Mulheres ganham finalmente espaço no melhor palco do festival
por Gabriela RassyAtualizado em 6 jun 2023, 12h30 - Publicado em
5 jun 2023
16h09
Há quem diga que o rock já morreu. Mas essa pessoa certamente não foi a Ribeirão Preto caminhar entre os palcos do João Rock. O festival dedicado principalmente a essas vertentes musicais, das pop às metaleiras, comemora 20 anos se renovando e trazendo – finalmente – mais mulheres para a cena.
No sábado, 3, e numa pegada Rock In Rio de ser, com diversas ativações de marca, roda-gigante, tirolesa, parede de escalada e uma infinidade de pontos de alimentação e bares, o João Rock ocupou o Parque de Exposições de Ribeirão Preto com uma amostra ampliada da música brasileira.
O rock ficou destinado em grande parte ao palco principal, que reuniu também os artistas mais clássicos da programação. Bateram cartão mais uma vez Pitty, Baiana System, Capital Inicial, CPM 22, Emicida e Marcelo D2 com Planet Hemp – esses dois últimos com a presença luxuosa de Marcos Valle.
O Palco Brasil não deixou por menos e trouxe medalhões da música brasileira num line up 70+ de respeito. Tom Zé, Zé Ramalho, Alceu Valença, Mutantes e Gilberto Gil deram o tom de nostalgia e celebração do festival.
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Finalmente, as mulheres
Demorou um bocado de anos para ter essa reviravolta, mas Pitty deixou, nesta 20ª edição, de ser praticamente a única mulher no line up – apesar de ter sido ainda a única no palco principal. O Palco Aquarela brilhou com shows que foram do pop de Majur e Marina Sena até as releituras, como a de Manu Gavassi homenageando Rita Lee cantando todas as músicas do álbum “Fruto Proibido”, de 1975.
Ana Carolina, com toda a popularidade e história de carreira, mesmo entoando um repertório inteiro de Cássia Eller, não garantiu seu lugar ao sol no Palco João Rock. O show, que reuniu uma multidão, ficou no palco reservado às mulheres.
Ali, aliás, Flora Matos fez seu nome na história do festival. Com um público engajado que entoava todas as canções do último trabalho “Flora de Controle”, a rapper dominou o palco sozinha no front. Acompanhada do DJ Naomi ao fundo, sensualíssima, dona e proprietária de sua narrativa, Flora entregou tudo em um dos melhores shows da noite.
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Majur, que abriu o Aquarela, não deixou por menos. Primeira artista transgênero a se apresentar nos 20 anos de João Rock, elevou seus poderosos vocais para apresentar seu mais recente trabalho, “Arrisca”. “Nós, enquanto sociedade, estamos discutindo não mais pautas, mas agora realmente políticas públicas que agem, que façam de fato a representatividade ser real. Mulheres em todos os espaços, pessoas LGBTQIA+ precisam estar em todos os lugares o ano inteiro. O mundo é feito de pessoas e pessoas são diversas. Então mostrem a diversidade”, cobrou.
Como bem disse Gali Galó, artiste não-binárie que trabalhou por anos, em seus tempos de jornalista, na cobertura do João Rock e sempre insistiu na presença feminina em palco, “Posicionamento. Custa caro, mas vale a pena”.
Foram 15km caminhados do sol lindo e escaldante da tarde até o frescor da gélida noite que cai sobre Ribeirão Preto. Que a Aquarela continue a dar cor aos próximos anos de João Rock. De fato, Gali, vale a pena!