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Fat Family e a volta do pescocinho

As irmãs Katia, Suzete e Simone Cipriano relembram histórias dos 25 anos de carreira do grupo enquanto se preparam para sair em nova turnê

por Artur Tavares 23 ago 2023 11h28

Dance, dance, dance. Se tem uma coisa que o Fat Family faz desde que surgiu como uma avalanche no cenário musical é colocar a gente para dançar. Há 25 anos, a família de Sorocaba se uniu para tentar a carreira musical e mostrar o potencial da música negra brasileira para o mundo. Hoje, três das integrantes retomam o legado para celebrar a música que continua nos movendo.

Fenômeno dos anos 1990 e 2000 e, na época, formado pelos oito irmãos Celinha, Celinho, Deise, Katia, Sidney, Simone, Sueli e Suzete, o Fat Family conquistou o público com suas vozes potentes, energia contagiante, gingado e um toque de referências ao gospel norte-americano. Agora, Suzete, Simone e Katia Cipriano tomaram para si o desafio de retomar os trabalhos do Fat Family. Depois de perderem a irmã Deise, grande voz e incentivadora do grupo, levou um tempo até decidirem ocupar o palco em menor número.

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(Fat Family/Arquivo)

“A palavra que vem à mente é emoção. Dentro da coisa gostosa que é voltar, tem o desafio, a responsabilidade. Porque quando nós surgimos, tínhamos oito vozes no palco. Tinha todo o apoio, um irmão do outro. Hoje, essa retomada, agora com um novo formato, com três vozes, traz um pouquinho da ansiedade, da emoção, do medo”, avalia Suzete Cipriano, que também se sente realizada com todo o apoio que vem recebendo.

Com a premissa de celebrar a história do Fat Family, sua contribuição ao R&B e ao pop brasileiro, a nova turnê de 25 anos faz ode à música, à família e à energia da banda que conquistou o público no Brasil e de muitos países com canções como “Fim de Tarde”, “Jeito Sexy” e “Eu Não Vou”. A primeira data do grupo é neste final de semana, quando as irmãs encontram o público mineiro no Festival Sarará. Na ocasião, as artistas vão receber Talita, filha de Deise Cipriano, para uma participação especial.

Entre muitas gargalhadas, conversamos sobre as expectativas e os novos caminhos que as três decidiram trilhar nesta nova fase. “A gente achou que já fosse aposentar, mas Deus falou ‘Não, minha filha. Vai trabalhar’. Bora trabalhar então! Mesmo com o tempo que a gente ficou parada, nossos fãs continuaram ouvindo e mandando carinho pra gente. Então, a gente tem muito a retribuir”, diz Katia.

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O que significa esse retorno para os palcos depois de tantos anos?
Suzete Cipriano:
A palavra que vem à mente é emoção. Dentro da coisa gostosa que é estar voltando, tem o desafio, a responsabilidade. Quando surgimos, tínhamos oito vozes no palco e todo o apoio de um irmão pro outro. A gente sentia aquela segurança. E hoje, essa retomada, agora com um novo formato, com três vozes, traz um pouquinho da ansiedade, da emoção, do medo. É um misto de emoções. Mas, simplificando, estamos realizadas. Tem uma expectativa do público e tem o apoio da nossa família, que é muito importante. Estamos preparando tudo com muito carinho pra suprir essa expectativa e surpresas com tudo que vem acontecendo. Tá sendo muito rápido e a não vamos perder esse timing, não.

Katia Cipriano: É um misto de emoções: nervosismo, ansiedade, medo, desespero, tudo! É uma nova fase. A gente achou que já fosse aposentar, mas Deus falou: ‘não, minha filha. Vai trabalhar!’ Bora trabalhar então. Retribuir todo o carinho dos fãs, que continuaram ouvindo e mandando carinho pra gente. A gente tem muito a retribuir. É desafiador! Mas a gente sabe que vai valer a pena.

Simone Cipriano: Nós fizemos o pré-lançamento dessa turnê, foi maravilhoso ver o carinho dos fãs cantando junto. Eu mais chorei do que cantei! [risos]

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(Murilo Amancio/Divulgação)

Agora, pra quem foi no palco da Hebe, na Xuxa, no Altas Horas, só agora o nervosismo tá batendo? E como vocês se sentiam nessa época?
Suzete:
Não, meu amor! A dor de barriga é a mesma a vida inteira. Sempre ficamos muito nervosos. Sabe quando você almeja? A gente almejou estar lá. E quando estávamos, queríamos sair correndo gritando: ‘Meu deus, eu tô aqui!’. Tudo foi resultado de um trabalho com muita seriedade que assumimos na música. Nós fomos introduzidos e fizemos com o maior carinho todos esses programas. Nós levávamos nossa verdade.

