A atriz Luisa Arraes está prestes a estrear o que considera o filme mais importante da sua vida: Grande Sertão: Veredas. A adaptação do livro de Guimarães Rosa, dirigida por seu pai, Guel Arraes, está prevista para este ano. Para ela, porém, o texto não é novo. Isso porque também participou da construção da peça de Bia Lessa por três anos.
“Esse filme foi o trabalho que mais me preparei na vida. E é possível fazer produções sobre esse livro durante cinco vidas porque ele é uma bíblia – passa por muitos assuntos importantes e é, ao mesmo tempo, brasileiro e universal”, conta à Elástica. “Como tive bastante tempo, ensaiava duas vezes por semana três meses antes de começarem os ensaios do filme.”
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Luisa também está no elenco do filme Transe, de Carolina Jabor e Anne Pinheiro Guimarães, bastante celebrado no Festival de Cinema do Rio de 2022. O longa acompanha três jovens que têm um relacionamento livre enquanto uma onda conservadora avança no país – e é aí que percebem que vivem em uma bolha social.
O cinema faz parte da construção da cultura de um país. A questão do amor livre e da traição aqui no Brasil ainda são tabus. E a produção cultural reflete isso ao mesmo tempo que ajuda a transformar o imaginário da população
“Esse filme é uma crítica à bolha e à cegueira que muitas vezes ela carrega. Mas, ao mesmo tempo, ele também evidencia a necessidade de reinventar o amor a cada dia”, revela. O cinema faz parte da construção da cultura de um país. A questão do amor livre e da traição aqui no Brasil ainda são tabus. E a produção cultural reflete isso ao mesmo tempo que ajuda a transformar o imaginário da população.”
Na TV aberta, Luisa é a protagonista da segunda temporada de Cine Holliudy, série de sucesso da TV Globo. Ela entrou para o elenco como Francisca, filha que Olegário (Matheus Nachtergaele) teve com a prostituta Madalena (Luiza Tomé). Para o papel, a atriz estudou a primeira temporada e juntou referências de seu imaginário. “A essência e o estilo de um ator ou atriz vai sendo descoberto ao longo da carreira. Não é algo que já está com você desde o início. Ao mesmo tempo que temos que entender qual vai ser o método daquele trabalho e o estilo, também colocamos a nossa assinatura e pensamos o que faremos de diferente”, comenta. Abaixo, confira o papo completo com Luisa Arraes:
Você já atuou em novelas, filmes consagrados e está na comédia “Cine Holliudy”. Como inovar em cada produção sem deixar de demonstrar sua essência?
A essência e o estilo de um ator ou atriz vai sendo descoberto ao longo da carreira. Não é algo que já está com você desde o início. Ao mesmo tempo que temos que entender qual vai ser o método daquele trabalho e o estilo, também colocamos a nossa assinatura e pensamos o que faremos de diferente para cada personagem. Isso vem de um olhar atento para o mundo. O trabalho do ator, da atriz e de quem escreve é contínuo porque estamos sempre observando tudo – é um treino diário.
Mas antes de ir em busca de referências, gosto de olhar o texto e pensar em tudo o que já vivi até aqui e ir experimentando. A partir daí, penso o que vou ganhar com essa personagem: quais mundos não conheço ainda e que farão parte de mim a partir de agora? Por fim, faço uma prancha com toda a minha pesquisa e parto para o ensaio. Para o Cine Holliudy, por exemplo, assisti e reassisti a primeira temporada para pegar o tom que eles já tinham criado juntos. Mas também vi Rei do Gado porque achava que a série tinha esse clima.
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O filme Transe, lançado em outubro no Festival de Cinema do Rio, tem a temática de amor livre – muito discutida atualmente na sociedade. Como o cinema pode ampliar esses debates sem tabu para alcançar pessoas fora da bolha?
O cinema faz parte da construção da cultura de um país. A questão do amor livre e da traição aqui no Brasil ainda são tabus. Leio bastante sobre a França porque minha família foi exilada lá durante a ditadura militar. Lá, por exemplo, não tem essa coisa de que traição faz a relação acabar – e a produção cultural reflete isso ao mesmo tempo que ajuda a transformar o imaginário da população.
Trabalhar com quem você tem muita intimidade é uma loucura, tem coisas excelentes e também possibilidades de trabalhar todos os limites éticos – vira e mexe trabalhamos à exaustão
Esse filme, especificamente, é uma crítica à bolha e à cegueira que muitas vezes ela carrega. Mas, ao mesmo tempo, ele também evidencia a necessidade de reinventar o amor a cada dia.
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Um dos seus desafios mais recentes foi o longa Duetto, uma colaboração entre Brasil e Itália. Qual foi o maior aprendizado dessa experiência?
Esse é um longa que foi filmado bem antes da pandemia, mas que foi lançado só recentemente. Ele foi um filme bem curioso porque metade do elenco era italiano e a outra metade brasileiro. Eu nunca tinha viajado para outro país para filmar e a gente atuou em italiano, não sei como tive a cara de pau de falar italiano. Foi muito novo e gratificante.
Você também participa do elenco de “O Grande Sertão: Veredas”, que está previsto para estrear no primeiro semestre de 2023. O que você pode contar da produção?
Antes do filme eu tinha feito a peça da Bia Lessa por três anos. Depois, filmamos uma versão dela chamada Travessia. Mas esse filme foi o trabalho que mais me preparei na vida. E é possível fazer produções esse livro durante cinco vidas porque ele é uma bíblia – passa por muitos assuntos importantes e é, ao mesmo tempo, brasileiro e universal. Como tive bastante tempo, ensaiava duas vezes por semana três meses antes de começarem os ensaios do filme.
Foi um processo de muita experimentação na qual eu tive que mudar meu corpo todo porque eu faço um bandido, então mudei minha relação com exercícios e ganhei muita força. Nos meus personagens também costumo desenvolver os lados de feminino e masculino, gosto muito dessa fricção. Foi um trabalho único.
É possível fazer produções sobre o “Grande Sertão: Veredas” durante cinco vidas porque ele é uma bíblia – passa por muitos assuntos importantes e é, ao mesmo tempo, brasileiro e universal
E o trabalho foi feio em família, isso influenciou o processo de produção?
Com o Caio, nos conhecemos fazendo O Grande Sertão há quase seis anos e sempre trabalhamos muito juntos. Já com meu pai, nunca tinha trabalhado e é muito bonito que tenha sido assim porque, de certa forma, a coragem de fazer o filme veio um pouco da nossa versão da peça. Trabalhar com quem você tem muita intimidade é uma loucura, tem coisas excelentes e também possibilidades de trabalhar todos os limites éticos – vira e mexe trabalhamos à exaustão. Tem horas que o cinema é vida ou morte, a gente fala de trabalho o dia todo e ele também faz parte do nosso lazer.
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