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Masturbação: um guia para sentir prazer sem precisar de ninguém

Técnicas, dicas, cuidados e recomendações de sexólogos para curtir sozinho, sozinha e também com parceiros

por Alexandre Makhlouf 19 Maio 2022 01h16
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(Clube Lambada/Ilustração)

alar sobre prazer e orgasmo é algo que, na nossa sociedade, sempre associamos à figura do outro e aos relacionamentos. De alguma forma, condicionamos o tesão a uma pessoa que não nós – e criamos um tabu quando o assunto é dar prazer a si mesmo. Mas, se falar sobre masturbação é algo que te deixa desconfortável ou se você acha que o tema não precisa ser discutido, esse guia é para você, sim, pois você não poderia estar mais enganado.

Uma das principais barreiras para que a gente descubra o que nos satisfaz sexualmente e quais áreas mais gostamos que sejam tocadas é a falta de conhecimento sobre nosso corpo. E sabe qual é uma ótima técnica de autoconhecimento nesse caso? A masturbação. “É uma prática que ajuda as pessoas a saberem como e onde sentem mais prazer, algo que pode ser compartilhado com o parceiro ou a parceria – se quiserem – e ambos terem mais prazer na hora da relação sexual. E as masturbações, quando são prazerosas, e não feitas por obrigação ou pressão, podem, sim, fazer bem para a saúde”, explica Paula Napolitano, psicóloga clínica pós-graduada em terapia sexual.

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Pois é, meu queride: se tocar e levar você mesmo ao orgasmo, sem ajuda de nenhum coleguinha ou paquera, também é autocuidado. “A masturbação libera uma série de hormônios que podem ajudar no sono, no estresse, na ansiedade, na diminuição de dor e até mesmo fortalecer assoalho pélvico, como parte de prevenção de incontinência urinária”, completa a especialista. Vale lembrar que, para quem tem vagina, os orgasmos (tanto com masturbação ou a partir do sexo) podem diminuir cólicas menstruais a partir da liberação das endorfinas e da ocitocina – sendo inclusive uma prática boa durante o trabalho de parto, por exemplo. 

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Mas, se é tão bom – não só na hora, mas para o nosso organismo como um todo –, por que demonizamos tanto a masturbação? Para explicar isso, precisamos voltar um pouco na história e lembrar que, assim como a maioria dos assuntos não falados, esse tabu também é um recorte histórico e social. “Somos historicamente proibidos de manipular nossos próprios corpos. Os egípcios e gregos, por exemplo, sempre estimularam a masturbação historicamente – existem até relatos de que Cleópatra utilizava uma jarra com abelhas como vibrador. O cristianismo, e principalmente o catolicismo, que mudou e moldou o que temos de conhecimento sobre masturbação hoje, transformando o que era uma atividade saudável, num dito ‘desperdício’, já que seria o ‘uso deliberado da faculdade sexual fora do casamento’”, pontua Uno Vulpo, médico, pesquisador de gênero, sexualidade e redução de danos, criador da página @sento.mesmo e nosso colaborador assíduo para assuntos deliciosos de fazer e difíceis de debater.

Quando tiramos a ótica religiosa da jogada e nos debruçamos sobre os estudos da mente, esperando que a ciência fale mais alto, vem a surpresa: historicamente, médicos e psicanalistas começaram a associar a masturbação a uma lógica de vício. Ah, pronto: agora, além de pecado, também é viciante? “A educação sexual vai entrar justamente nesse lugar de contra argumentar todas essas falácias contadas por padres, pastores, muitos médicos e a sociedade de uma forma geral, tirando a culpa que recai sobre quem procura o próprio prazer. Vivemos hoje num panorama tão maluco que achamos que, para chegar no prazer, para conquistar coisas boas, é preciso sofrer. Isso é uma consciência criada a partir de uma lógica meritocrática e cristã já cristalizada na nossa cabeça. Imagina conseguir prazer, o ápice dele, sozinho, no seu banheiro ou sua cama, fazendo uma coisa gostosa? É loucura, né?”, provoca Uno.

Então, antes de entrarmos na parte prática da coisa e falar sobre técnicas, dicas e cuidados na hora de se masturbar, fica o lembrete: tá tudo bem em proporcionar prazer para você mesmo, ok?