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Cada um tinha um ritual para entrar nessas situações?
Katia:
Cada apresentação era um nervosismo. O Sidney gritava antes de entrar no palco. [risos] Lembra, Suzete? Dava uma mijadeira nele. Aí ele dava um gritão e aí entrava no palco. [muitos risos]. No fim, a gente acabava rindo dele, aí já descontraía e relaxava. No palco, a primeira música era sempre tensa. Depois ia ficando à vontade…

Simone: Depois vai piorando! [risos]

Suzete: O grito do Michael Jackson, ele copiou meu irmão. [risos] E a gente chorava de rir!

“Sempre ficamos muito nervosos. Sabe quando você almeja? A gente almejou estar lá. E quando estávamos, queríamos sair correndo gritando: ‘Meu deus, eu tô aqui!’.”

Suzete Cipriano, vocalista do Fat Family
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(Lucas Lourenço/Divulgação)
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Assisti de novo essas entrevistas e notei que era sempre um clima muito gostoso, mas analisando bem, eram todas pessoas brancas no público, além dos apresentadores. Como eram esses ambientes?
Suzete:
A gente sabia que ia causar. Porque tudo preto, tudo gordo, com mais de cem quilos. Chegou pra abalar e foi um choque mesmo. Ninguém era discreto ali, né? Era pra chegar mesmo e chocar. Sabíamos que teria impacto, mas não imaginávamos que fosse tanto. Tinha criança que ia no camarim depois das apresentações e se assustava conosco. O pai falava, ‘vai lá tirar foto com eles’ e a criança chorava porque não estava acostumada com a pretada. [risos]

Katia: A pretada chegou pra causar! [risos] Na verdade, não tinha muito espaço na TV mesmo, então assustava. Sempre que a gente assistia a TV, era tudo branco. Aí de repente teve esses pretos, gordos… E um monte! Rindo alto, falando alto. Foram várias barreiras quebradas.

Simone: Hoje é um pouco mais normal, mas não tinha esse espaço antes, não. Hoje tá docinho, mamão com mel e leite ninho por cima [risos]

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(Lucas Lourenço/Divulgação)

Hoje a gente tem uma discussão muito mais importante também sobre gordofobia. Mas ali naquela época apresentavam vocês falando o peso de cada um. Como era isso?
Suzete: É verdade. Quando chegamos, éramos meio alienígenas pra eles, uma coisa engraçadinha entende? Olha que legal, tudo gordo e tudo preto. Olha!

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Katia: E onde a gente ia, tinha muita comida pra nós. Muita comida. No Brasil e la fora também.

Suzete: E até hoje é assim. Tem que respeitar o Fat, montar um camarim top, que a gente gosta mesmo. [risos]

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(Lucas Lourenço/Divulgação)

Nessa turnê vocês vão reviver alguns momentos que com certeza foram muito marcantes, um pouco pelas músicas, um pouco por vocês em palco. Tem algum momento que vocês estão ansiosas para recordar?
Suzete:
O contato com os fãs. Porque depois da pandemia teve aquele distanciamento e a gente estava num luto profundo. Nos distanciamos um pouco. Então esse retorno está trazendo muita coisa boa, um ânimo. Tem fãs que viraram amigos, que frequentam a nossa casa. A gente sente muita falta de estar direto com eles. Marcávamos almoços tínhamos uma ligação muito direta.

Katia: Legal que os fãs do nosso primeiro fã-clube foram no pré-lançamento da turnê. Muito emocionante, muito lindo.

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“A pretada chegou pra causar! [risos] Na verdade, não tinha muito espaço na TV mesmo, então assustava. Sempre que a gente assistia a TV, era tudo branco. Aí de repente teve esses pretos, gordos… E um monte! Rindo alto, falando alto. Foram várias barreiras quebradas.”

Katia Cipriano, do Fat Family

Então vocês criaram realmente uma família paralela com os fãs e que se arrasta até hoje. Como vocês lidam com esse novo público e com essa relação com redes sociais?
Simone:
Tem sido legal. Eu já acordo no Instagram, adoro. Quando tenho tempo, fico o dia inteiro respondendo. Converso, canto, gravo vídeo pro amigo, pra mãe, pra não sei quem. Antes tinha aquela proximidade pessoal, mas hoje podemos estar perto deles pela telinha. Eu gosto bastante. Sou um pouquinho viciada.

Suzete: Falo pra ela que é bom aproveitar bastante. Quando ela casar, tiver filho, isso aí esqueça. Eu não entro, não pego no celular porque a gente é dona de casa também. O povo acha que é tudo glamour, mas não. Tem que fazer comida, mercado. Alguém tem que trabalhar.

