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CEO da própria vida

Com 20 anos de estrada e prêmios no cinema e no teatro, Babu Santana também empreende e alavanca novos talentos musicais com sua Paizão Records

por Alexandre Makhlouf 22 jun 2022 00h17
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(Clube Lambada/Ilustração)

alvez você só tenha conhecido o ator Babu Santana no BBB 20, quando estávamos todos confinados em casa e de olho na primeira edição do reality com a presença de famosos. Talvez você, inclusive, não tenha entendido “de onde” que Babu era famoso, já que não costumava vê-lo no horário nobre da TV Globo. O que talvez você não soubesse é que o 4º colocado de sua edição, campeão de paredões na história do BBB (foram 10 durante o confinamento) e futuro protagonista de diversos comerciais que circularam em rede nacional – Americanas, PicPay, 99Food, entre outros – já contava com 20 anos de trajetória no cinema, prêmios de atuação, história no teatro e também na música antes de participar do programa.

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Crescido no Morro do Vidigal, uma das maiores favelas do Rio de Janeiro, Babu passou por diversos trabalhos antes de subir aos palcos e entrar em cena. Fez faxina, foi pedreiro, eletricista e até aderecista de escola de samba. Babu, aliás, é o apelido que Alexandre da Silva Santana escolheu como protesto para um apelido preconceituoso que ouvia muito na infância: “babuíno”. O racismo do dia a dia também o acompanhou na carreira: interpretou muitos assaltantes e moradores da favela antes de viver protagonistas. Recentemente, Babu vibrou ao dar vida a Nanico, policial da novela Salve-se Quem Puder, da TV Globo. 

“É um prazer poder fazer parte de um instrumento de reflexão, acho que o filme abre um debate sadio e a gente tem que, enquanto sociedade, ter sempre esses debates abertos. Poder representar uma história que fez parte da minha vida é muito bom também”

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(Babu Filmes/Divulgação)

E, em seu mais recente trabalho, ele mostra que virou o jogo de fato: em Intervenção, novo filme de Rodrigo Pimentel sobre a intervenção Federal que a Polícia Militar do Rio realiza nas favelas da cidade desde 2008, lançado pela Netflix, ele é Ivan conhecido como Cabo Lobo, um policial de uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP). “É um prazer poder fazer parte de um instrumento de reflexão, acho que o filme abre um debate sadio e a gente tem que, enquanto sociedade, ter sempre esses debates abertos. Poder representar uma história que fez parte da minha vida é muito bom também”, ele conta.

Depois do BBB, o que ele considera um divisor de águas na carreira mesmo com as décadas de trajetória, o lado ator teve que dividir espaço com vários outros sonhos de Babu. Além de filmes e novelas, ele é protagonista de sua própria websérie, Babu 90, no qual fala sobre lifestyle, emagrecimento e esportes em seu canal do YouTube; empreendedor na Paizão Records, selo musical voltado para novos talentos do trap e do funk; e também cantor, com um EP que está prestes a ser lançado. Se nós ficarmos falando tudo que Babu faz, vai faltar tempo e espaço na sua tela. Melhor que isso é ouvir direto da fonte, certo? Confira, então, a entrevista abaixo.

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Queria começar falando sobre sua participação no novo filme do Rodrigo Pimentel. Você morou por muito tempo na favela e pode falar com propriedade sobre os efeitos da ações pacificadoras na comunidade – a importância disso e também as partes difíceis. Como é dar vida a uma realidade tão complexa?
É resultado de muito estudo, pesquisas, conversas. É um privilégio poder falar de um tema tão importante, que durante muito tempo fez parte do meu dia a dia. Foi muito importante poder dialogar com os policiais para saber como é o outro lado. E é um prazer poder fazer parte de um instrumento de reflexão, acho que o filme abre um debate sadio e a gente tem que, enquanto sociedade, ter sempre esses debates abertos. Poder representar uma história que fez parte da minha vida é muito bom também.