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(Lovelove6/Ilustração)

E agora, mão na…

Já entendemos de onde vem o tabu em falar sobre masturbação. Hora, então, de irmos para a melhor parte. Existe uma só maneira de se masturbar? No caso de quem tem pênis, é só a clássica punheta, para cima e para baixo? E quem tem vagina, o único jeito é estimular o clitóris? Você já deve imaginar que a resposta para essas perguntas é um enorme não, e trazemos aqui embaixo mais maneiras de chegar ao clímax e, quem sabe, proporcionar mais prazer na hora de se masturbar.

Vamos começar com técnicas e dicas para pessoas com vulva? Os tabus são ainda maiores sobre os corpos com vaginas, seja no caso de mulheres ou homens trans. E como se fala ainda menos disso, é natural que tais pessoas tenham mais dificuldade de colocar a mão na massa. 

“Sugiro começar sozinhe, no seu quarto, só passando a mão pelo corpo e começando a entender quais regiões você gosta mais de sentir. Filmes pornô ou cenas que te deem tesão também são um bom começo, já que são um fator externo que vai estimular sem que você precise agir em prol disso. Se você namorar, talvez uma ideia seja abordar isso no relacionamento e permitir que o parceiro ou parceira faça por você enquanto você não consegue sozinho. Em termos de momentos, não tem segredo: se joga quando estiver afim e num espaço privado em que ninguém te incomode”, detalha Uno.

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Bateu a vontade, criou o clima certo e tá tudo liberado para começar essa jornada de prazer? Então, hora da fase 2. “Minha dica principal é sair do mecânico e não pensar somente na região genital. Pode começar com um banho, passar creme no corpo, baixar a luz, colocar uma música agradável, um cheiro que goste, lembrar de um encontro sexual que foi prazeroso, ler ou ouvir um áudio erótico e se permitir entrar nesse imaginário sensual. Um lubrificante à base de água também pode ser um ótimo aliado”, explica Paula.

Essa atmosfera erótica é importantíssima para que você realmente relaxa e chegue ao ápice do prazer. Comece a fantasiar, pense em como seria outra pessoa tocando seu corpo e, na hora que começar a sentir o tesão aumentando, aí sim vá para a área dos genitais. Importante: masturbação é sobre prazer e prazer não é só orgasmo, então não precisa se cobrar ou colocar uma pressão extra de “tenho que chegar lá”. Esse momento é seu, curta ao máximo e clímax será uma consequência disso.

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(Lovelove6/Ilustração)

Clitóris: o melhor amigo da masturbação

Para muitas pessoas com vagina e vulva, o clitóris costuma ser o ponto-chave para proporcionar prazer. “É uma espécie de mini-glande localizada em cima da do canal uretral e é um ponto de grande sensibilidade e excitabilidade”, explica Uno. Ele pode, sim, ser o melhor amigo do orgasmo se estimulado com os dedos ou com outros brinquedinhos, mas é possível variar ao estimular outras regiões da vagina

→ O ponto U se localiza abaixo do clitóris e acima da vagina, na região da uretra (por isso o nome) – estimulação oral por ali faz sucesso.

→ O ponto A fica perto do colo do útero, bem no fundo do canal vaginal, e também é uma região bem estimulante. Quem curte penetração vaginal normalmente está curtindo estimulação nesse ponto – que tal fazer isso sozinhe usando um sex toy?

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Nunca comprou um sex toy? O universo dos brinquedinhos eróticos vai muito além dos paus de borracha. “Tendo vulva ou pênis, recomendo os bullets, que são só uns ‘batonzinhos’ que vibram. Com eles, você consegue pela primeira vez conhecer suas áreas erógenas a partir da vibração e, com isso, explorar mais seu corpo”, indica Uno.

Toque direto na área vaginal não é sua pegada? Sem problemas! 

→ Vale esfregar o clitóris e a vulva repetidamente no colchão, em um travesseiro ou almofada

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→ Apertar as pernas fazendo movimento que friccione indiretamente o clitóris ou com a mão por cima da calcinha mesmo, friccionando um pouco o clitóris

→ Que tal levar a brincadeira para o banho? Com o chuveirinho, use o jato focado no clítoris, e não dentro do canal vaginal. De nada 😉

Em suma: tudo que estimula serve para masturbar. Sabe aquela história da vibração da máquina de lavar? Então… é justamente isso. Às vezes, a coisa que você percebe sem querer que é um estímulo excitante pode ser aquela que vai te fazer gozar.