Katia : Antes eu ficava muito. Já acordava já fazendo vídeo. Ultimamente, não tô tendo tempo. Tô tentando ir pros meus seguidores, mas eu vou voltar meus vídeos e tudo, mas não tô tendo tempo. Quando vou ver o dia já acabou e não postei. Ai já era. Na pandemia, eu fazia lives na madrugada. Depois não deu mais tempo.

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(Lucas Lourenço/Divulgação)

“Jeito Sexy” é a grande música da carreira de vocês. Mas tem alguma outra que ganhou algum significado especial para vocês ao longo desses anos?
Suzete: A nossa primeira apresentação foi com uma música do Fugees, “Killing Me Softly”, que até hoje faz parte do repertório. Eu acho que trouxe bem a sonoridade do grupo. E tem outras que são eternas, né? “Eu não vou”, “Fim de Tarde”

Vocês relançaram os clipes, como o de “Jeito Sexy”. Como vocês se veem naquele momento e hoje?
Suzete: Uma vitória, meu amor. Valeu a pena! Voltar no ponto de partida e saber que ainda a gente está caminhando, aprendendo, crescendo, evoluindo. E isso é muito legal, porque ali a gente estava nascendo, não sabia de nada, nem se daria certo.

Tem alguma história muito marcante que vocês não se esquecem jamais?
Suzete:
Marcou mesmo o momento que estávamos na van e ouvimos pela primeira vez “Jeito Sexy” no rádio. Nos desesperamos, foi a maior gritaria, choradeira, porque não esperávamos aquilo tão rápido. Foi muito emocionante, e a partir dali nunca paramos. E também quando chegamos no Japão, imagina? Foi um sonho. Fizemos shows, divulgação, programa de televisão. Aqui não havia portas abertas na TV e lá fomos até capa de revista. Foi demais, eles faziam pescocinho. “Fato family”, eles falavam [risos].

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(Lucas Lourenço/Divulgação)

Como era divulgar o trabalho tão longe de casa?
Suzete: Hoje nós entramos na era digital, mas na época era tudo presencial. A gente ia a esses países para fazer divulgação. Muitas vezes, nos separávamos. Iam dois em uma rádio, dois em outra, porque o cronograma de compromissos era muito apertado. Como éramos um grupo grande, dava para atender todo mundo ao mesmo tempo. A gente ia levando o nome e isso, claro, foi gerando retorno para o grupo. Hoje que tem o digital é uma praticidade, mas não tem nem comparação com vivemos lá atrás. Era trabalhoso, mas gostoso, porque tivemos a oportunidade de estar nesses países que hoje você chega pela internet.

Agora tem uma nova geração, representada pela Talita. Como vocês se relacionam entre carreiras?
Suzete:
A Talita também carrega um pouco dessa responsabilidade, é filha da melhor cantora no nosso grupo, pense! A Deise assinou todas as músicas e hoje nós estamos reproduzindo essas músicas com a nossa capacidade, com a nossa interpretação. E a Talita também, porque carrega o nome da mãe com um talento incrível. Ela tem todo o nosso apoio e também nos apoia muito. Ela é parceira do Fat Family!

Katia: Ela inventou de nos colocar para fazer coreografia nos shows dela.

Suzete: A gente está muito feliz porque ela é a quarta geração. Sabemos do talento o Senhor derramou sobre a família, mas tem uns que vão se descobrindo um pouquinho mais cedo e se destacando. A quarta geração de artistas da família é grande. Ela é guerreiraça, assumindo a posição dela, o legado e nós estamos muito orgulhosas.

“Quando chegamos no Japão, imagina? Foi um sonho. Fizemos shows, divulgação, programa de televisão. Aqui não havia portas abertas na TV e lá fomos até capa de revista. Foi demais, eles faziam pescocinho. “Fato family”, eles falavam [risos].”

Suzete Cipriano, vocalista do Fat Family

Como é seguir sem a Deise?
Suzete:
Tem momentos que bate aquela saudade eterna, não tem como. Às vezes, no ensaio, a gente sente um pouquinho, começa a chorar, aí o outro lembra de uma história. Quando vai subir no palco, lembra. Mas não é um choro de tristeza, é saber da conquista.

Cada um que passou pelo grupo deixou sua marca, sua história. A gente sabe da importância do Fat Family no cenário da música, mas tem hora que a gente não aguenta, não. Nós somos meio manteiga. É com muita alegria que a gente está levando agora esses 25 anos para o palco, e gratidão a Deus, porque até aqui o Senhor nos carregou. Literalmente. A fé é o que move. A gente respeita todos e sabe que cada um tem o seu caminho na religião, mas a gente fala do que nos move.

Katia: É a fé mesmo que nos sustenta, é Jesus, porque senão nós não estávamos aqui, não. Ele fala: ‘levanta, gordinha, vai, se anima’ [risos]

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(Lucas Lourenço/Divulgação)
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