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(Caroline Soares/Fotografia)

Esse tipo de compartilhamento de informações, junto com a propagação do veganismo pela mídia com foco em pessoas brancas e privilegiadas, afasta as pessoas da periferia do movimento. “Falta representatividade, porque o exemplo educa muito, faz as pessoas pensarem. Ah, aquela pessoa que estudou comigo, na mesma escola pública, sempre teve dificuldades financeiras, hoje é vegana”, afirma Leonardo Luvizetto dos Santos.

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Diferente de muitas pessoas, ele e o irmão Eduardo resolveram parar de comer carne antes de ter essa visão de que o movimento era caro. O que estimulou eles – primeiro Eduardo e depois Leonardo – foi a questão da exploração animal. “Só depois o Du se deparou com um movimento elitista, que estava inclusive sendo propagado em inglês, só com produtos industrializados”, conta Leonardo. “Quando eu também me tornei vegano, começamos a frequentar feiras e ver que isso estava muito fora da nossa realidade. Era um veganismo propagado por uma classe média através da sua existência enquanto ‘classe superior’. Pensamos: ou a gente abandona isso e fala que não faz parte da nossa realidade, ou enxergamos que a luta é pelos animais e criamos um outro movimento político, que critica esse movimento propagado pela classe média”, relata.

E foi aí que surgiu a página, que hoje tem mais de 344 mil seguidores. Lá, eles publicam fotos de refeições que desmistificam a frase de que é difícil encontrar alimentos veganos. A maioria dos pratos é composto por arroz, feijão, legumes e vegetais. De acordo com uma pesquisa divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em agosto de 2020, o arroz e o feijão foram, respectivamente, o segundo e o terceiro alimentos consumidos com mais frequência no país entre junho de 2017 e 2018. “Queremos mostrar o nosso dia a dia, como é barato ser vegano e que as pessoas estão propagando de forma elitista. Tem muito glamour, acham que é ser diferente, e temos que tornar o negócio popular para que os animais sejam libertos”, afirma Leonardo.

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“Queremos mostrar o nosso dia a dia, como é barato ser vegano e que as pessoas estão propagando de forma elitista. Tem muito glamour, acham que é ser diferente, e temos que tornar o negócio popular para que os animais sejam libertos”

Leonardo Luvizetto dos Santos

Segundo ele, além da falta de representatividade, outros motivos afastam a periferia do veganismo, como associações da carne à masculinidade e ao bem-estar financeiro. “Toda a forma de intelectualidade que requer pensamento e senso crítico é culturalmente afastada da periferia. A periferia sofre uma alienação muito profunda das corporações, que dependem desse consumo alienado das pessoas pobres”, afirma. Um dos maiores exemplos, de acordo com ele, é o senso comum de que se “não há carne, não há comida”. “Eu realmente achava que abrir a geladeira e não ter um bife significava que eu não tinha comida. Hoje, me sinto extremamente rico comendo feijão, arroz e abobrinha. Isso é totalmente construído culturalmente”, completa. Caroline também enxerga esse pensamento ainda muito latente na quebrada, e conta que um dos principais motivos que a fez entrar na faculdade de nutrição foi justamente poder falar com propriedade que é, sim, possível sobreviver sem carne. “Isso virou um status. A pessoa está comendo um prato que tem arroz, feijão, salada e um pedaço pequeno de bife e tem coragem de perguntar o que você come. As pessoas não tem noção do que é um alimento, uma berinjela, uma ervilha”, afirma.

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(Vegano Periférico/Divulgação)
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Produtos bem menos veganos do que consta na embalagem

Segundo uma pesquisa feita pelo Ibope em abril de 2018, 14% da população brasileira se declara vegetariana, um crescimento de 75% em relação a 2012, quando o mesmo levantamento foi feito. Não há nenhuma pesquisa que mostre com precisão o número de veganos no país, porém a Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB) estima que sejam aproximadamente sete milhões de brasileiros. As grandes marcas capitalistas surfaram no crescimento da adesão ao veganismo no Brasil e, de acordo com estimativas feitas por empresários do setor em 2015, esse mercado deve crescer 40% ao ano, reflexo esse que já pode ser notado com empresas especializadas na venda de carne ampliando o seu cardápio e oferecendo diversas opções vegetais. Porém, o que para alguns é visto como uma mudança positiva, já que atrai mais pessoas para o veganismo, para outros não passa de mais uma forma de obtenção de lucro, destinada a manter o padrão elitizado e branco dentro do movimento.

O estudante de Serviço Social da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Rodrigo Felipe Nascimento de Lima, que escreveu um artigo intitulado A relação entre a luta antirracista, o veganismo e a política de assistência social, afirma que essa entrega de produtos veganos e caros se reflete de forma completamente distorcida na periferia. “Desde 2012, temos uma explosão de informações sobre o que é o veganismo. Várias pessoas entraram nisso e, junto, uma parte da mídia. As marcas vão querer vender isso pra lucrar, e colocam como um sinônimo de alimentação saudável e comida muito cara. Acabamos esquecendo que é um movimento social e político. E quando a mídia vai propagar, é sempre com um corpo muito padrão, e a periferia não abraça isso, não se sente representada”, diz Rodrigo.

