
om licença e com amor, chego para compartilhar e provocar. Tenho insistido na urgência de se pensar amor, afeto bom (direi sempre afeto bom, para especificar já que nos dedicamos muito a produzir afetos ruins: ódio, raiva, inveja, entre outros, mas isso é conversa para outro momento) e as dinâmicas de nossas relações, muito provocado pela série de relatos de experiências de desamores, quase sempre atravessados por micro e até macroviolências. E pergunto: será que isso não é muito mais sobre a forma que nos ensinaram sobre o que é amor e como amar?
Bem, vamos conversar.
E, para começo dessa conversa, me permita dizer: não é o amor que dói. São outras coisas, na verdade: é o descuidado, a ilusão, a desatenção que aflora ansiedade. O que dói não é o amor, é o descompromisso, aquilo que não se fala e o não olhar. Dói a mentira como caminho, ou quando a companhia não te percebe e você precisa se esforçar muito para estar. O que dói é a necessidade de se negar para ser validad@.Tudo isso dói.
Poderia escrever sobre inúmeras dores naturalizadas que, nessa educação, confundimos como provas de amor. Mas quero sugerir que, por questão de saúde social, é preciso um movimento dedicado para negar essas narrativas. O atual momento da sociedade tem provocado que a gente repense muitas questões urgentes das relações sociais, e por que não questionar as dinâmicas desses amores tão celebrados no trovadorismo e em muitas canções da nossa história.
É hora de menos Baden Powell. com “amor só é bom se doer”, e mais Nina Simone, com coragem para sair da mesa quando o amor não for mais servido. Porque é isso que dói. Já faz algum tempo que me debruço a estudar e compreender as dimensões de amor, para além do que o platonismo definiu como norma para as relações. Inclusive para compreender todos os erros e desacertos de relações que poderiam ser incríveis e foram sufocadas por todas as desatenções e confusões que citei no início desta conversa.
Por essas e outras, decidi ampliar as reflexões e trazê-las para espaços como esse, ou para as rodas de botecos, ou reunião de amizades. De início, pode parecer ilusório, porque há históricos de atravessamentos mais densos sobre o amor, e tudo é fácil quando se lê, mas escrevo porque é meu exercício constante. Dá um trabalho danado, mas é melhor que morrer de amores. Afinal, quando morrer pode ser bom? Viver é melhor. Viver de de amor que deve ser a busca!
Talvez, um dos grandes problemas desse momento seja o desamor como sabor de vidas amargas. E sei que não é justo comer, oferecer lixo como amor e justificar isso como resposta à fome. O que há de bom em ser amor que serve de migalha, para abastecer uma cultura de carentes famintos? E, por que ainda é a melhor opção a se viver? Não imponho, mas podemos repensar. Organizar. Juntar todas as pontas. Já sentimos o gosto daquilo que não nos cabe. Que tal criar e plantar o que nos conforta e alimenta a alma, de verdade?
Já costurou suas próprias roupas? Ou, pelo menos já escolheu tecido, forma, tamanho e convidou alguém para a costura? Já plantou e semeou verdura no quintal e depois cozinhou para você e para as pessoas próximas?
Quando proponho sobre construir, é dessas experiências que falo – e dão trabalho mesmo.Normalizaram as crueldades e a gente as busca como caminho de amar. Por isso, aparenta ser parece fácil, mas o resultado é tóxico. Quase que pior que todos os agrotóxicos servidos em nossas mesas, nesse país.
Por fim (mas sem terminar), o que quero sugerir é: plante o novo. Responsabilize-se por semear o amor que quer na mesa para bem receber quem seu afeto convidar para um banquete de cuidado e carinho potencializado. É isso que massageia a alma e é disso que precisamos nesse momento. É isso que não provocará mais dores. Acredita! Vamos juntes? Daqui a pouco, eu volto para continuar essa conversa, pode ser?