A Copa do Mundo é um evento que une culturas de diversos países ao redor do globo. O momento – um misto de celebração e festa – é essencial para o desenvolvimento econômico e para a diplomacia entre países do mundo inteiro. É por isso que, assim que o Catar foi anunciado como sede da competição, as polêmicas começaram.
Não à toa: informações sobre violações dos direitos humanos vieram à tona e surpreenderam o mundo todo. Acontece que o país criminaliza a homossexualidade, o que deixa torcedores, jogadores e a própria população vulneráveis a violências – este ano, espera-se que mais de 1,2 milhão de torcedores internacionais visitem o local.
O código penal do país pune relações sexuais consensuais entre homens maiores de 16 anos com até 7 anos de prisão. Além disso, qualquer homem que “instigue” ou “estimule” outro homem a “cometer um ato de sodomia ou imoralidade” pode cumprir pena de até três anos.
Nas redes sociais, um pôster mostrando condutas proibidas chegou a circular. Álcool e demonstrações de afeto em público também estão na lista. Apesar de não ser oficial, a mensagem comunicou aos estrangeiros as regras de etiqueta do país.
Regras do Qatar: pic.twitter.com/pIVMHfGSVl
— Curiosidades Brasil (@CuriosidadesBRL) October 6, 2022
Reações
No dia 7 de novembro, o embaixador Khalid Salman, embaixador da Copa, afirmou que a homossexualidade era um “dano mental” e um “haram”, pecado na lei islâmica. Segundo ele, a presença de torcedores LGBTQIA+ seria tolerada durante o torneio, mas ponderou que os turistas “têm que respeitar” as regras do emirado.
Em seguida, um porta-voz da Fifa afirmou estar confiante de que todas as medidas necessárias serão tomadas para proteger esses torcedores e que o ambiente é acolhedor e seguro para todos. No entanto, ativistas do grupo All Out protestaram no dia seguinte em frente à sede da Fifa, em Zurique, na Suíça. O ato reuniu dezenas de pessoas com o objetivo de assegurar que a Fifa e o Catar saibam que o mundo está de olho e espera uma ação da entidade.
Antes de começar a competição, os capitães da Inglaterra, País de Gales, Bélgica, Holanda, Suíça, Alemanha e Dinamarca planejavam usar braçadeiras coloridas com o tema “OneLove” (“um só amor”, em tradução livre). Lançadas em 2020, elas fazem parte de uma campanha de inclusão da Real Associação de Futebol dos Países Baixos (KNVB) que atua contra todas as formas de discriminação. No logotipo, é possível ver uma bandeira de arco-íris em forma de coração com o número um no meio, cercada pelo texto.
Porém, os times foram ameaçados pela Fifa com punições disciplinares, inclusive com cartões amarelos. Alguns torcedores também reclamaram após serem impedidos de entrar nos estádios com itens com as cores do arco-íris. No entanto a ministra do Interior da Alemanha, a social-democrata Nancy Faeser, fez uma espécie de protesto silencioso ao usar o acessório enquanto acompanhava a estreia da seleção do seu país contra o Japão. Em suas redes sociais, ela ainda publicou uma foto usando a braçadeira.
Ver essa foto no Instagram
No último dia 29, o italiano Mario Ferri, de 35 anos, invadiu o campo durante uma partida vestindo uma bandeira com as cores do arco-íris e uma camiseta com os dizeres “respeito às mulheres iranianas” na parte da frente e “salvem a Ucrânia” nas costas. Ele percorreu o estádio Lusail durante 30 segundos no segundo tempo da partida entre Portugal e Uruguai, antes de ser agarrado e retirado pelos seguranças. O Ministério do Exterior da Itália declarou que o homem foi liberado após ficar um breve período preso, mas anunciou que seu cartão oficial de acesso aos estádios do Catar foi cancelado.
¡Mis orgullosas! 🏳️🌈 Liberan a Mario Ferri, hombre que protestó en la cancha del mundial
👉 https://t.co/1GtuULV4bx pic.twitter.com/sBrTO4kqpG— Escándala (@escandalamx) November 29, 2022
O jornalista esportivo Grant Wahl também foi barrado de entrar em um jogo dos Estados Unidos, seu país de origem, porque usava uma camisa com um arco-íris. “Um segurança se recusou a me deixar entrar no estádio para EUA x País de Gales. Você tem que trocar de camisa. Não é permitido”, publicou Grant em suas redes sociais.
Em contrapartida, esta Copa contou com um pequeno, mas significativo, avanço para as mulheres: a francesa Stéphanie Frappart se tornou a primeira árbitra a comandar uma partida masculina. Ao lado das assistentes Neuza Back, do Brasil, e Karen Diaz, do México, ela fez parte de um trio de arbitragem que atuou no jogo entre Costa Rica x Alemanha do Grupo E.
Mais do que relatar e compilar aqui os melhores-piores-momentos dessa Copa do Mundo em relação aos direitos LGBTQIAP+, algo que nos é tão precioso e debatido na Elástica, ouvimos quem faz parte da sigla e foi até o Catar para trabalhar ou curtir o evento. Abaixo, compartilhamos os depoimentos na íntegra, que são recheados de emoções, de privações e de aprendizados.