evolução

Ser um homem negro no Brasil

Convidamos cinco caras que se propõem a repensar suas masculinidades para um ensaio exclusivo

por Redação Atualizado em 15 abr 2021, 15h42 - Publicado em 30 out 2020 00h31

Ser um homem negro no Brasil

O que é ser um homem negro no Brasil? Quais são as implicações de ter a pele mais escura num país abertamente racista, ainda que a maioria da população não seja branca? Que camadas de preconceito e estereótipo vem junto com a masculinidade quando se é preto? Isso muda também a forma de paternar dessas pessoas? Na última reportagem do nosso especial “O que é ser homem?”, assinado por Ismael dos Anjos, convidamos nossos entrevistados para um ensaio que questiona padrões e abre as portas para que cada um desses homens, a sua maneira, se expresse, fale, sorria. Confira aqui embaixo trechos das entrevistas e nossos cliques preferidos. Para ler a matéria completa, é só clicar aqui.

Publicidade

_____

O homem ocupa 85% do Congresso Nacional e 87% dos cargos de CEOs no Brasil. Mas de quem estamos falando quando dizemos “homem”, no singular?

-
(Jef Delgado/Fotografia)

“O modelo de masculinidade hegemônica patriarcal é baseado no homem branco, e em um modelo muito específico de homem branco. Que é o homem branco, cisgênero, hétero, detentor de riquezas, de posses. Próprio do poder, uma figura muito ligada à do coronel, que é esse lugar que o colonialismo traz”

Túlio Custódio, curador de conhecimento
-
(Jef Delgado/Fotografia)
-
(Jef Delgado/Fotografia)
Continua após a publicidade

-
(Jef Delgado/Fotografia)

Túlio Custódio, sociólogo e curador de conhecimento, veste camisa Studio Aurum; gravata Dois Maridos; jaqueta e calça acervo; tênis Vans e óculos Chili Beans

Publicidade

_____

Quando se trata da distribuição de renda no Brasil, por exemplo, raça tem mais impacto que gênero

Os homens e mulheres brancos recebem, em média, R$ 3.138 e R$ 2.379, respectivamente. Com renda ponderada de R$ 1.762, os homens negros ficam abaixo das mulheres brancas e são seguidos pelas mulheres negras, com R$ 1.394.

Publicidade

-
(Jef Delgado/Fotografia)

“Carregamos heranças da escravização em nossos corpos. Não demonstrar sentimento era sinônimo de resistência, força e garantia de vida, e isso se perpetua ainda nos dias de hoje. Temos poucas referências acessíveis de formas de ser homens pretos que fujam do estereotipo do negão, que é o homem negro forte, potente sexualmente”

Everton Mendes, psicólogo
-
(Jef Delgado/Fotografia)
-
(Jef Delgado/Fotografia)
-
(Jef Delgado/Fotografia)
Continua após a publicidade

Everton Mendes, psicólogo, veste casaco À La Garçonne; óculos Givenchy na Safilo; camisa Studio Aurum; calça Gucci e tênis Vans

_____

Jovens negros, entre 10 a 29 anos, possuem 45% mais chances de suicídio que brancos na mesma faixa etária

Publicidade

-
(Jef Delgado/Fotografia)

“Nós, homens negros, somos matáveis fisicamente e também simbólica e subjetivamente. Nossa morte subjetiva se dá quando a única perspectiva do que é ser gente, do que é ser homem, está atrelada a essa identidade branca. E a nossa busca por essa masculinidade é também algo que acelera a nossa morte. Essa construção se utiliza de nós como arma. Produz homens negros que compreendem que a única forma de existir é a partir da produção de violência”

Roger Cipó, escritor
-
(Jef Delgado/Fotografia)
-
(Jef Delgado/Fotografia)
Continua após a publicidade

-
(Jef Delgado/Fotografia)

Roger Cipó, fotógrafo e escritor, veste blazer, camisa e tênis Gucci; calça e broches Minha Avó Tinha; óculos Givenchy na Safilo; e boina Renner

_____

É preciso romper com o ideal hipersexualizado do homem negro que, ao menos em teoria, parece desejável ou elogioso

Publicidade

-
(Jef Delgado/Fotografia)

“Existe a questão da fetichização, a expectativa de enxergar o homem como um pauzudo, e fico pensando o quanto isso descaracteriza ainda mais a gente enquanto pessoa. Porque, quando se é visto, se resume a isso. Aí também entram as outras masculinidades. O que acontece com o cara trans, preto, que não tem pau, por exemplo? Não é homem? São questões que a gente precisa dialogar, trazer para escolas e espaços de formação, porque já deu ficarmos repetindo e produzindo esse tipo de violência”

Pedro Pires, psicólogo
-
(Jef Delgado/Fotografia)
-
(Jef Delgado/Fotografia)
-
(Jef Delgado/Fotografia)
Continua após a publicidade

Pedro Pires, psicólogo, veste blazer, blusa, óculos e calça Minha Avó Tinha; cinto À La Garçonne; e sandália Melissa

_____

Para deixar de performar uma masculinidade que não é ou não precisa ser essa, o afeto entre homens negros pode ser a chave

Publicidade

-
(Jef Delgado/Fotografia)

“Nós homens negros temos um papel fundamental na desconstrução desse sistema, e precisamos construir uma nova estrutura a partir das dores relacionadas ao racismo estrutural e institucional que sofremos. Dores de homens, homens-pais, homens gays, homens trans, homens no plural. Passar para um lugar de mais escuta, de observar e fazer, com atitudes e na prática, as mudanças necessárias para a construção de uma nova narrativa em relação às mulheres e ao nosso lugar no mundo. Nós negros, conforme avançamos, não avançamos sozinhos. E isso abre espaço para que efetivamente o patriarcado diminua”

Bruno Horácio, empreendedor social
-
(Jef Delgado/Fotografia)
-
(Jef Delgado/Fotografia)

Bruno Horácio, empreendedor social, veste camisa, costume e chapéu Minha Avó Tinha; óculos Evoke; lenço Scarf Me; e sandália Melissa

Continua após a publicidade

-
(Jef Delgado/Fotografia)

Bruno Horácio, empreendedor social, veste macacão e chapéu Rodrigo Evangelista

Publicidade

_____

Ficha técnica

FotografiaJeferson Delgado
Direção de arteKareen Sayuri
StylingCaio Sobral
MaquiagemIan Ribeiro
Produção executivaAlexandre Makhlouf
Assistente de fotografiaTassio Yuri
CamareiraLila Gomes

ModelosRoger CipóPedro PiresTúlio CustódioBruno HorácioEverton Mendes

Publicidade

As imagens que você viu nessa reportagem foram feitas por Jef Delgado. Confira mais de seu trabalho aqui.

Publicidade

Tags Relacionadas
mais de
evolução
abre

Guerra da linguagem (neutra)

Por
O que era para ser inclusão social virou uma batalha cultural
legalize

Legaliza, STF!

Por
Porfavorzinho
terpenos_abre

Pimp My Óleo

Por
O uso dos terpenos da medicina à gastronomia
bruno-legitimo_ilustra_01

Recuperação através das drogas

Por
Cientistas demonstram como psicodélicas são uma poderosa ferramenta em tratamentos contra a dependência em álcool, cocaína, crack, heroína e cigarro
revolucao-brasil-eleicoes

É hora de uma revolução

Por
A eleição presidencial se tornou uma escolha decisiva para a democracia, mas não adiantará em nada sem mudar profundamente a sociedade