Fabio Audi adquiriu o hábito de enxergar o melhor nas pessoas. Esse não é necessariamente um traço inato do fotógrafo e ex-ator, mas uma particularidade tonificada com o tempo e com a prática. Muitos o conhecem por seus belos retratos de celebridades, modelos e personalidades públicas. Outros o conheceram pela primeira vez quando Fabio, em 2010, estreou o curta-metragem “Eu não quero voltar sozinho”, dirigido por Daniel Ribeiro.
Ao lado do ator e bailarino Ghilherme Lobo, Fabio protagonizou o romance adolescente que nasce entre os corredores de um colégio e o caminho de volta para casa dos dois jovens. Leonardo (interpretado por Ghilherme) é um jovem com deficiência visual que conhece Gabriel (Fabio), um novo aluno da escola. Na época, ainda que não faça tanto tempo, as redes sociais davam seus primeiros passos e o sentido de um conteúdo viralizar pela internet era diferente do que vemos acontecer atualmente. Mas fato é que o curta viralizou e encantou muitos jovens que lamentavam a falta de narrativas LGBTQIA+. Após quatro anos, o curta virou um longa, que novamente alcançou sucesso e chegou até mesmo a ser indicado pelo Brasil como o filme que representaria o país no Oscar – embora não tenha sido efetivamente indicado na categoria de Melhor Filme Internacional. “Até hoje, recebo mensagens de pessoas que viram o filme. É impressionante a potência dele. Eu estava muito realizado de fazer parte daquilo e do que o filme proporcionava para elas.”
Nascido em Itapira, no interior de São Paulo, caçula entre de três filhos, a vida de Fabio passou por uma revolução quando o curta estreou. Da pequena cidade de pouco mais de 70 mil habitantes, logo o jovem estava viajando por diversos países para exibir o curta, e em seguida o longa, que apresentava dois adolescentes descobrindo suas sexualidades. Na sua vida privada, foi naquele momento que Fabio se assumiu para a família e amigos. Ele considera que aquela foi uma das primeiras formações de sua sensibilidade.
“Fui percebendo que a minha animação como ator talvez não viesse de um âmago, um desejo genuíno. Vinha de um lugar, talvez, mais ligado à minha vaidade”
Diante do sucesso, havia uma expectativa própria, e também do público que o acompanhava, de que o caminho lógico fosse continuar atuando. E foi o que Fabio tentou fazer – até certo ponto. Naquela altura, ele já havia concluído faculdade de cinema. Quando decidiu concorrer ao papel na obra de Daniel Ribeiro, o impulso era fruto de uma curiosidade, muito mais do que um sonho que cultivava em ser ator. Havia, no entanto, um deslumbre pela carreira e pelo teatro. E, logo, sua visibilidade trouxe bons resultados. Foi convidado para participar da seleção de elenco da novela “Alto Astral”, da TV Globo. Aprovado, fez as malas e embarcou para o Rio de Janeiro, onde morou por três anos. Nas telas, tudo parecia correr bem. Fora delas, Fabio enfrentava uma crise de propósito. “Fui percebendo que a minha animação como ator talvez não viesse de um âmago, um desejo genuíno. Vinha de um lugar, talvez, mais ligado à minha vaidade. Eu tenho uma parada de eu quero ser tudo. Eu quero ser marceneiro, quero ser músico, quero ser fotógrafo. O meu problema é querer abraçar o mundo.”
No meio das gravações, ele se deu conta de que não queria persistir na profissão. “Eu não me sentia feliz lendo o texto, fazendo, nada. Não posso nem dizer que não gostei, mas entrei em crise, aceitei e pensei que deveria ter um lugar no qual eu seria mais feliz.” Daquela reflexão, vieram outras. Lembrou do tempo em que gravou “Eu não quero voltar sozinho” e pensou que talvez aquele período tampouco tenha sido muito feliz. Tinha um incômodo constante.