Casa Clã

Moda para promover mudanças sociais

As estilistas Teodora Oshima, Rafaella Caniello e Ana Cecilia Gromann falam sobre a valorização da identidade brasileira para emancipar o mercado fashion

por Artur Tavares Atualizado em 28 mar 2023, 12h05 - Publicado em 28 mar 2023 12h02

Com uma das cadeias produtivas mais poluentes da indústria, a moda é hoje alvo de uma série de questionamentos. Da monocultura do algodão nas lavouras ao uso de quantidades massivas de água na hora do tingimento das peças, da poluição e da contaminação gerada pelos produtos químicos até as peças de fast fashion descartáveis, praticamente feitas de plástico, o mundo da beleza e da autoafirmação através dos tecidos, costuras e bordados precisa se reinventar.

Em um debate que abordou o posicionamento do novo mercado de luxo brasileiro da moda durante a Casa Clã, evento produzido por Elástica, Claudia, Bebê e Boa Forma, a fim de celebrar o mês da mulher, as estilistas Teodora Oshima, Rafaella Caniello e Ana Cecilia Gromann conversaram com o público sobre os desafios para o surgimento de uma indústria nacional fortalecida, criativa e empoderada.

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(Mayra Azzi / casa clã/Fotografia)

Elas, que são respectivamente as criadoras das marcas Teodora Oshima, Neriage e Anacê, também conversaram conosco especificamente sobre a sustentabilidade na moda, apontando a importância de cuidar da cadeia produtiva e também de auxiliar o consumidor a repensar suas escolhas na hora da compra. Confira:

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Os desafios das marcas emergentes

“Para ser consciente, uma marca precisa pesquisar matérias-primas, e sempre cuidar bem das pessoas. Isso custa caro, porque nosso volume é muito pequeno para diluir os custos que temos entre o número de peças.”
Teodora Oshima

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(Mayra Azzi / casa clã/Fotografia)

“No Brasil, exportamos tudo o que é bom, da mão de obra à matéria-prima. Com o que fica aqui, é muito difícil trabalhar. É um paradoxo, porque precisamos valorizar o que é feito aqui, mas é caríssimo acessar os produtos de boa qualidade.”
Rafaella Caniello

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“Querer se posicionar no mercado envolve estratégia e, se você vai para o lado romântico que querer furar a bolha e alcançar o mercado externo para mostrar o que temos aqui dentro do país, então é uma construção eterna. Agora o Brasil voltou a ser bacana, mas ainda é visto como ponto turístico. E isso pode nos levar para um lado perigoso e caricato.”
Ana Cecilia Gromann

Sustentabilidade e crescimento

“Eu cresci. Hoje tenho duas lojas e estoque, mas ainda mantenho controle. Sustentabilidade tem a ver com o social, o econômico e o ambiental. Acho que, para quem tem estoque, o ambiental é mais preocupante. Ideal é reutilizar tecidos que sobram de outras coleções. Os plissados, que são os únicos tecidos sintéticos, nós compramos a fibra para mandar fazer o número exato de peças.”
Rafaella Caniello

“Quando você é uma grande marca varejista, é muito difícil ter controle da sustentabilidade de fato. Agora essas empresas estão correndo atrás desse novo momento da moda, que exige clareza e posicionamento claros em relação ao meio ambiente.”
Ana Cecilia Gromann

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(Mayra Azzi / casa clã/Fotografia)

“Em termos de crescimento, é sustentável para a estilista se manter pequena. Eu não faço produção, só compro tecido que tem no varejo. Já não produzo nada, então vou me adaptando conforme as coisas estão disponíveis para mim. Em relação ao desperdício, é mais fácil ter uma confecção sob medida. Por outro lado, nem sempre sei de onde estão vindo as coisas disponíveis no varejo, e geralmente é tudo importado.”
Teodora Oshima

Valorização da mão de obra e das marcas brasileiras

“É importante que as marcas se entendam como plataforma e veículo de comunicação de moda, e que temos um longo caminho a percorrer para ensinar as pessoas sobre moda, o que estamos fazendo, a mão de obra na cadeia têxtil. O designer, desde os primórdios, é um influencer, um grande influenciador através do trabalho que está fazendo. A marca, como plataforma, tem esse caminho a percorrer, mostrar para o consumidor o que estamos fazendo aqui e elevar essa mensagem.”
Ana Cecilia Gromann

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“A educação vem de todas as etapas da cadeia da moda. Desde as pessoas que trabalham até as marcas. Tem muitos trabalhos que envolvem fazer uma roupa, as pessoas produzem à mão acabamentos, etiquetas e bordados. Essas etapas precisam ser valorizadas, e nós precisamos comunicar isso. Quem está comprando não sabe o trabalho que dá fazer uma etiqueta, quanto tempo leva para aplicar, quanto tecido se perde.”
Rafaella Caniello

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(Mayra Azzi / casa clã/Fotografia)

“Eu só trabalho com pessoas que já conheço e que tenho uma relação muito próxima. Em relação ao público, acho que é nossa função comunicar. Não acho que as pessoas saibam naturalmente, então precisamos falar de tempos em tempos.”
Teodora Oshima

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“A quarteirização da mão de obra é um dos pontos mais críticos da cadeia produtiva. Isso significa que os fornecedores terceirizam quem costura, faz modelagem, cobre cada etapa do processo. E não existe uma fiscalização das regras pelas autoridades e mesmo pelas próprias marcas. É muito fácil cair em uma situação de não saber quem está fazendo, de fato, aquelas roupas.”
Ana Cecilia Gromann

“Enquanto vamos crescendo, temos que nos adaptar. Os fornecedores vão mudando, e essa é a etapa mais difícil. Você perde o controle. Então, é preciso existir uma preocupação com a quarteirização, minimamente visitar os lugares de produção. Porque muitas confecções, quando crescem, acabam procurando esse tipo de serviço que o próprio fornecedor terceiriza pagando muito mal por isso.”
Rafaella Caniello

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(Mayra Azzi / casa clã/Fotografia)
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