“As marcas vão querer vender isso pra lucrar, e colocam como um sinônimo de alimentação saudável e comida muito cara. Acabamos esquecendo que é um movimento social e político”

Rodrigo Felipe Nascimento de Lima
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(Rodrigo Felipe Nascimento de Lima/Divulgação)
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Ficaram no passado os dias em que as empresas desdenhavam dos veganos e tratavam o movimento como “modinha” ou “radicalismo”. Está cada vez mais comum chegar nos supermercados e ter uma prateleira de produtos dos mais diversos, desde alimentos naturais empacotados, até imitações quase perfeitas de carne. Só para ter uma ideia, a Beyond Meat, uma das maiores empresas da chamada “meatless economy” (economia sem carne, em tradução livre), deve movimentar US$ 27,9 bilhões até 2025, segundo a consultora Markets & Markets. Nos cardápios dos restaurantes, também aumentaram as opções veganas – e já está virando história aquela situação muito comum de chegar no estabelecimento e só ter salada ou batata-frita para comer.

No entanto, ativistas alertam para uma prática que vem crescendo ao longo dos anos, o veganwashing (ou lavagem vegana, no bom português), que é basicamente quando uma marca se apropria do veganismo como forma de obter lucro. “Grandes empresas olham o veganismo como nicho de mercado, que podem lucrar com isso e acabam investindo. Mas isso não quer dizer que estão comprometidas a deixar de lado a exploração animal. Na verdade, a base de toda essa indústria é o lucro com a exploração animal. Eles colocam na prateleira produtos à base de vegetais e dizem que são veganos, e quem compra e não tem muito informação, ou só não está preocupado mesmo, acha que é um passo para acabar com a exploração animal”, explica Ellen. Em uma publicação feita no perfil @eco.fada, a estudante de Relações Internacionais alerta, ainda, para a associação entre o veganwashing e os oligopólios alimentares. Segundo ela, pouquíssimas empresas controlam o que comemos, e as pessoas mais afetadas com isso acabam sendo os pequenos produtores, a classe trabalhadora e as pessoas pobres e periféricas.

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Caroline Soares aponta uma ligação disso com o trabalho escravo humano, que também deveria ser combatido pelo veganismo. Para ela, essa maior oferta de produtos pelas grandes empresas não passa de uma ilusão. “Os veganos falam ‘vamos incentivar esses produtos para que o movimento seja popular’, e isso não faz sentido. Quem incentiva esse tipo de produto é a elite. Nós, que somos periféricos, entendemos a importância de boicotar. Como uma mulher periférica, não consigo incentivar empresas e produtos que exploram animais e pessoas diretamente”, afirma. Porém, para a estudante de nutrição, a maior difusão do veganismo tem trazido um reflexo positivo: o aumento de pequenos comerciantes e produtores de comida vegana. “A diferença é que as grandes empresas nunca vão parar de fazer os produtos que não são veganos. Agora a pessoa que vende pastel, se o de brócolis começar a vender muito melhor, ela pode acabar tirando as opções com carne”, exemplifica.

“O lugar mais próximo que tem para eu comer um hambúrguer fica a 25 km da minha casa, é inviável. E é difícil você fazer uma coisa fora da curva na periferia, porque não tem público, as pessoas realmente não consomem. Comida saudável, por exemplo, ainda é vista como coisa de gente fresca. Mas eu acho que com o tempo, e com a informação sendo propagada e o movimento ganhando forma, as pessoas vão começar a surgir com ideias”

Leonardo Luvizetto dos Santos
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(Vegano Periférico/Divulgação)

No entanto, Leonardo observa que as opções de restaurantes e estabelecimentos ainda ficam concentradas predominantemente nos centros das cidades, deixando as pessoas periféricas reféns de cozinhar sempre em casa ou andar quilômetros para comer fora. “Eu moro no Campo Grande, em Campinas, e o lugar mais próximo que tem para eu comer um hambúrguer fica a 25 km da minha casa, é inviável. E é difícil você fazer uma coisa fora da curva na periferia, porque não tem público, as pessoas realmente não consomem. Comida saudável, por exemplo, ainda é vista como coisa de gente fresca. Mas eu acho que com o tempo, e com a informação sendo propagada e o movimento ganhando forma, as pessoas vão começar a surgir com ideias”, diz. Por isso, ele aponta para a importância de propagar a informação de uma forma que as pessoas entendam e que faça sentido dentro da realidade delas. Ou seja, nada de nomes ou frases em inglês!

