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5 filmes nacionais para não perder na Mostra de Cinema de SP

Gênero, trabalho e cultura brasileira estão entre os temas discutidos pelos longas selecionados

por Beatriz Lourenço Atualizado em 22 out 2021, 12h10 - Publicado em 22 out 2021 00h52
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(Clube Lambada/Ilustração)

pandemia de Covid-19 afetou diretamente o cinema nacional. As filmagens foram paralisadas, as estreias não ocorreram nas datas previstas e o desemprego de equipes inteiras mobilizou diversas ações afirmativas para combater a fome da categoria. Além disso, salas de exibição foram fechadas ao redor do país: em Salvador, Curitiba e Porto Alegre, o banco Itaú desligou 17 unidades do Espaço Itaú; já em São Paulo, o antigo Cinearte, do Conjunto Nacional, perdeu o patrocínio e só foi reaberto meses depois como Cine Marquise.

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É nesse cenário de retomada que acontece a 45ª Mostra Internacional de Cinema, em São Paulo, entre os dias 21 de outubro e 3 de novembro. A programação conta com 264 filmes, vindos de mais de 50 países, que serão apresentados nas seções Perspectiva Internacional, Competição Novos Diretores, Mostra Brasil e Apresentação Especial, além da Retrospectiva Paulo Rocha. O formato será híbrido, com exibições online e presenciais.

Para ampliar o acesso, o evento apresentará sessões gratuitas no Vão Livre do Masp, Vale do Anhangabaú, Centro Cultural da Juventude Ruth Cardoso e Centro Cultural Tiradentes. As sessões dos filmes apresentados nas plataformas Sesc Digital e Itaú Cultural Play também serão sem custo. Os ingressos das outras sessões podem ser comprados no aplicativo da Mostra e têm valores variados: de segunda a quinta, eles custarão R$ 24. De sexta a domingos, aumentam para R$ 30.

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(45ª Mostra Internacional de Cinema/Divulgação)

O icônico cartaz desta edição é do cartunista Ziraldo. Ele reflete o filme que estará em cartaz, “Ziraldo – Era uma Vez um Menino”, dirigido por Fabrizia Pinto, com música de Antonio Pinto, filhos do artista. O longa conta a trajetória e a obra de Ziraldo, por meio de depoimentos e entrevistas concedidos por ele ao longo de mais de 40 anos, além de sua grande produção. Ao longo de 100 minutos, há reflexões sobre temas como processo criativo, personagens, família, política e a situação do país.

Essa é uma boa oportunidade para conferir produções premiadas e com narrativas que nos levam a pensar sobre a sociedade e o mundo contemporâneo, são temas que abordam questões de gênero, trabalho forçado, romance e sobre as importantes vivências reproduzidas em documentários. Abaixo, selecionamos cinco títulos nacionais que levantam esses debates:

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(Filme Transversais/Reprodução)

Transversais

A funcionária pública Samilla Marques e a professora Erikah Alcântara nasceram em corpos masculinos. O enfermeiro Caio José e o acadêmico Kaio Lemos, em corpos femininos. Os quatro passaram por um delicado processo de auto aceitação até compreenderem a sua natureza. Já a jornalista Mara Beatriz, mulher cisgênero, enfrentou a transfobia de perto e refez sua vida ao tomar conhecimento que era mãe de uma adolescente trans. Hoje, ela é uma das mais ativas militantes do grupo Mães pela Diversidade, no Ceará. O resgate dessas histórias e seus processos de descoberta estão refletidos em “Transversais”, dirigido por Émerson Maranhão, e produzido por Allan Deberton.

Mesmo sofrendo censura do governo federal, que publicamente anunciou que “não tinha cabimento fazer um filme com este tema” e declarou que ele seria “abortado” do edital da Ancine em que era finalista, o longa teve sua estreia confirmada na Mostra.

“Eu gostaria muito que esse documentário pudesse contribuir para mudar esse cenário tão pavoroso em que vivemos hoje no País. Acho difícil, mas não impossível. É um trabalho de formiguinha. No entanto, se cada espectador que assistir ao filme despir seu olhar dos preconceitos costumeiros para se permitir conhecer esses personagens tão especiais, sentir suas dores e alegrias, e deixar que essas trajetórias tão bonitas e únicas toquem seu corações e mentes, acho que teremos um excelente começo”, comenta, em nota, o diretor.

Exibição:

Centro Cultural São Paulo
22/10/21 – Sexta
Sessão 85 – 19:00

Espaço Itaú de Cinema – Augusta
21/10/21 – Quinta
Sessão 65 – 20:45

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(Já que Ninguém Me Tira Pra Dançar/Reprodução)

Já Que Ninguém Me Tira pra Dançar

Remasterizado a partir de sua versão original e inédita, o documentário é o registro de uma época e, acima de tudo, faz um resgate da participação na cultura brasileira da revolucionária atriz Leila Diniz (1945-1972), cinquenta anos após o seu desaparecimento.

