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Elástica explica: gouinage

Entenda mais sobre a prática de sexo sem penetração, de onde surgiu o nome e como praticá-la em segurança

por Redação Atualizado em 3 Maio 2022, 14h12 - Publicado em 2 Maio 2022 23h49
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(Clube Lambada/Ilustração)

ocê provavelmente já praticou gouinage na sua vida, ainda que esse termo seja completamente novo para você. Esse é o nome dado à prática sexual que não envolve penetração, algo que existe… desde sempre. E que também já recebeu todo tipo de nomenclatura diferente: preliminar, pulsão sexual, sexo tântrico, frotteurismo, tribadismo e por aí vai. 

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“O termo deriva da expressão gouine, que em francês se traduz para ‘sapatão’. Ou seja, pessoas praticantes de gouinage são aquelas que praticam sexo não penetrativo”, explica o Dr. Eduardo Peres, médico e sexólogo que atua nas áreas de saúde sexual e HIV em Londres, na Inglaterra, e está atualmente se especializando em saúde LGBTQIA+. “Aqui, vale um adendo de que é uma ideia bastante limitada do sexo lésbico de caracterizá-lo como “não penetrativo”, por diversos motivos: existem mulheres com pênis que penetram mulheres sem pênis; mulheres cis que se relacionam entre si também se penetram, com o uso de brinquedos, dedos e afins”, complementa o especialista.

pode com as mãos, com a língua, com os genitais, com o dedão do pé, com apetrechos, pode com o que você imaginar

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Mais falado lá fora, o termo gouinage ganhou fama no Brasil quando surgiram as primeiras menções aos “g0ys”, homens que fazem sexo com homens, mas não se identificam como gays. Apesar de saber que essa é uma definição que carrega certa homofobia em seu conceito, é inegável que ela abre, também, um leque de opções para além do espectro binarista de sexualidade. “Existem héteros, homos, bissexuais e pansexuais. Sexualidade e afetividade são espectros que envolvem diversas particularidades. Concluir que homens que fazem sexo com homens deveriam necessariamente gostar de penetração anal, ou necessariamente ter uma orientação afetiva/romântica por outros homens, cai nessa categoria de assunto do passado”, complementa Dr. Eduardo. 

Ainda assim, o nome gouinage acabou se popularizando e dando um senso de pertencimento e comunidade para quem simplesmente não curte penetração, independentemente da sexualidade. Aliás, esse é um ponto importante: quem é gouine – autodenominação criada pelos próprios praticantes – pode ser hétero, bi, gay, lésbica, pan ou ter qualquer outra orientação. Falamos aqui de uma prática sexual preferencial ou majoritária. “Tal qual aquele seu amigo que é passivo até a morte ou sua amiga que só quer saber de usar a cintaralho nas relações sexuais”, compara o médico.

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(arte/Redação)

Gouinage: o que está incluído?

Todo o resto além da penetração! Quando a gente limita a ideia de sexo a enfiar o pênis no ânus ou na vagina, estamos deixando de lado uma inifinidade de possibilidades de estimulação de outras zonas erógenas e práticas que também podem ser muito prazerosas. “Se trocarmos gouinage por ‘sexo não-penetrativo’, daí tem todo um universo de estímulos erógenos que nós somos mais familiarizados. Boquete, masturbação mútua, esfregação (frotteurismo), tesourinha (tribadismo), beijo grego, chupada no mamilo, na nuca ou onde mais você conseguir por a boca. Na real, o sexo rola muito mais além da penetração do que a gente se permite imaginar!”, completa Dr. Eduardo.

se acha que é só penetração, você está desatualizado

Fato é que, finalmente, estamos conversando mais abertamente sobre sexo e desmistificando muitas coisas que reduziam o conceito – como o de que transar precisa envolver penetração. Afinal, o que é sexo para você? Em um contexto socio-cultural (e consideravelmente cis-heteronormativo, patriarcal e capacitista), aprendemos que sexo é o ato penetrativo pênis-vagina com o intuito de reprodução. Essa construção semântica do que é o sexo é algo tão forte que organizamos o sexo num roteiro pré determinado: flerte, preliminares, penetração e clímax. “Eu abordo o sexo de uma forma um pouco mais inclusiva e abrangente. Na minha opinião, sexo é toda atividade com o intuito de oferecer e obter prazer entre as partes envolvidas, com estímulo de zonas erógenas e com o consentimento das partes para a estimulação”, explica o sexólogo. “Se as pessoas gozam através do gouinage, quem sou eu pra dizer que não é sexo?”

