alar sobre prazer e orgasmo é algo que, na nossa sociedade, sempre associamos à figura do outro e aos relacionamentos. De alguma forma, condicionamos o tesão a uma pessoa que não nós – e criamos um tabu quando o assunto é dar prazer a si mesmo. Mas, se falar sobre masturbação é algo que te deixa desconfortável ou se você acha que o tema não precisa ser discutido, esse guia é para você, sim, pois você não poderia estar mais enganado.
Uma das principais barreiras para que a gente descubra o que nos satisfaz sexualmente e quais áreas mais gostamos que sejam tocadas é a falta de conhecimento sobre nosso corpo. E sabe qual é uma ótima técnica de autoconhecimento nesse caso? A masturbação. “É uma prática que ajuda as pessoas a saberem como e onde sentem mais prazer, algo que pode ser compartilhado com o parceiro ou a parceria – se quiserem – e ambos terem mais prazer na hora da relação sexual. E as masturbações, quando são prazerosas, e não feitas por obrigação ou pressão, podem, sim, fazer bem para a saúde”, explica Paula Napolitano, psicóloga clínica pós-graduada em terapia sexual.
Pois é, meu queride: se tocar e levar você mesmo ao orgasmo, sem ajuda de nenhum coleguinha ou paquera, também é autocuidado. “A masturbação libera uma série de hormônios que podem ajudar no sono, no estresse, na ansiedade, na diminuição de dor e até mesmo fortalecer assoalho pélvico, como parte de prevenção de incontinência urinária”, completa a especialista. Vale lembrar que, para quem tem vagina, os orgasmos (tanto com masturbação ou a partir do sexo) podem diminuir cólicas menstruais a partir da liberação das endorfinas e da ocitocina – sendo inclusive uma prática boa durante o trabalho de parto, por exemplo.
Mas, se é tão bom – não só na hora, mas para o nosso organismo como um todo –, por que demonizamos tanto a masturbação? Para explicar isso, precisamos voltar um pouco na história e lembrar que, assim como a maioria dos assuntos não falados, esse tabu também é um recorte histórico e social. “Somos historicamente proibidos de manipular nossos próprios corpos. Os egípcios e gregos, por exemplo, sempre estimularam a masturbação historicamente – existem até relatos de que Cleópatra utilizava uma jarra com abelhas como vibrador. O cristianismo, e principalmente o catolicismo, que mudou e moldou o que temos de conhecimento sobre masturbação hoje, transformando o que era uma atividade saudável, num dito ‘desperdício’, já que seria o ‘uso deliberado da faculdade sexual fora do casamento’”, pontua Uno Vulpo, médico, pesquisador de gênero, sexualidade e redução de danos, criador da página @sento.mesmo e nosso colaborador assíduo para assuntos deliciosos de fazer e difíceis de debater.
Quando tiramos a ótica religiosa da jogada e nos debruçamos sobre os estudos da mente, esperando que a ciência fale mais alto, vem a surpresa: historicamente, médicos e psicanalistas começaram a associar a masturbação a uma lógica de vício. Ah, pronto: agora, além de pecado, também é viciante? “A educação sexual vai entrar justamente nesse lugar de contra argumentar todas essas falácias contadas por padres, pastores, muitos médicos e a sociedade de uma forma geral, tirando a culpa que recai sobre quem procura o próprio prazer. Vivemos hoje num panorama tão maluco que achamos que, para chegar no prazer, para conquistar coisas boas, é preciso sofrer. Isso é uma consciência criada a partir de uma lógica meritocrática e cristã já cristalizada na nossa cabeça. Imagina conseguir prazer, o ápice dele, sozinho, no seu banheiro ou sua cama, fazendo uma coisa gostosa? É loucura, né?”, provoca Uno.
Então, antes de entrarmos na parte prática da coisa e falar sobre técnicas, dicas e cuidados na hora de se masturbar, fica o lembrete: tá tudo bem em proporcionar prazer para você mesmo, ok?