onfesso que quebrei a cabeça para escrever essa matéria. Do começo ao fim – propor a pauta, pesquisar dados relativos ao tema, entrevistar cada fonte e, de fato, escrevê-la –, me questionei se essa era mais uma matéria que precisava ser escrita. Vocês estão aqui, lendo, então parece que conclui que valia a pena. E isso é verdade. Cada vez mais, principalmente depois de ter começado a pandemia, parece importante falar sobre nossa relação com a internet. Principalmente o quão cansativa, opressora e tóxica ela pode ser.
E isso não é (só) uma percepção minha, mas um fato comprovado por dados. O Indicador de Confiança Digital 2019 (ICD), levantamento conduzido pela Fundação Getulio Vargas, aponta que 41% dos jovens brasileiros relatam sintomas de ansiedade, depressão e tristeza relacionados às redes sociais. A busca por “como fazer meditação para ansiedade” cresceu 4.000% no Google em relação ao ano passado – é claro que a pandemia contribuiu para isso, mas meditar é, para muitos, sinônimo do único momento que passamos longe do celular. Outro estudo, dessa vez da Unicamp, aponta que 40% dos brasileiros relataram tristeza ou depressão nos últimos meses, quase sempre relacionadas ao isolamento e, consequentemente, ao maior tempo que passaram online. Se quase metade do nosso país (e, provavelmente, do mundo) não está sabendo lidar com o tempo que passamos vidrados nos nossos smartphones, o que será que podemos fazer para melhorar essa relação?
“Em 2019, trabalhei muito, celular na mão o tempo inteiro, precisava estar sempre conectado. O relatório semanal do celular registrava 12 horas de uso por dia. Isso é um vórtex, é uma coisa que se estendia desde antes de chegar no trabalho e depois que eu saía. Percebi que olhava para o celular no metrô sem sinal. Desbloqueava a tela por nada e, de repente, estava lá no Instagram preocupado com ter perdido algo. Eu tinha muita fome e muita sede, mas nada me alimentava, era quase como uma dose de droga”, conta Thiago Loreto, publicitário e produtor de conteúdo focado em repensar nossa relação com o ambiente digital.
Natural de Uberlândia, Thiago faz parte de uma geração que, quando chegou na internet, “era tudo mato”. Teve um blog de sucesso em sua região, seguiu para o ramo da publicidade com foco no digital e desenvolveu alguns projetos pessoais, como o “Um texto por dia”, em que escrevia diariamente em sua conta no Medium. “Senti muita dificuldade de dar continuidade nessa história porque me faltava tempo. Escrevia no ônibus, voltando do trabalho, mas comecei a achar que eu estava jogando mais ‘lixo’ na internet”, lembra ele – o projeto durou 178 dias, quase metade de um ano.
A sensação de não conseguir de fato criar nada novo, somada à frustração de não ver as fotos de seus melhores amigos e familiares quando ele entrava nas redes sociais levou Thiago a tomar medidas extremas: uma experiência de unfollow coletivo, o que ele chamou de reset digital. “A gente fica numa coisa muito vaidosa e muito refém do algoritmo, do tipo: o que a amiga da irmã da minha amiga vai pensar de mim se eu parar de segui-la? Eu estava muito cansado de ter esse comportamento, meu olho estava fisicamente cansado da tela. Foi então que decidi escrever um texto no meu Instagram falando que ficaria 30 dias fora dele e, na volta, daria follow só em quem fizesse sentido. Baixei um app que fazia unfollow de 50 em 50, fui considerado spam pela plataforma, tive que fazer uma parte à mão… Na hora, é muito esquisito. É um misto de prazer e agonia, como diria a Sandy”, lembra.
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