E pensando em corpos não-normativos, o Dr. Eduardo continua, pode ser libertador entender que estímulos sensoriais que levam ao prazer e não necessariamente envolvem a penetração podem ser considerados sexo. “Nesse raciocínio, se identificar como gouine permite que – por exemplo- PCDs, homossexuais, pessoas com condições crônicas que não podem ser penetradas sintam-se também pessoas sensuais e com direito a explorar sua vida sexual. A normatividade é uma caixinha muito pequena e, às vezes, é bom pensar fora dela.”

momentos delícia entre duas ou mais pessoas

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Gouinage e IST’s: estou livre delas?

Quando falamos sobre sexo como um todo, estamos falando de saúde. Uma vida sexual saudável faz parte dos critérios determinados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para avaliar a qualidade de vida de um indivíduo. “Quando conversamos sobre ISTs [infecções sexualmente transmissíveis], isso é um papo sobre prevenção e segurança. É importante fazer essa diferenciação principalmente para reduzir o estigma em torno das ISTs. Muitas pessoas vivem com ISTs assintomáticas, indetectáveis e/ou não-curáveis e, ainda assim, são saudáveis e têm uma vida sexual saudável”, pontua Dr. Eduardo

Dito isso, a resposta para a pergunta aqui em cima é: não. Toda pessoa que tem uma vida sexualmente ativa está exposta a ISTs, o que varia de uma prática para outra é a probabilidade de contrair tal infecção. No caso do HIV, por exemplo, os profissionais de saúde sexual consideram que o sexo oral e o sexo não penetrativo como um todo são práticas seguras e pouquíssimo prováveis de transmitir o virus.

não precisa definir senão quiser(nem penetrar)

“Mas existem diversos outros microorganismos transmissíveis pelo sexo e que podem ser contraídos no contato de mucosas, pele-pele e pelo sexo oral. O mais comum é o vírus da herpes, que é transmitido no contato com lesões ativas. A clamídia e gonorreia também podem ser trasmitidos no sexo oral e no contato direto com fluidos – é o caso de gonorreia ocular, por exemplo. Já o HPV pode ser transmitido pelo contato pele-pele com lesões verrucosas ativas, ou seja, até a masturbação mútua seria uma via de transmissão.

Em resumo: o sexo envolve contato entre corpos e troca de fluidos – saliva, suor, semen, sangue e afins –, logo, sempre existe o risco de algum tipo de transmissão”, completa o médico.

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(arte/Redação)

Sexo não é só penetração

Agora que você já sabe tudo sobre gouinage – o que a prática inclui, quem pode experimentá-la e como praticá-la em segurança –, fica o lembrete: é muito interessante que a gente saiba os nomes do que estamos fazendo entre quatro paredes (ou mesmo ao ar livre), mas isso não significa que nossa visão sobre sexo precise ser limitada. Existem milhares de formas de obter prazer – e a penetração é só uma delas. E falar sobre isso é importante, ainda mais em um país como o nosso, em que a educação sexual é praticamente inexistente e tudo relacionado ao sexo acaba virando tabu. “É sempre importante falar de sexo, ainda mais daquele sexo que ninguém nos ensina: o que tem a finalidade de ser prazeroso e sob medida”, complementa o sexólogo.

aquilo que você curte fazer com quem você curte

Além disso, falar sobre possibilidade no sexo é fugir da normatividade que, aqui na Elástica, a gente luta tanto contra. Sexo é para todes, com qualquer tipo de corpo, de qualquer gênero ou orientação. “Ampliar o significado do sexo pra além do coito permite que as pessoas possam experimentar o sexo e se sentir pertencentes à sociedade, saudáveis, empoderadas e detentoras de conhecimento do seu próprio corpo e suas zonas erógenas.

Sabendo que sexo sem penetração também é sexo, nós conseguimos conscientizar as pessoas dos potenciais riscos e das medidas preventivas e de cuidado nessas práticas, pra garantir que todes possam ter vidas sexuais saudáveis de forma holística”, finaliza Dr. Eduardo.

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