Subvida”. É assim que Sonia Oliveira, 60 anos, define o seu período mais grave com TOC (Transtorno Obsessivo-Compulsivo), doença psiquiátrica com a qual convive desde pequena. Mesmo passando por tratamentos que hoje permitem que ela tenha uma vida melhor, Sonia, assim como outras pessoas diagnosticadas com TOC, se viram apreensivas com a possibilidade de voltar à estaca zero durante a pandemia do novo coronavírus.
O transtorno obsessivo-compulsivo atinge de 2 a 3% da população mundial e tem como principal característica a recorrência de pensamentos, ideias e imagens, na maior parte das vezes absurdas, e a necessidade de realizar rituais para se livrar delas. É como se a higienização extrema, a contagem e o acúmulo de objetos, três tipos de TOC comuns, aliviassem a ansiedade. Em alguns casos, para quem tem esse distúrbio psiquiátrico, não cumprir esses rituais pode significar o acontecimento de algo horrível.
“É coisa da minha cabeça, mas se eu não fizer assim, penso que vai acontecer tal coisa com aquela pessoa, se eu não fizer assado, vai acontecer para aquela outra. É muita culpa”, explica Sonia. “[Com a pandemia] eu piorei, piorei mesmo. O medo te deixa ansiosa e quando a ansiedade vem, é a hora difícil. Você começa a fazer mais rituais”, afirma.
“É coisa da minha cabeça, mas se eu não fizer assim, penso que vai acontecer tal coisa com aquela pessoa, se eu não fizer assado, vai acontecer para aquela outra. É muita culpa”
Sonia Oliveira
De acordo com a revista científica The Lancet, estudos preliminares indicaram que pessoas com transtorno obsessivo-compulsivo podem mostrar uma recaída ou piora nos sintomas com a crise de saúde global de 2020. “A impressão que tenho dos meus pacientes com TOC é que existe um perfil que, com ou sem pandemia, não fez diferença nenhuma. Estavam já tão envoltos nas próprias preocupações, que a pandemia foi só mais um detalhe na vida deles”, conta Antônio Carlos Lopes, psiquiatra especialista em transtorno obsessivo-compulsivo do Instituto Psiquiátrico do Hospital das Clínicas, em São Paulo. “Agora, para outro grupo, piorou. Principalmente para aqueles que tinham sintomas de medo de contaminação. Ficaram mais preocupados, estressados, ansiosos.”
Outro artigo disponibilizado pela Science Direct apontou que as pessoas com esse distúrbio psiquiátrico tendem a ter recaídas em caso de estresse causado por razões externas. A recidiva dos sintomas, segundo o documento, pode demorar dias ou meses para se manifestar por completo. Isso aconteceu em epidemias anteriores como a SARS, MERS e Influenza, onde, após 6 a 12 meses do surto, notou-se uma maior presença de TOC nos pacientes.