Listamos 21 pessoas transexuais e perfis que lutam contra a transfobia e precisam ser ouvidas para vivermos em um país melhor
por redaçãoAtualizado em 29 jan 2021, 12h07 - Publicado em
29 jan 2021
02h07
Por que celebramos o dia – e o mês – da visibilidade trans sendo que, todos os anos, também celebramos o dia – e o mês – do orgulho LGBTQIA+? Se você nunca tinha parado para pensar nessa diferença que é pequena no jeito de escrever, mas gigante no significado, bem-vinde ao Brasil, o país que mais mata transexuais no mundo.
Aqui e no resto do mundo, dia 29 de janeiro é o Dia da Visibilidade Trans, uma data importantíssima para conscientizar todas as pessoas sobre a existência e a humanidade de homens e mulheres transexuais. Durante todo o mês de janeiro, na verdade, a pauta do movimento trans vem mais à tona do que no resto do ano – o que é positivo, claro, para que essa visibilidade realmente seja alcançada, mas reforça que, nos outros onze meses, a pauta trans que mais chega a todos nós é quando a vida de alguma travesti termina de forma violenta.
Na Elástica, vidas trans importam o ano inteiro. Entendemos a importância real da diversidade e entendemos, principalmente, que não é por esse motivo que devemos deixar a data passar em branco. Aprendemos com a Antra – Associação Nacional de Travestis e Transexuais – que o papel das pessoas cis na luta contra a transfobia é, antes de tudo, ouvir. Ouvir sobre as violências, o preconceito, a exclusão social. Ouvir sobre as vivências em que lhes é privado tudo, incluindo o mais básico: o direito ao teto, à saúde básica, ao amor. Por isso, nosso trabalho hoje é listar algumas pessoas trans para que você, leitor ou leitora, conheça, siga e se informe.
Antes de começarmos, vale lembrar: isso não é um guia definitivo, uma lista imutável ou coisa do tipo. Existem milhares de pessoas trans no Brasil e no mundo e TODES precisam ser respeitades, ouvides, celebrades. Fizemos aqui um recorte e estamos sempre abertos a conhecer mais histórias, pessoas e narrativas que somem a essa luta contra a transfobia e a favor da vida.
São muitas as qualidades e os títulos que cabem a Duda. Professora de literatura, fundadora da ONG Tranvest – que oferece aulas pré-vestibular gratuitamente para pessoas trans e travesti, a fim de aumentar a presença dessas pessoas na universidade e, consequentemente, no mercado formal de trabalho –, ambientalista, mãe e, mais recentemente, vereadora pela cidade de Belo Horizonte, em Minas Gerais. A vereadora mais votada da história da capital mineira, inclusive. Duda tem uma história de luta no movimento trans e também pela educação, sendo uma voz importante no combate à transfobia não só em Minas, mas no país todo.
Youtuber, podcaster, escritor e educador. Essas são algumas das profissões e atividades que Jonas desempenha em seu dia a dia, compartilhando com centenas de milhares de pessoas suas vivências como homem trans. Em 2014, ele começou um blog, o DEGENERAD$, em que relatava sua experiência com a testosterona e a hormonização para transicionar. Transição essa que aconteceu enquanto ele já se relacionava com a ativista e youtuber Nátaly Neri, contribuindo para que mais questões entrassem no debate e em seu discurso de conscientização.
“Uma história de exclusão” é como essa ativista define sua vida profissional e pessoal. Neon trabalha há quase 40 anos na prefeitura de São Bernardo do Campo, onde atualmente ocupa o cargo de diretora de arte da área de comunicação. Mulher negra, ameríndia, transgênero e “questionadora da branquitude e cisgeneridade tóxicas”, como ela mesma destaca em seu perfil no Instagram, Neon foi homenageada com a medalha Theodosina Ribeiro, que homenageia mulheres que se destacam na sociedade paulista. Mais recentemente, inaugurou a Casa Neon Cunha, centro de acolhimento para pessoas T em situação de vulnerabilidade na região do ABC Paulista.
