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Temporada Afrodisíaca

Ingredientes, receitas e plantas estimulantes do prazer

por Gabriela Rassy 8 jun 2023 10h05

Parece que estamos adentrando um período de puro prazer e prosperidade. Isso não sou eu quem está falando, mas as deusas entendidas das movimentações astrológicas que apontam para a saída de Júpiter do signo de Áries e entrada em Touro. Isso quer dizer que passaremos um ano todinho com o território das gostosuras em primeiro plano. E nada mais justo que abrir essa safra falando de uma união de poderes no mínimo taurina: os prazeres afrodisíacos.

Saindo do campo astral e entrando nas mundanices, em uma pesquisa rápida pela internet é possível encontrar uma boa lista de alimentos afrodisíacos. Alguns são mais conhecidos, outros impensáveis.

colagem cerejas

Há bons anos, me deparei com receitas e um tempero afrodisíaco num restaurante de São Paulo que era no mínimo exótico. O Tantra trabalha com ingredientes ditos estimulantes há pelo menos 25 anos e oferece comida asiática no estilo da Mongólia, com ingredientes dispostos em um buffet que depois de escolhidos são levados à uma chapa central e grelhados na hora.

🍓 Ainda é um lugar único e delicioso, que se dedica a atiçar os sentidos. “Na minha opinião, a química, ou os cientistas, acabaram com várias listas de ditos afrodisíacos. Assim ainda acreditamos que o ovo de codorna, amendoim, catuaba, mel e morango são. Estes são mais fáceis, divertidos e misteriosos do que uma pílula azul”, avalia Eric Thomas, chef do Tantra. 🍓

Apesar de servir vários tipos de ingredientes afrodisíacos no restaurante, o Tantra criou um tempero dito “afrodisíaco” em que contém maca peruana, ginseng, 5 tipos de pimentas, amendoim, canela, açafrão, ginkgo, gengibre e castanhas, entre outros. “De uma mesa com mais de 50 tipos de ervas, temperos e condimentos, advinha qual seria o mais consumido de todos?”, diz o chef. Passados anos luz desde minha primeira visita, além do tempero, que ainda existe, Eric produz um chá estimulante e dizem fazer jus ao prometido. “Um dia o cliente voltou para o restaurante para me agradecer e perguntar se vendia o chá por quilo”, conta.

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“Na minha opinião, a química, ou os cientistas, acabaram com várias listas de ditos afrodisíacos. Assim ainda acreditamos que o ovo de codorna, amendoim, catuaba, mel e morango são. Estes são mais fáceis, divertidos e misteriosos do que uma pílula azul”

Eric Thomas, chef
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(Laís Brevilheri/Ilustração)

Saindo da chapa fumegante, num ambiente que exala sensualidade – me lembro inclusive de dançarinas com espadas e cobras nesses outros tempos – era um lugar repleto de casais. É como se você estivesse fazendo a sua comida, o que dá outro prazer. “A ideia é que uma alimentação saudável acaba sendo afrodisíaca”, completa.

🍫 Claro que o chocolate, feito com o estimulante cacau, seria um provocador do desejo sexual. Ou sua dupla perfeita, o morango, rico em vitamina C e potássio que ajudaria a liberar a adrenalina do corpo e aumentar o fluxo sanguíneo – além de sua estrutura aquosa e seu formato estimulante. 🍫

As ostras e alguns outros moluscos, como a lambreta, muito popular na Bahia, são conhecidos por esse estímulo. Não há quem não associe cada um deles com o apetite sexual. Daí podemos passar pela banana, aspargos, amendoim, pimentas e por aí vai.

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“Ostras pra mim, são o que tem de mais sexy nas comidas da natureza. Quando eu planejo jantares pro meu marido, sempre coloco ostras. Faço diferentes toppings pra servir e crio meu próprio bar de ostras”, conta a chef Mari Sciotti, chef criativa do restaurante Quincho.

Ostra do acervo do museus biodiversidad heritage nbo flickr

A gastronomia erótica já foi inclusive bem documentada pela escritora e jornalista chilena Isabel Allende. “Afrodite” é uma investigação pelo maravilhoso mundo da gastronomia erótica, misturando receitas e erotismo, o livro é passeio pela memória sensual, sem limites entre o amor e o apetite.

Isabel vê uma associação íntima entre sabor e sexualidade. Como começar um banquete e deslizar até o clímax com o prato principal e finalizar com uma sobremesa estimulante. Essa jornada é comparável a fazer amor com estilo: começa com insinuações, saboreia-se os jogos eróticos, alcança-se o auge com uma explosão de prazer habitual e, por fim, relaxa-se em um repouso acolhedor e merecido.