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Racismo dentro do movimento vegano

Um relatório publicado em junho de 2020 pela Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL) e a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) mostrou que, como resultado da crise gerada pela pandemia da covid-19, a população em condições de extrema pobreza na região pode chegar a 83,4 milhões de pessoas em 2020, 15,9 milhões a mais do que hoje. O aumento do desemprego e dos preços dos alimentos, sobretudo aqui no Brasil, onde a cesta básica subiu em todas as capitais neste ano segundo o Dieese – em São Paulo, por exemplo, a alta foi de 17,64% – muitas famílias serão obrigadas a mudar seus hábitos alimentares. A crise do coronavírus também aprofundou as desigualdades entre negros e brancos no país. De acordo com pesquisa do Dieese, dos 8 milhões de pessoas que perderam o emprego entre o 1º e o 2º trimestre de 2020, 6,3 milhões eram negros e negras, o equivalente a 71% do total. Entre o 4º trimestre de 2019 e o 2º de 2020, cerca de 72% ou 8,1 milhões de negros e negras estavam em situação de vulnerabilidade no Brasil. Esses dados jogam luz sobre um conceito criado pelo Dr. Llaila O. Afrika, o nutricídio, que descreve a destruição nutricional da raça negra através da mudança alimentar de suas culturas pela inserção de produtos colonialistas, regida por brancos e multinacionais.

Em seu artigo A relação entre a luta antirracista, o veganismo e a política de assistência social, Rodrigo Felipe discute como a possibilidade de ter uma alimentação saudável é um ato político e ativista frente a um sistema racista. “Comer comidas com baixos nutrientes, aliado com produtos tóxicos de origem animal advindos da indústria da carne, é resultado de um sistema racista. Desse modo, alimentar-se de comidas saudáveis é um ato político e ativista […] e é uma forma de combater problemas de saúde da comunidade negra popular, na mesma medida que a comunidade se questiona sobre o próprio consumo da carne, uma vez que existe um ser oprimido e que também sente dor, mas que no final das contas é abatido para a alimentação humana”, escreve. Uma das saídas, de acordo com ele, é o próprio trabalho do assistente social, que também consiste em viabilizar o direito à alimentação para quem não tem como arcar com ela todos os dias. Com o auxílio dos Centros de Referência de Assistência Social (Cras), programas e seminários, é possível propagar o conhecimento dos hábitos alimentares para uma vida saudável. “Nesses debates, podemos informar os benefícios do veganismo, do vegetarianismo, do reaproveitamento de alimentos, para que essa população tenha uma alternativa. O objetivo principal do serviço social é trabalhar com a autonomia das pessoas”, explica Rodrigo.

“Comer comidas com baixos nutrientes, aliado com produtos tóxicos de origem animal advindos da indústria da carne, é resultado de um sistema racista. Desse modo, alimentar-se de comidas saudáveis é um ato político e ativista”

Rodrigo Felipe

Essa lógica racista citada pelo estudante se estende ao movimento vegano. Porém, infelizmente, raramente é abordada nas discussões da militância e, apesar dos avanços, os recortes raciais permanecem ignorados por grande parte das pessoas. “A defesa dos direitos dos animais começou a virar praticamente uma ‘identidade racial’ para as pessoas brancas. Então, quando negros se envolvem nesse movimento, os brancos começam a nos falar o que é certo e errado. E isso impede muitos negros de avançar”, afirmou a escritora e ativista Aph Ko em entrevista ao Huffpost News em 2017. No Brasil, o racismo dentro do movimento se faz muito presente quando, por exemplo, para pautar sobre violência animal, são feitas comparações com pessoas negras, a fim de “justificar uma sensibilidade”. “Comparar as opressões pode ser perigoso e racista, pois o ‘lado branco’ (não todos) do veganismo ainda permanece muito quieto quando precisa-se pautar sobre o trabalho antirracista e outras injustiças raciais, mas estes usam-se do escravismo para favorecer o debate dos direitos dos animais, infelizmente”, diz Rodrigo. “É destacável que os negros ainda são rotulados como animais, prática racista para desonrar sua imagem e que legitima a serem objetificados”, continua. Outra prova do preconceito racial é a perseguição às religiões de matriz africana por causa do abate de animais, enquanto o mesmo tratamento não é dado a outras crenças que também fazem esse tipo de consumo em comemorações, como o cristianismo com o peru de Natal.

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Segundo Ellen Monielle, existe atualmente uma maior visibilidade às pessoas pretas dentro do veganismo, mas ainda estamos muito longe do ideal. “Existe muito racismo dentro do veganismo, situações de animalização e intolerância. Não acabou porque eu e mais pessoas pretas temos um espaço pequeno dentro de tudo isso”, diz a estudante. Ellen insiste na necessidade de se discutir sobre popularização e politização do veganismo, além de trazer à tona a perspectiva antirracista. “Raça e classe andam juntos e não são apenas um recorte, mas sim a base de debates dentro e fora do veganismo”, afirma. Um texto publicado pela Agência de Notícias de Direitos Animais (ANDA) intitulado “Não é fácil ser jovem, negra e vegana” traz um trecho que resume bastante essa discussão dentro do mundo do veganismo, e que deveria ser referência para as pessoas brancas que entendem a importância da interseccionalidade. “Pessoas negras são tão variadas quanto qualquer outro grupo étnico e não devem ser adicionadas às conversas veganas como se fossem um souvenir, mas como membros da comunidade com contribuições a dar”. Por isso, é importante ressaltar que a autocrítica será necessária se o veganismo quiser mesmo atingir um dos seus objetivos principais: acabar com a exploração animal no mundo.

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