Mulher travesti eleita em 2020 para ocupar seu lugar de direito na Câmara dos Vereadores de São Paulo. Nos orgulha começar a descrição de Erika falando sobre isso, pois sua trajetória de luta começou há muito tempo. Ex-co-deputada pela Mandata Ativista (PSOL) – formada como Bancada Ativista, em 2016 –, Erika foi vítima de transfobia dentro de casa, de onde foi expulsa, e trabalhou como prostituta para se manter viva. Reconciliou-se com a família, foi para a universidade e, desde então, entrou para a militância. Tivemos uma longa conversa com Erika logo antes das eleições do ano passado e o resultado você confere aqui.
Dentre as muitas maneiras de se referir a Thammy Miranda, “o primeiro homem trans a ser eleito vereador em São Paulo” nos parece a melhor delas. Filho da cantora Gretchen, o ator e apresentador divide em suas redes muitas experiências que vive como homem trans e, também por conta de toda essa abertura, já sofreu casos de transfobia diversas vezes por estar sob os holofotes. O mais recente deles foi no ano passado, quando protagonizou uma campanha de Dia dos Pais para a Natura ao lado de seu filho, Bento. Em uma país no qual mais de 5 milhões de crianças tem um espaço em branco na certidão de nascimento onde deveria estar o nome do pai, já passou da hora de parar de associar paternidade com pênis.
Pioneira na luta por direitos humanos quando o assunto são as pessoas transgênero, a ANTRA foi fundada no ano de 2000, na cidade de Porto Alegre, e hoje realiza um trabalho nacional em defesa desse grupo minoritário. Hoje, articula suas ações com outras 127 organizações similares em todo o país, promovendo visibilidade, mobilização e empoderamento dos corpos trans nas áreas de educação, saúde pública e direitos humanos. Além disso, a ANTRA também passou a trabalhar com articulação política a partir de 2016.
Com um nome inspirado nas moiras da obra clássica Ulisses, de Homero, e um trabalho de doutorado em literatura pesquisando as dificílimas obras de James Joyce, a professora e escritora Amara Moira é um dos maiores nomes da literatura trans brasileira moderna. Ex-prostituta, é autora dos livros E se eu fosse puta e Vidas trans: a coragem de existir, além de ser também colunista do Mídia Ninja e uma das maiores fomentadoras das letras e da educação para transsexuais em todo o Brasil.
Lina Pereira, ou como é popularmente conhecida, Linn da Quebrada, é provavelmente a artista mais transgressora do Brasil atualmente. Depois de lançar seu primeiro disco, chamado Pajubá, e ter protagonizado o premiadíssimo documentário Bixa Travesty, Linn caiu nas graças de uma sociedade brasileira cada vez mais conservadora. Contestadora dos padrões estéticos e cirúrgicos que envolvem a transsexualidade, a rapper também é ativista dos movimentos negros e periféricos. Mais recentemente, ganhou um talk show e até mesmo participou de uma novela global. Sem papas na língua, é uma das vozes mais importantes da visibilidade trans dentro da mídia.
Inicialmente parceira de palco da Linn da Quebrada, a rapper hoje segue carreira solo na música em gêneros que transitam do funk ao rap e ao rock. Com forte pegada performática, a cantora é também ativista dos corpos negros e gordos. Lançou em 2020 o ótimo álbum Corpo Sem Juízo e continua apresentando o talk show TransMissão com sua amiga Linn. Na última semana, também colocou no ar o icônico videoclipe de “O Corre”, atual música de trabalho, falando sobre sua trajetória como criança pobre, periférica e evangélica, ressaltando como as dificuldades a levaram a construir a Jup que vemos hoje. Assista abaixo:
O campo das artes é muito diverso, com palavras, imagens, movimentos corporais, e Maria Lucas incorpora um pouco de cada uma dessas disciplinas para criar seus trabalhos. Vencedora do recente concurso Ensaísmos, da revista Serrote, do Instituto Moreira Salles, a autora é também autora de vídeo-artes e de pesquisas sob a chancela do MAM-Rio. Ela transita também no espaço acadêmico em uma luta para a democratização do ensino sobre diferentes corpos e visões de mundo. Em entrevista recente para nós, da Elástica, ela declarou: “Não consigo não pensar o quanto que o corpo de uma bicha não binária era tido como inofensivo quando apenas se apresentava montada de Drag em boates e estava lindíssima em sessões de fotos ou como hostess na noite LGBTQIA+, e, quando se assume travesti e inicia um processo de disputa de territórios em espaços destinados à cultura e educação, causa transtornos e é visto, de distintas formas, como estranho, abjeto e perigoso”.