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Quais os principais desafios, aliás, de dar vida a um policial nessa empreitada? Você participou de algum laboratório, conheceu profissionais que já desempenharam essa função?
Tivemos o auxílio de profissionais da área: policiais militares, civis, do BOPE. Foi muito interessante, queria aproveitar para mandar um abraço pro meu querido amigo Oliveira, que ajudou muito na composição do meu personagem – postura corporal, linguajar e com toda a questão psicológica, porque a gente retrata a profissão do policial na sua vertente mais tensa, em troca de tiros. A participação desses caras no nosso trabalho foi muito importante. O próprio Pimentel já foi policial, então foi uma preparação muito intensa, mas muito divertida por conta do Caio Cobra, nosso diretor. 

A edição do BBB deste ano teve uma final com mais representatividade negra. Perto de tudo que você ouviu e passou na sua edição do programa, batendo recorde de paredões, como você enxerga esse avanço?
É ótimo, foi muito bom ver o DG e o PA chegarem até o fim. Nessas últimas edições, teve mais presença black, e isso é muito bacana. O Big Brother tem essa coisa do reflexo, de ver que a gente é grande, pequeno, bonito, gordo, magro. Todo mundo é igual. O aumento da representatividade é muito positivo – na minha edição, só tinha eu e a Thelminha. Enxergo tudo isso como abertura de diálogos. No jogo, é uma chance de abrir narrativas em que mais gente possa enxergar o outro. 

“O Big Brother tem essa coisa do reflexo, de ver que a gente é grande, pequeno, bonito, gordo, magro. Todo mundo é igual. O aumento da representatividade é muito positivo – na minha edição, só tinha eu e a Thelminha”

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(Babu Filmes/Divulgação)

Falando em BBB, conta pra gente o que mudaram nesses dois anos desde que você viveu essa experiência? Qual foi a maior conquista que rolou, o que você mais sente falta da casa?
Saudades daquela cozinha, que era do lado de fora, sinto falta real (risos). Em relação às conquistas, eu abri esse caminho da publicidade, que com 20 anos de carreira não tinha acessado, e isso foi graças ao BBB. E o reconhecimento das pessoas. No Carnaval, foi uma loucura, é uma delícia esse carinho, é muito intenso. Só depois do BBB que eu pude experimentar essa emoção. 

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Além de atuar, você tem mostrado seu lado empreendedor e criativo na Paizão Records. Como surgiu o selo e o que essa experiência tem mais te ensinado?
Cara, foi o maior barato. Uma garotada me acessou, começou a me mostrar o universo do trap – eu já gostava muito de ouvir quem está se destacando – e fui descobrindo o tanto de gente talentosa que tem por aí. Começamos a comprar os equipamentos e nos organizar em forma de selo. Hoje, já temos algumas músicas lançadas não só pela Paizão, mas também pelos nossos parceiros. Essa foi uma ponte que consegui criar com a linguagem dos jovens, foi a forma que encontrei de me reciclar e me comunicar com esse público.

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Dos clipes e músicas lançados até agora, pode nos dizer qual a maior aposta? Em que artistas devemos ficar de olho para o futuro?
Cara, nós temos muita gente boa, como o Ramaciote. Não é só a questão de fazer parte do nosso selo, mas a gente quer que as pessoas aprendam a se autoproduzir – e ele é um dos caras que mais aproveita isso. Também tem o Lacerda, a gente vai escutar falar muito dele, e a Manu, que é preciosa. Agora nós vamos lançar “Tô Rico”, que vai ter a maioria das pessoas do nosso selo junto com alguns parceiros, como o Vianna Zero e Kowl. Procurem saber sobre a Paizão Records!

“O que eu mais quero é que eles aprendam a tocar e gerir suas carreiras. Muitos deles não tinham possibilidades de correr atrás, outros até tinham, mas faltava a visibilidade. A Paizão Records funciona como selo porque é mais fácil de explicar assim, mas nós somos uma grande gang, em que um apoia o outro”

Quais são os principais objetivos da Paizão Records?
O que eu mais quero dessa galera é que eles aprendam a tocar e gerir suas carreiras. Muitos deles não tinham possibilidades de correr atrás, outros até tinham, mas faltava a visibilidade, então queria que eles fossem senhores de suas carreiras e empresas. A Paizão Records funciona como selo porque é mais fácil de explicar assim, mas nós somos uma grande gang, em que um apoia o outro. Um filma, outro produz, outro escreve. A gente troca sobre as dificuldades de criar música para o streaming, como montar um clipe, como participar de editais. Minha preocupação é mais no âmbito “família” do que com os resultados. Claro que eles virão com o tempo, nós estamos em constante evolução. E eles me encorajaram também para cantar, estou fazendo meu EP. A gente vai evoluindo junto. O objetivo é que a gente vire uma grande cooperativa de pequenas produtoras que formam esse selo grande.

