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Esquina Bo Bardi

Conversamos com a dupla de arquitetos responsáveis pela reforma do prédio adjacente ao MASP, que será integrado ao museu a partir de 2024

por Artur Tavares Atualizado em 13 set 2021, 11h27 - Publicado em 9 set 2021 23h55
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(Clube Lambada/Ilustração)

avia um ruído ao lado de uma das construções mais emblemáticas de São Paulo. Na Av. Paulista, o abandonado Edifício Dumont-Adams acabava com a vista de um dos maiores cartões-postais do planeta: o Museu de Arte de São Paulo. Se o vão livre concebido por Lina Bo Bardi para o MASP é de cair o queixo, qualquer atento que olhava para o Dumont-Adams desejava sua queda.

Construído nos anos 1950 e abandonado a partir de meados dos anos 1990, o Edifício Dumont-Adams teve vida gloriosa e uma morte horrível. Cheio de dívidas, foi comprado por uma empresa de telefonia nos anos 2000 e doado para o MASP, mas o projeto acabou nunca acontecendo. O tempo foi passando e o elefante branco continuava lá, empobrecendo esteticamente a região.

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(Metro Arquitetos/Divulgação)

Em 2015, o escritório METRO, o mesmo responsável pela recuperação do projeto dos cavaletes de cristais projetados por Lina Bo Bardi no MASP, recebeu a missão de finalmente reformar o Dumont-Adams e torná-lo um anexo do museu. Com a ajuda de mais de 20 famílias abastadas que estão financiando o projeto, o antigo prédio se tornará o Edifício Pietro Maria Bardi, uma homenagem ao falecido companheiro de Lina e ex-diretor da instituição ao lado.

A construção aumentará a área total do MASP em 6.945 m2, criará uma passagem subterrânea entre os dois prédios e trará melhorias técnicas que ajudarão no trabalho dos restauradores do museu, além de permitir que obras que exigem um altíssimo controle de temperatura e outras condições micro-climáticas possam ser exibidas ali. Com isso, o MASP receberá na abertura do Edifício Pietro Maria Bardi obras de Francis Bacon, em 2024, e Monet, em 2025.

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Masp em expansão
Masp em expansão (Metro Arquitetos/Divulgação)

Conversamos com Gustavo Cedroni e Martin Corullon, sócios do METRO, que nos deram detalhes sobre a expansão do MASP, além de contar com exclusividade uma novidade: eles estão envolvidos em melhorias na Oficina Brennand, uma das coleções particulares mais impressionantes do Brasil, no Recife.

Gostaria de iniciar parabenizando vocês pelo projeto lindo que foi apresentado. O Edifício Dumont-Adams foi um marco da arquitetura paulistana mas está abandonado há muito tempo. Reformá-lo já seria um ganho para a região independente de agora ele tornar-se um anexo do MASP. Podem contar um pouco de como foi adequar o prédio para um projeto arquitetônico que olha para uma boa funcionalidade pública ao mesmo tempo que torna o equipamento perfeito para o museu?
É um projeto complexo, pois tivemos que lidar com várias camadas de pré-existências. Não só os “restos” do Dumont-Adams, mas também uma estrutura em concreto da obra paralisada, e conciliar essas geometrias com as exigências de ambientes expositivos: salões livres, pés-direitos altos, sistemas de climatização sofisticados etc. Ou seja, é um projeto altamente técnico. Como se não bastasse a complexidade técnica, tivemos que considerar cuidadosamente a inserção desse edifício ao lado de um edifício com a importância do MASP. Portanto, tentamos ser econômicos nas formas, mantendo uma geometria simples, mas com força própria.

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“É um projeto complexo, pois tivemos que lidar com várias camadas de pré-existências. Não só os restos do Dumont-Adams mas também uma estrutura em concreto da obra paralisada, e conciliar essas geometrias com as exigências de ambientes expositivos: salões livres, pés-direitos altos, sistemas de climatização sofisticados”

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(Metro Arquitetos/Divulgação)

O novo edifício Pietro Maria Bardi não apenas é um ganho em área para o MASP como também um salto tecnológico, já que terá adequações térmicas importantes para receber obras de arte e sistemas de iluminação mais sustentáveis. Tais características permitirão o Masp trazer obras de Francis Bacon já em 2024, como foi anunciado. Podem explicar como a tecnologia irá melhorar outros aspectos, principalmente no acervo e na seção dedicada ao restauro de obras?
O sistema de climatização terá filtragens espaciais para controlar a qualidade do ar que entra no sistema, terá proteção contra contaminação, como coronavírus, controle de temperatura e umidade com grande precisão, redundância de equipamentos para garantir o funcionamento sem interrupção. O sistema de prevenção e combate a incêndio atende em alguns aspectos a parâmetros mais exigentes que as normas nacionais, a iluminação prevista é toda em led, com controles precisos de intensidade, a entrada de luz natural é controlada.