🌰 O livro “Afrodite” traz uma infinidade de receitas de pratos e bebidas afrodisíacas como a Carlota dos Amantes, feita com chocolate, nozes, café, licor e ovos – “capazes de satisfazer a gula dos gourmets e saciar os instintos dos amantes”, como indica a sinopse da obra. 🌰

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(La[is Brevilheri/Ilustração)

Prazer pr’além dos ingredientes

Muito além dos alimentos, o prazer está ligado a algo muito maior. “A libido não é só sobre o nosso prazer sexual, ela está muito mais ligada à uma energia inteira e geral que abrange todos nossos gostos, vivências e outros prazeres”, explica a educadora sexual e expert em sєx toys, Clariana Leal.

Para ela, saber apreciar alimentos que geram não só uma satisfação básica de necessidade, mas também despertam outros sentidos e geram prazer, pode ajudar muito a abrir mais a criatividade e movimentar a libido. “E nesse lugar, não digo nem pelos ingredientes do alimento, mas sim de se permitir sentir prazer sem culpa, que é uma dificuldade que muitos temos tanto no campo sexual, quanto em outros da vida”, diz Clariana.

A nutricionista e gastrônoma Maria Vianna faz coro: “É uma situação construída, o fato de cozinhar para além, o carinho que você coloca, as texturas, os formatos. É muito mais sensorial do que a composição do alimento em si”.

💦👅 Esse processo aliás, manipular alimentos tem lá uma boa carga de estímulos que podem ser aproveitados. “A sexualidade é sensorial. Cozinhar também. Eu, como pessoa que tento exercitar o prazer como prioridade diária, pra bem além do sexo, acho que o ato de cozinhar é um dos maiores tesões que existem. Você se lambuza, precisa de paciência, sente os sabores, coloca mãos e língua pra jogo. Isso é altamente estimulante”, avalia Clariana. 💦👅

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“A libido não é só sobre o nosso prazer sexual, ela está muito mais ligada à uma energia inteira e geral que abrange todos nossos gostos, vivências e outros prazeres”

Clariana Leal, educadora sexual

E comer também, claro, é um baita estímulo! Clariana conta como muita gente diz sentir o tal do “orgasmo culinário”, que é quando você come algo tão gostoso que sente um ápice e explosão de prazer, que beira o sexual. “Ao invés de focar numa comida intitulada de afrodisíaca, mas que talvez você nem goste tanto (tipo ostras, que muita gente sente pavor, mas ganhou fama de ser afrodisíaca), priorize aquilo que você gosta e te nutre de dentro pra fora. Isso não tem erro e as chances da experiência ser boa, ativar os sentidos e realmente gerar prazer são bem altas”, indica.

Sobre as diferenças em corpos femininos e masculinos, Claris não acredita em uma uniformidade binária. Pra além do gênero, que sim, existem alguns recortes biológicos que acabam diferenciando um jeito pro outro, cada corpo vai reagir a um estímulo ou alimento de uma maneira”.

Segundo ela, alguns alimentos possuem ativos estimulantes que ajudam a ativar a circulação sanguínea, podendo influenciar na ereção, por exemplo. “Mas nesse quesito, o clitóris e o pênis são muito parecidos e respondem de maneiras quase idênticas, a diferença é que o clitóris precisa de mais sangue circulando para uma ereção completa, enquanto o pênis precisa cerca de 10 vezes menos”.

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(Laís Brevilheri/Ilustração)

Cannabis, a afrodisíaca

Se a gente passar sem falar de maconha pode ser que nem nos reconheçam, mas o que fazer se essa plantinha poderosa não se cansa de ser maravilhosa. Sim, a maconha funciona como estimulante sexual!

De acordo com o estudo “Concentrações de endocanabinóides circulantes e excitação sexual em mulheres”, de 2012, publicado na National Library of Medicine, a cannabis tem relação com o funcionamento sexual feminino. Os resultados revelaram uma relação significativa entre as concentrações de endocanabinoides e a excitação sexual das mulheres.

“É uma situação construída, o fato de cozinhar para além, o carinho que você coloca, as texturas, os formatos. É muito mais sensorial do que a composição do alimento em si”

Maria Vianna, nutricionista
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🥦 Outro estudo mais recente, “The influence of cannabis on sexual functioning and satisfaction” (A influencia da cannabis no funcionamento e na satisfação sexual, em português), publicado no Journal of Cannabis Research em 2023, testou a cannabis em 811 participantes adultos, 65% do sexo feminino e quase 25% identificados como LGBTQIA+. Nele, mais de 70% dos participantes relataram aumento do desejo e intensidade do orgasmo. Além disso, 62,5% dos participantes relataram que a maconha aumentava seu prazer enquanto se masturbavam. Outros 71,9% sentiram melhora no paladar 71% no tato. 🥦

No geral, os resultados indicaram que tanto homens quanto mulheres perceberam que o uso de cannabis aumentou seu funcionamento e satisfação sexual, particularmente aumentou o desejo e a intensidade do orgasmo.

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