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A hora e a vez das produções brasileiras

Luisa Arraes conversa conosco sobre sua carreira e como o cinema constrói o imaginário de uma nação

por Beatriz Lourenço Atualizado em 13 jan 2023, 19h03 - Publicado em 12 jan 2023 12h21

A atriz Luisa Arraes está prestes a estrear o que considera o filme mais importante da sua vida: Grande Sertão: Veredas. A adaptação do livro de Guimarães Rosa, dirigida por seu pai, Guel Arraes, está prevista para este ano. Para ela, porém, o texto não é novo. Isso porque também participou da construção da peça de Bia Lessa por três anos. 

“Esse filme foi o trabalho que mais me preparei na vida. E é possível fazer produções sobre esse livro durante cinco vidas porque ele é uma bíblia – passa por muitos assuntos importantes e é, ao mesmo tempo, brasileiro e universal”, conta à Elástica. “Como tive bastante tempo, ensaiava duas vezes por semana três meses antes de começarem os ensaios do filme.”

Luisa também está no elenco do filme Transe, de Carolina Jabor e Anne Pinheiro Guimarães, bastante celebrado no Festival de Cinema do Rio de 2022. O longa acompanha três jovens que têm um relacionamento livre enquanto uma onda conservadora avança no país – e é aí que percebem que vivem em uma bolha social. 

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O cinema faz parte da construção da cultura de um país. A questão do amor livre e da traição aqui no Brasil ainda são tabus. E a produção cultural reflete isso ao mesmo tempo que ajuda a transformar o imaginário da população

“Esse filme é uma crítica à bolha e à cegueira que muitas vezes ela carrega. Mas, ao mesmo tempo, ele também evidencia a necessidade de reinventar o amor a cada dia”, revela. O cinema faz parte da construção da cultura de um país. A questão do amor livre e da traição aqui no Brasil ainda são tabus. E a produção cultural reflete isso ao mesmo tempo que ajuda a transformar o imaginário da população.” 

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(Thaylan Tolentino/Divulgação)

Na TV aberta, Luisa é a protagonista da segunda temporada de Cine Holliudy, série de sucesso da TV Globo. Ela entrou para o elenco como Francisca, filha que Olegário (Matheus Nachtergaele) teve com a prostituta Madalena (Luiza Tomé). Para o papel, a atriz estudou a primeira temporada e juntou referências de seu imaginário. “A essência e o estilo de um ator ou atriz vai sendo descoberto ao longo da carreira. Não é algo que já está com você desde o início. Ao mesmo tempo que temos que entender qual vai ser o método daquele trabalho e o estilo, também colocamos a nossa assinatura e pensamos o que faremos de diferente”, comenta. Abaixo, confira o papo completo com Luisa Arraes:

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Você já atuou em novelas, filmes consagrados e está na comédia “Cine Holliudy”. Como inovar em cada produção sem deixar de demonstrar sua essência?
A essência e o estilo de um ator ou atriz vai sendo descoberto ao longo da carreira. Não é algo que já está com você desde o início. Ao mesmo tempo que temos que entender qual vai ser o método daquele trabalho e o estilo, também colocamos a nossa assinatura e pensamos o que faremos de diferente para cada personagem. Isso vem de um olhar atento para o mundo. O trabalho do ator, da atriz e de quem escreve é contínuo porque estamos sempre observando tudo – é um treino diário. 

Mas antes de ir em busca de referências, gosto de olhar o texto e pensar em tudo o que já vivi até aqui e ir experimentando. A partir daí, penso o que vou ganhar com essa personagem: quais mundos não conheço ainda e que farão parte de mim a partir de agora? Por fim, faço uma prancha com toda a minha pesquisa e parto para o ensaio. Para o Cine Holliudy, por exemplo, assisti e reassisti a primeira temporada para pegar o tom que eles já tinham criado juntos. Mas também vi Rei do Gado porque achava que a série tinha esse clima. 

O filme Transe, lançado em outubro no Festival de Cinema do Rio, tem a temática de amor livre – muito discutida atualmente na sociedade. Como o cinema pode ampliar esses debates sem tabu para alcançar pessoas fora da bolha?
O cinema faz parte da construção da cultura de um país. A questão do amor livre e da traição aqui no Brasil ainda são tabus. Leio bastante sobre a França porque minha família foi exilada lá durante a ditadura militar. Lá, por exemplo, não tem essa coisa de que traição faz a relação acabar – e a produção cultural reflete isso ao mesmo tempo que ajuda a transformar o imaginário da população.

Trabalhar com quem você tem muita intimidade é uma loucura, tem coisas excelentes e também possibilidades de trabalhar todos os limites éticos – vira e mexe trabalhamos à exaustão

Esse filme, especificamente, é uma crítica à bolha e à cegueira que muitas vezes ela carrega. Mas, ao mesmo tempo, ele também evidencia a necessidade de reinventar o amor a cada dia. 

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Um dos seus desafios mais recentes foi o longa Duetto, uma colaboração entre Brasil e Itália. Qual foi o maior aprendizado dessa experiência?
Esse é um longa que foi filmado bem antes da pandemia, mas que foi lançado só recentemente. Ele foi um filme bem curioso porque metade do elenco era italiano e a outra metade brasileiro. Eu nunca tinha viajado para outro país para filmar e a gente atuou em italiano, não sei como tive a cara de pau de falar italiano. Foi muito novo e gratificante. 

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(Thaylan Tolentino/Divulgação)

Você também participa do elenco de “O Grande Sertão: Veredas”, que está previsto para estrear no primeiro semestre de 2023. O que você pode contar da produção?
Antes do filme eu tinha feito a peça da Bia Lessa por três anos. Depois, filmamos uma versão dela chamada Travessia. Mas esse filme foi o trabalho que mais me preparei na vida. E é possível fazer produções esse livro durante cinco vidas porque ele é uma bíblia – passa por muitos assuntos importantes e é, ao mesmo tempo, brasileiro e universal. Como tive bastante tempo, ensaiava duas vezes por semana três meses antes de começarem os ensaios do filme. 

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Foi um processo de muita experimentação na qual eu tive que mudar meu corpo todo porque eu faço um bandido, então mudei minha relação com exercícios e ganhei muita força. Nos meus personagens também costumo desenvolver os lados de feminino e masculino, gosto muito dessa fricção. Foi um trabalho único.

É possível fazer produções sobre o “Grande Sertão: Veredas” durante cinco vidas porque ele é uma bíblia – passa por muitos assuntos importantes e é, ao mesmo tempo, brasileiro e universal

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(Thaylan Tolentino/Divulgação)

E o trabalho foi feio em família, isso influenciou o processo de produção?
Com o Caio, nos conhecemos fazendo O Grande Sertão há quase seis anos e sempre trabalhamos muito juntos. Já com meu pai, nunca tinha trabalhado e é muito bonito que tenha sido assim porque, de certa forma, a coragem de fazer o filme veio um pouco da nossa versão da peça. Trabalhar com quem você tem muita intimidade é uma loucura, tem coisas excelentes e também possibilidades de trabalhar todos os limites éticos – vira e mexe trabalhamos à exaustão. Tem horas que o cinema é vida ou morte, a gente fala de trabalho o dia todo e ele também faz parte do nosso lazer.

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