Em 2018, pouco depois de se perceber uma pessoa não-binária, a cantora fez sua primeira parceria com alguém do mainstream – uma mulher negra e trans, Liniker – e, de lá para cá, o sucesso só cresce. Talvez um dos momentos auges tenha sido participar, ao lado de Pabllo Vittar, da música “AmarElo”, do Emicida. Apontada como um dos novos nomes da música brasileira, Majur alçava voos altos antes da pandemia, com uma rotina corrida de shows e compromissos pelo Brasil. Mesmo sem poder se apresentar presencialmente, Majur segue lançando ótimas músicas, como “Andarilho”.
Em 2018, um policial militar gay foi alvo de ataques homofóbicos por beijar outro homem no Metrô de São Paulo. O caso foi a gota d’água para que Paulo Vaz, investigador da Polícia Civil e homem trans, se manifestasse em suas redes sociais e levantasse a bandeira do orgulho e do combate à LGBTfobia. Desde então, Paulo passou a atuar como criador de conteúdo e também como modelo, falando sobre sua vivência enquanto homem T, conscientizando muitas pessoas sobre relacionamentos entre homens cis gays e homens trans gays, a diferença fundamental entre orientação sexual e gênero, entre outros assuntos.
Transsexual pioneira na política brasileira, a pernambucana radicada em São Paulo Erica Malunguinho foi a primeira mulher trans a ser eleita para um cargo no legislativo brasileiro, quando se tornou deputada estadual por São Paulo, em 2018. Criadora do centro cultural paulistano Aparelha Luzia, um dos espaços de fomento ao pensamento mais revolucionários da cidade, Erica também é educadora e artista plástica. Filiada ao PSOL, ela tem um trabalho inspirado pela vereadora carioca assassinada Marielle Franco. Referência também no movimento negro, é uma das maiores vozes a favor da quilombagem, uma ressignificação contemporânea do espírito dos antigos quilombos, que remetem à época da escravidão, um movimento sócio intelectual que hoje tenta quebrar a ordem do colonialismo moderno contra as violências sistêmicas contra povos pretos e indígenas.
A transição de gênero é um processo difícil, desafiador e que demanda muita energia de quem passa por ela. E, de acordo com relatos de pessoas trans, ela fica ainda mais difícil de fazer com o passar do tempo. Foi exatamente a coragem de compartilhar sua jornada de transição a partir dos 59 anos. Sua jornada viralizou no Twitter, especialmente quando ela mostrou a verdadeira importância da representatividade: se não fosse pelo personagem trans Ivan, da novela A Força do Querer, talvez Ana Carolina nunca tivesse se sentido confortável para viver sua verdadeira identidade.
Historiadora de formação, Giovanna atua também como pesquisadora, apresentadora, comunicadora e criadora de conteúdo nas redes sociais, onde você pode encontrá-la no @transpreta. Muitos de seus vídeos, que seguem a estética TikTok, com dublagens e tom bem humorado, trazem diversas críticas à sociedade cis-patriarcal – além dos cards informativos sobre representatividade T que ela sempre produz e compartilha. Giovanna é afrotransfeminista e muito de sua militância é pela inclusão e pelo respeito às mulheres trans no movimento feminista.