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A gente vive em uma sociedade racista que, ao mesmo tempo em que minimiza e violenta pessoas negras, também consome massivamente elementos da cultura negra – funk, trap, até mesmo o Carnaval. Como você vê seu papel em apoiar novos artistas e estar presente na mídia falando sobre o tema?
Eu faço isso como uma retribuição à vida, porque quando eu era um jovem periférico, eu tive o Voz do Morro, onde aprendi a exercer toda minha arte, gerir minha carreira, e quero que a Paizão Records seja isso: abrir sociedades com esses moleques que tão correndo atrás dos sonhos. Queria poder fazer parte dessa caminhada e ajudá-los no que eu conseguir como retribuição. Espero que cada menino desses que a gente trabalha na Paizão veja em mim um parceiro de caminhada e que eu possa mostrar o caminho que eu trilhei porque, a partir de algum momento, eles vão trilhar sozinhos. E quero aprender com eles também, porque sou um eterno aprendiz da vida.

“‘Babu 90’ me trouxe hábitos muito bacanas: não bebo mais refrigerante, o que me ajudou a controlar a glicose no sangue. Relaxei um pouco ultimamente, e quero falar sobre isso também, recaídas e retomadas. Quis dividir isso com os outros porque sei que existe muita gente como eu, que tá na luta por uma vida saudável”

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(Alessandra Lima/Divulgação)
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Queria falar um pouco também sobre Babu 90, série em que você fala emagrecimento, esportes radicais, lifestyle. De onde surgiu a vontade de falar sobre esses temas?
Foi da necessidade de manter minha saúde. Inclusive, vou até retomar esse diálogo, porque me encontrei num momento perdido na minha própria proposta, mas eu não desisti de mim. Também consegui reparar que a série me trouxe hábitos muito bacanas: não bebo mais refrigerante, o que me ajudou a controlar meu nível de glicose no sangue. Relaxei um pouco ultimamente por causa das tensões da vida, e quero falar sobre isso também, recaídas e retomadas. Mas trocar esses hábitos foi fundamental, porque mesmo quando você vacila um pouco, fica mais fácil voltar pra regra e continuar sendo saudável. O que me interessou e me levou a buscar isso foi minha própria vida, quis dividir isso com os outros porque sei que existe muita gente como eu, que tá na luta por uma vida saudável. Aí, aproveitei a projeção da internet e das redes sociais para, juntos, a gente corre atrás.

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Aliás, a gente fala bastante sobre corpo na Elástica e queria saber como foi para você, um homem gordo, estar no BBB e trabalhar desde sempre com a sua imagem.
Não tenho problema nenhum com meu corpo. Sei de todas as questões relacionadas ao corpo gordo que poderíamos falar aqui, mas se eu perdi personagem por causa do meu corpo, graças a Deus não fiquei sabendo. Às vezes, para eu viver o Maguila, com certeza vou ter que chegar em um corpo que se assemelha ao dele e isso faz parte da profissão. Mas eu sempre fui tranquilo em relação a isso. Já fui muito magrelo, muito gordinho, então soube lidar com todas as fases do meu corpo, da minha idade.

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“Não tenho problema nenhum com meu corpo. Sei de todas as questões relacionadas ao corpo gordo que poderíamos falar aqui, mas se eu perdi personagem por causa do meu corpo, graças a Deus não fiquei sabendo”

Por fim, queria te perguntar sobre próximos projetos que você possa nos contar e, depois de tantos anos de carreira e a ascensão midiática desde o BBB, o que você ainda espera conquistar?
Quero participar da correria dos meninos da Paizão, vê-los crescer, esse é o principal. Tem a 2ª temporada de Central de Bicos, e também estou no Jogo que mudou a história, nova série da GloboPlay, e outros filmes que ainda vão estrear. De resto, sigo aqui trabalhando, que venham muitos convites! A arte é minha bandeira, meu ofício e meu vício. Vamo que vamo, que é pra frente que se anda.

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