uem nunca se comparou com alguém nas redes sociais que atire a primeira pedra. O corpo, o cabelo, o estilo de vida de outra pessoa deixa um sentimento amargo de que, se você passasse mais tempo na academia ou realmente seguisse um cronograma capilar, você poderia ser igual àquela publicação.
As publicidades sobre métodos para emagrecer, ficar mais bonita, fotos e páginas dedicadas aos antes e depois de um emagrecimento também não são de grande ajuda e a pressão estética caí, cada vez mais pesada, no seu colo. “As mídias sociais interferem nos conceitos e comportamentos das pessoas, dentre eles, a idealização do corpo perfeito. Em um estudo publicado no periódico Body Image com mulheres de 18 a 27 anos foi constatado que depois de as mulheres olharem para perfis nas redes sociais de alguém que elas consideram mais atraentes, elas veem seus corpos de forma mais negativa”, explica Vanessa Gebrim, psicóloga.
O ideal da beleza acaba sendo vendido como um produto nas redes sociais através de publicidades que incentivam os padrões físicos considerados ideais, fazendo com que mulheres que não se adequem a esses padrões sintam na pele a angústia e a sensação de não pertencimento. “Dessa forma, a influência da mídia na forma de como os corpos devem ser moldados acaba fazendo com que as pessoas adotem medidas nada saudáveis na busca desses modelos, desencadeando até quadros de solidão, ansiedade, depressão, distúrbios alimentares e compulsão por hábitos prejudiciais à saúde. Isso não significa que a pessoa não deva se cuidar, mas que é importante ter equilíbrio e não cometer exageros”, alerta Vanessa.
A profissional ainda diz que o cenário nas redes sociais acaba deixando algumas pessoas bem sensíveis, fazendo com que elas acreditem que esse contexto representa a verdade absoluta e que elas dependem disso para construir as suas vidas. O excesso de comparações e a necessidade de se encaixar em um padrão podem prejudicar a saúde mental das pessoas. Isso as tornam cada vez mais insatisfeitas, com o desejo de mudar a própria imagem a todo custo. Querem atingir um nível de perfeição que não existe, e esquecem que a internet é um ambiente editado. “Alguns estudiosos até comparam o vício em redes sociais com a dependência de álcool e drogas. Vejo muito isso em consultório, principalmente em adolescentes e jovens. Eles já chegam com quadros de tristeza e baixa autoestima por acharem que são piores que os colegas das redes sociais”.
“Estudiosos até comparam o vício em redes sociais com a dependência de álcool e drogas. Vejo muito isso em consultório, principalmente em adolescentes e jovens. Eles já chegam com quadros de tristeza e baixa autoestima por acharem que são piores que os colegas das redes sociais”
Vanessa Gebrim
O cirurgião plástico Alexandre Sanfurgo conta que, muitas vezes as pacientes trazem fotos desejando algo parecido ou ressaltando detalhes que gostariam como resultado cirúrgico e que é preciso ficar atento se o desejo de realizar o procedimento é algo genuíno ou influenciado por questões externas . “Explico e mostro a diferença da pessoa na foto e da paciente que ela levou, mostro as diferenças que existem entre elas e explico que não deve esperar um resultado igual. Por fim converso muito com ela para entender qual sua expectativa baseada no seu perfil”, conta.
“Quando há o desejo de realizar um procedimento cirúrgico, é necessário entender se isso vem da própria pessoa e não de algum fator externo, que pode ser a mídia ou até uma pessoa próxima. O desejo genuíno é aquele em que a paciente sente desconforto em alguma atividade cotidiana, pode ser ela deixar o corpo mais à mostra como trajes de banho, ou mesmo naqueles minutos diários frente ao espelho. Não há uma receita para identificar se esse desejo é genuíno, é algo que o médico experiente percebe durante a conversa com a paciente e, neste caso, tenta até mesmo desencorajar a realização do procedimento”.