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João Pedrosa na Cama Elástica

O professor de geografia que o Brasil mais ama agora é apresentador e encara nosso questionário

por Alexandre Makhlouf Atualizado em 7 out 2021, 15h40 - Publicado em 18 ago 2021 23h39

Falar para o público sempre foi coisa corriqueira na vida de João Pedrosa. Em 2021, no entanto, o tamanho da audiência mudou. Os ouvintes frequentes, alunos da rede pública mineira, em que João dava aulas de geografia, foram substituídos por milhões de brasileiros, que acompanharam a trajetória do professor em rede nacional no BBB 21. Depois do confinamento, que terminou em abril para João, as mudanças foram muitas – e muito bem-vindas. “Eu mudo tanto no meu dia a dia quanto na minha vida. Se você vier na minha casa hoje, os móveis estão de um jeito. Amanhã, já estão de outro. Mudo corte de cabelo, roupa, tudo. Não sou apegado a lugares e às coisas que eu tenho. O BBB é a maior mudança porque passei de uma pessoa anônima para uma alguém que é reconhecido no mercado. Isso acontece porque, durante o programa, a gente está na casa das pessoas todos os dias”, ele conta, explicando que lidar com a saída do anonimato tem sido tranquilo e, na maior parte do tempo, uma experiência gostosa. “Não me arrependo de nada. Dentro do Big Brother, fui muito sincero comigo mesmo, principalmente, e consegui construir alianças, amizades e relações que eu pretendia carregar pra fora.”

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(Arte sobre foto de Roberto Trumpas/Divulgação)

Quase quatro meses depois, quem ouve João falar continua sendo um público maior do que uma sala de aula. Além de quase 4,5 milhões de seguidores no Instagram e no Twitter, ele mostra o lado apresentador no Trace Trends, programa de cultura afrourbana do canal Trace, disponível no GloboPlay e no MultiShow, e também no talk-show Entrevista, que deve estrear no Canal Futura no mês que vem. “Pela primeira vez, consigo ver um produto audiovisual feito majoritariamente por pessoas negras e apresentado por pessoas negras. Antes, era só um repórter pontual, um âncora, Acho que vivemos um momento em que a gente consegue se reconhecer na TV, não ficamos presos àquela ideia novelística de que a vida é de um determinado jeito. Os produtos audiovisuais têm mudado muito, os personagens negros na novela que não estão só no papel de empregada, mas são médicas, advogados, protagonistas. O Trace Trends faz isso também: coloca a gente como protagonista da nossa história e amplia vozes, estamos conversando com muita gente.”

E já que é de mudança e surpresa que João gosta, convidamos ele para o nosso Cama Elástica, uma série de perguntas às vezes divertidas, às vezes sentimentais, que resgatam parte do passado de cada entrevistado e, ao mesmo tempo, o faz pensar no que vem por aí. O resultado do nosso papo você confere aqui embaixo: 

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(Arte/Redação)

Qual sua qualidade favorita sobre você mesmo?
A capacidade muito boa de estabelecer relações com pessoas diferentes. Consigo transitar bem por diferentes grupos e personalidades de pessoas, e isso ficou muito evidente no BBB. Consegui estabelecer relações ótimas com a Camila, super parecida comigo, e com o Caio, que tem uma história muito diferente da minha. Isso também vem muito da minha trajetória como professor.

Que defeito seu você jamais mudaria?
Minha mania de organização. Às vezes, sou meio chato com isso e acaba atrapalhando minha relação com as pessoas, mas não mudaria. Tudo flui melhor quando está organizado.

Onde você busca inspiração naqueles dias em que não quer sair da cama?
Na música. Escuto muita coisa diferente, minha playlist é eclética. Quando estou desanimado, coloco música alta, abro a janela e vamo que vamo. Posso demorar pra acordar, mas quando levanto, já é no 220.

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Qual música não envelhece, não sai da sua lista de preferidas?
“I Wanna Dance With Somebody”, da Whitney Houston. Escuto no banho, no fone de ouvido, fazendo faxina. Era uma das minhas músicas de paredão, inclusive. Não queria música triste, porque ou era pra comemorar que eu fiquei ou pra sair dançando.

Qual livro mudou sua vida?
Vou indicar um que ganhei do Igor, meu namorado, que se chama Casa das estrelas. É um dicionário que um educador colombiano em que ele pergunta o significado das palavras para crianças: o que elas acham que é deus, amor, sexo. As respostas delas fazem a gente pensar porque, ao mesmo tempo que tem muita coisa divertida, às vezes surgem coisas tristes também. Gosto dele também porque é um livro curtinho, dá para ler em uma tarde.

Descreva uma noite ideal para você
Se você me fizesse essa pergunta antes da pandemia, a resposta seria completamente outra. Hoje, uma noite ideal seria na minha casa, recebendo meus amigos para uma festa de aniversário minha. Eu amo fazer aniversário e amo juntar todos os meus amigos, tenho turmas diferentes umas das outras e gosto de vê-las juntas.

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Dê uma gongada gratuita em alguém
Olha, Bolsonaro, vai renunciar, não, filho?

Como foi seu primeiro beijo?
Foi aos 13 anos, na saída da escola, com uma coleguinha de sala. Ainda estava nesse processo de entender a sexualidade, e foi legal, divertido.

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(Arte/Redação)

O que você diria para o maior desamor da sua vida (até agora)?
Talvez você pudesse ter me valorizado mais. Em alguns momentos, me senti subestimado.

O que é imperdoável para você em uma relação?
Desrespeito e qualquer forma de preconceito e opressão. Não consigo reproduzir relação com quem produz violência nas outras pessoas. Não faço conexões fortes com quem não quer mudar.

De qual trabalho seu você mais se orgulha?
Acho que são meus programas na TV, tanto no Futura quanto no Trace. Os dois têm essa capacidade de ampliar muita coisa em que eu acredito.

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Qual a frase mais sábia que já te disseram?
“Você nunca está sozinho.” Foi minha mãe que me disse e isso me deu conforto e, ao mesmo tempo, me acolheu.

Qual seria o título da sua biografia?
Essa é a pergunta mais difícil! Não queria ficar preso nos clichês, então não consigo te dizer exatamente qual seria, mas seria um título divertido, inesperado e que gerasse uma curiosidade para ler o livro – não só sobre minha história, mas indicando que ela pode ser entendida e compreendida por outras pessoas.

E quem interpretaria você no cinema?
Essa é fácil, sempre soube: Alfred Enoch, o ator que faz o Wes de How to Get Away With Murder.

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Qual seria seu primeiro decreto como presidente da república?
Criminalização da LGBTfobia e discussão da nossa própria história para entender como o racismo no Brasil se estrutura. Essa lei existe, mas precisa ser aplicada não só na escola, mas em todos ambientes institucionais. Não discutimos racismo na saúde e, na pandemia, vimos negligências enormes com as pessoas pretas. Essa discussão precisa estar em todos os ambientes, não só na bolha e no ambiente acadêmico. Precisamos furar a bolha.

E, por último, quem você gostaria que respondesse esse questionário?
A Camilla de Lucas.

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(Arte/Redação)
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