Se a união faz a força, para pessoas trans muitas vezes se reunir em prol de um bem comum também pode ser a garantia de sobrevivência. O Brasil é um dos países que mais apresenta preconceitos contra transsexuais, e isso se reflete profundamente na inserção no mercado de trabalho. Através desse caminho foi criado o Coletivo de Mulheres e Pessoas Transgênero do Departamento de Fotografia do Brasil, que trabalha em prol da capacitação e profissionalização de pessoas transgênero que desejam ingressar no cinema e na fotografia profissional aqui no país. O coletivo oferece cursos, oficinas, além de de promover uma massiva divulgação de trabalhos nacionais realizados por integrantes e aliados do movimento.
Há menos de três meses, a então atriz que ganhou fama ao interpretar a protagonista de Juno se abriu para o mundo em uma carta delicada e muito pessoal, em que falava: “Meu nome é Elliot Page”. O ator, atualmente parte do elenco da série Umbrella Academy, falou sobre seu processo de transição, os preconceitos que enfrentou dele mesmo durante essa fase e da importância de poder, finalmente, viver sua própria identidade. Além de ficarmos felizes por Elliot, reconhecemos a importância de ter uma figura transexual em Hollywood e nos holofotes do mundo todo.
Wendy Carlos
A homossexualidade ainda era crime em boa parte dos Estados Unidos quando uma cientista e musicista pioneira, Wendy Carlos, veio a público se afirmar trans. Era 1979, mas ela já vivia como mulher desde 11 anos antes, e havia realizado a transição de gênero em 1972. Responsável pela co-criação dos sintetizadores Moog, que permitiram a popularização da música eletrônica, Wendy Carlos já era mundialmente famosa por vencer um Grammy reinterpretando peças clássicas de Bach com synths, em 1968, e pela trilha sonora do seminal filme A Laranja Mecânica, de Stanley Kubrick quando tornou-se mulher. Depois, ainda compôs as trilhas de O Iluminado, também de Kubrick, e do clássico infantil Tron, além de ter modulado eletronicamente todos os Concertos de Brandemburgo, também de Bach, e peças de Tchaikovsky, Prokofiev e Saint-Saëns. Hoje, aos 81 anos, está aposentada, mas seu legado de pioneirismo ecoará por infinitas gerações.
Classy. Se existe uma palavra para definir Honey Dijon, talvez essa seja a melhor. Nascida em Chicago e criada nas pistas de dança de um dos maiores berços da house music em todo o mundo, hoje ela é uma das DJs e produtoras do gênero mais requisitadas no planeta. Não somente isso, já foi responsável pelas trilhas sonoras de desfiles de marcas famosíssimas da moda, como Dior e Louis Vuitton. Ativista dentro e fora das pistas, Honey Dijon é dona de um dos sons mais refinados, envolventes e animados da música eletrônica hoje em dia. E nós, claro, estamos ansiosos em revê-la tocar por aqui.
A militância de Ana Flor, conhecida no Twitter e no Instagram como @TdeTravesti, é necessária. Impossível começar a falar dela sem fazer este importante preâmbulo. Aos 24 anos, ela faz parte do Instituto Brasileiro Trans de Educação e é graduanda de pedagogia em Universidade Federal de Pernambuco – ao se formar, será a primeira travesti formada no curso em toda a história de Pernambuco. Em suas redes, Ana trabalha para educar seus seguidores sobre questões do movimento feminista, negro e, claro, do movimento trans, além de cobrar as autoridades sobre a normalização de corpos transdissidentes em múltiplos espaços. Vale a pena segui-la para aprender com suas vivências.
“Escritora travesti, feminista marxista, ecossocialista, eterna aprendiz e taurina.” É assim que Lana se define em sua página do Medium, onde escreve textos reforçando a importância do combate à LGBTfobia e à transfobia especificamente. Lana foi assessora de Marielle Franco e atua também como jornalista. Em seu perfil no Instagram, @transcomunista, sua militância também abrange racismo, violência policial e genocídio indígena, entre outras.