Além de trabalhar na televisão, a artista foi uma figura de relevância para a sociedade brasileira durante a ditadura militar. Isso porque ela lutava pela liberdade feminina: ​​dizia sua opinião sobre assuntos como amor e sexo livremente, bem como sobre a não-monogamia. Outro episódio pelo qual Leila é lembrada é quando foi até a praia grávida, com um biquíni considerado ‘pequeno’ para época. Além disso, também foi perseguida pelo DOPS (Departamento de Ordem Política e Social) por ter supostamente ajudado militantes de esquerda.

“O filme pretende despertar a memória da Leila nas mentes e corações de sua geração, e contar à juventude como ela abriu o caminho para a libertação feminina ao revolucionar os padrões de comportamento. Leila tem muito a dizer à sociedade atual sobre a valorização da verdade, da liberdade e do amor nas relações humanas”, afirma a diretora Ana Maria Magalhães.

Exibição:

Petra Belas Artes
28/10/21 – Quinta
Sessão 383 – 20:40

Espaço Itaú de Cinema – Frei Caneca
29/10/21 – Sexta
Sessão 457 – 13:30

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(Bob Cuspe/Reprodução)

Bob Cuspe – Nós Não Gostamos de Gente

Neste longa, o icônico personagem dos quadrinhos nos anos 80, Bob Cuspe, vive num deserto pós-apocalíptico infestado por astros do pop que estão sempre tentando lhe matar. O cenário onde a história se passa, na verdade, é um purgatório criado dentro da mente do criador de Bob, o cartunista Angeli.

Feito em stop-motion, a produção mistura ficção com documentário e, por isso, Angeli é também personagem do filme. “Bob Cuspe” foi premiado na categoria Melhor Filme na Mostra Contrechamp do Festival de Annecy, na França — o maior evento dedicado à animação do mundo. A direção é de Cesar Cabral.

Exibição:

Petra Belas Artes
25/10/21 – Segunda
Sessão 236 – 13:30

Espaço Itaú de Cinema – Augusta
27/10/21 – Quarta
Sessão 345 – 16:00

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Vão Livre do MASP
29/10/21 – Sexta
Sessão 481 – 19:30

CCJ Ruth Cardoso
23/10/21 – Sábado
Sessão 173 – 19:00

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(7 prisioneiros/Reprodução)

7 Prisioneiros

De forma inédita, “7 Prisioneiros” será exibido no Museu da Imigração de SP, na Mooca. Isso faz parte da parceria da Mostra com o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR), já que envolve a temática “deslocamento forçado”.

Este é um filme inquietante que apresenta uma dura realidade sob uma ótica de poder, solidariedade e traição. A história é sobre Mateus (Christian Malheiros), um garoto de 18 anos de idade, que sai do interior em busca de uma oportunidade de trabalho em um ferro-velho de São Paulo comandado por Luca (Rodrigo Santoro). Chegando lá, acaba se tornando vítima de um sistema de trabalho análogo à escravidão. Assim, o jovem é obrigado a decidir se continua trabalhando para o homem que o escraviza ou se coloca a si mesmo e a família em risco.

Além de ser aclamado pela crítica, a produção foi premiada pelo 78º Festival Internacional de Cinema de Veneza e passou em grandes festivais, como o Festival de Toronto. Com produção dos cineastas indicados ao Oscar Fernando Meirelles (Cidade de Deus) e Ramin Bahrani (O Tigre Branco), este é o segundo longa do roteirista e diretor Alexandre Moratto (Sócrates), que se confirma como uma das novas vozes do cinema nacional. A estreia nos cinemas e globalmente na Netflix está prevista para novembro.

Exibição:

Museu da Imigração
22/10/21 – Sexta
Sessão 117 – 19:00

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(A Viagem de Pedro/Reprodução)

A Viagem de Pedro

O drama histórico dirigido por Laís Bodanzky se passa em 1831. Ele começa a bordo da nau inglesa Warspite, que levou Dom Pedro I (Cauã Reymond) de volta à Europa depois que ele abdicou do trono brasileiro em nome do filho Dom Pedro II. Durante a viagem, o ex-imperador do Brasil busca forças físicas e emocionais para enfrentar o irmão, que usurpou seu reino em Portugal. Pedro, que se vê doente e inseguro, entra na embarcação em busca de um lugar, de uma pátria e de si mesmo.

O longa é resultado de uma cooperação entre Brasil, Portugal e França e foi produzido com quase R$ 8,5 milhões captados e uma equipe de quase 200 pessoas. Além disso, 80% de suas cenas são ambientadas dentro da embarcação. Parte delas foi filmada em estúdios móveis presos por 700 cordas elásticas que simulam o balanço do mar.

Exibição:

Espaço Itaú de Cinema – Augusta
31/10/21 – Domingo
Sessão 560 – 13:30

Espaço Itaú de Cinema – Frei Caneca
03/11/21 – Quarta
Sessão 708 – 18:10

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Vão Livre do MASP
30/10/21 – Sábado
Sessão 534 – 19:30

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