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Tivemos a oportunidade de projetar um ambiente ideal para a exposição de obras de arte e também de conservação e restauro, aproveitando toda a experiência e conhecimento das equipes do museu e de nossa experiência nos últimos anos de trabalho no edifício sede. O laboratório de restauro terá um aumento expressivo de área, laboratório de manuseio de químicos, uma reserva técnica de acervo dedicada aos trabalhos em restauro, sala de quarentena e estúdio fotográfico preparado para documentação e também para raio-x.

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(Metro Arquitetos/Divulgação)

Vocês foram responsáveis pelos novos cavaletes de cristal do MASP, revivendo um aspecto original do museu pensado por Lina Bo Bardi. Existem outras ideias ou conceitos da arquiteta que estão sendo recuperadas no novo edifício Pietro Maria Bardi?
Há algumas citações sutis e uma paleta de materiais compatível. Mas não quisemos em nenhum momento que houvesse uma continuidade. Preferimos evitar uma caricatura e criar um caráter próprio, em diálogo, sem imitação nem contraste

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Outros dois espaços de convivência com as artes inaugurados nos últimos anos na Av. Paulista, o Sesc e o IMS são espaços verticais que apresentam uma certa dificuldade para a locomoção de pessoas em dias mais cheios. O edifício Pietro Maria Bardi terá 14 andares, galerias e bibliotecas espalhados por eles. Como minimizar esses problemas de mobilidade e conforto?
Há diversas estratégias no projeto para abordar a circulação vertical. Há uma série de museus verticais recentes que funcionam bem, em NY ou Londres, como o novo Whitney Museum ou a extensão da Tate Modern. Fizemos uma pesquisa detalhada dos precedentes e o edifício contará com 4 elevadores – 3 exclusivos para público e 1 de grande dimensão para público e também montagem e transporte de obras em períodos programados. Além disso, as galerias são conectadas por escadas, com iluminação natural e vistas, tornando-as convidativas para o fluxo entre galerias próximas. Deve-se considerar que embora o edifício tenha 14 níveis, apenas 7 serão de acesso de público geral, e os demais têm acesso controlado – laboratórios, depósitos etc.

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(Metro Arquitetos/Divulgação)

Vocês estão envolvidos na reestruturação da Oficina Brennand, um prédio centenário histórico que é também o acervo de um dos artistas mais prolíficos do Brasil. Como é trabalhar ao mesmo tempo em um prédio extremamente contemporâneo na Av. Paulista e em uma antiga olaria no Recife, um lugar que por si só já é uma obra de arte?
O projeto do edifício novo do MASP é fruto de um processo mais profundo, de diagnóstico e planejamento das intervenções infraestruturais necessárias no museu. Esse plano foi desenvolvido por nós ao longo de alguns anos – a partir de 2015 – e parte de uma visão global do futuro da instituição e quais são as intervenções físicas necessárias para amparar esse projeto de desenvolvimento. O processo na Oficina Brennand parte da mesma premissa. Portanto, embora sejam objetos diferentes, nossa abordagem é semelhante.

Brennand foi um grande ceramista, um homem que viveu sua obra de maneira muito intensa. Vocês chegaram a debater com ele o projeto antes de sua morte, em 2019?
Infelizmente nossa aproximação com a Oficina foi posterior à sua morte.


“Os planos passam por intervenções muito pontuais que permitem um acréscimo da visitação e intensificação da visitação, com a disponibilização de novos acessos, áreas de acolhimento e expositivas”

Maquete MASP em expansão
Maquete MASP em expansão (Metro Arquitetos/Divulgação)

Quais os planos para a Oficina Brennand? Quais os objetivos da reestruturação do lugar, que é um museu distante do eixo Rio/SP, e até bastante desconhecido pelos brasileiros?
Os planos passam por intervenções muito pontuais que permitem um acréscimo da visitação e intensificação da visitação, com a disponibilização de novos acessos, áreas de acolhimento e expositivas. Ou seja, alguns remanejamentos de usos de alguns espaços e a complementação de alguns serviços que, quase sem obras físicas, vão dar condição de uso e novos fluxos de visitação ao conjunto construído.

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