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(Lovelove6/Ilustração)

Muito além da punheta

Depois desse mergulho nas zonas erógenas e vaginais – ufa, que delícia –, vamos falar sobre masturbação das pessoas com pênis? Sem demagogia e meias palavras: a punheta, movimento de fricção para cima e para baixo com o pênis, é o mais comum por ser fácil e efetivo. Mas ela também pode ser até um pouco sem graça… “A masturbação para pessoas com pênis muitas vezes é mais mecânica – feita da mesma forma desde a adolescência, rápida, corrida (por medo de ser flagrado por alguém), muitas vezes por ansiedade, por hábito, por tédio – motivos que nem sempre são o erótico e que deixam esse momento menos prazeroso do que ele poderia ser”, explica Paula Napolitano.

Aqui também vale a ideia de explorar o corpo. Em vez de fazer no banho, tente em outro lugar privado. Tá acostumado a se masturbar deitado? Então, experimente fazer em pé, ou sentado, ou trocar a mão que você usa para isso…

Usar lubrificantes, mudar a intensidade, o movimento que é feito, o tipo estímulo também são jeitos de conhecer novas formas de prazer. E não precisa ser só você e sua mão, não. Que tal explorar as fantasias sexuais, ou ler um conto erótico? Usar óleos, ou o egg, masturbador masculino de silicone em formato de ovo, normalmente com texturas por dentro que aumenta a fricção com a glande, pode trazer prazer diferenciado.

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“Não é só o sobe e desce que gera prazer”, reforça Uno, e aqui vão algumas dicas para ir além:

→ Experimente vibrações em diferentes intensidades na parte de cima da glande

→ Outra possibilidade é aquela gostosa pressão na base do pênis, que pode ou não ser associada ao movimento dos testículos

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→ Pressão e estímulo na região entre ânus e testículos, que fica próxima da próstata, também permite um prazer bem gostoso. Internamente, também é possível a partir do estímulo prostático e anal, que pode levar à ejaculação sem que você toque no pênis

“As pessoas com pênis também devem prestar atenção no corpo como um todo, pois é muito comum irem unicamente para o pênis. É importante entrar nessa busca de prazer com ele mesmo e ir além do prazer automatizado – as chances de descobrir prazeres diferentes e até mais intensos é muito grande!”, adiciona Paula.

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(Lovelove6/Ilustração)

Cuidados na hora de se masturbar

Nossa, essa conversa toda deu até calor… E a gente sabe que o tesão pode comprometer momentaneamente nossas faculdades mentais – quem nunca tomou uma decisão no calor do momento e depois se questionou, né? No caso da masturbação, isso também se aplica. Lubrificação é muito importante, mas nada de usar sabonete ou condicionador pra isso! Existem produtos que são testados dermatologicamente para você conseguir se estimular de maneira adequada. “Isso é importante para que uma experiência que deveria ser boa não se torne um trauma! Gel à base de água para o dia a dia e para os brinquedinhos e gel a base de silicone devem ser usados sem camisinha e são ótimos para usar banho e afins”, explica Uno.

Outra dica de ouro que vale para o sexo com outras pessoas, mas também ajuda quando o tópico é masturbação: faça xixi depois de masturbar e lave bem os genitais também. A falta de limpeza facilita a aglomeração de microorganismos e também favorece o mal cheiro. Por falar em higiene, é importante manter os sex toys que você tiver sempre limpos antes de eles serem guardados de volta na gaveta. A gente sabe que o orgasmo relaxa e dá até um soninho, mas nada de deixar essa etapa para depois, hein.

Se você ainda não tem o seu brinquedinho erótico e quer se aventurar no mundo da masturbação, vamos com calma e com cuidado. Usar objetos diferentes, como banana, cenoura, pepino, ou outros elementos, pode machucar, quebrar, causar alergias e não é recomenda pelos sexólogos. “Se não tiver um brinquedinho, a mão é uma ótima aliada para a masturbação”, reforça Paula.

E se a vontade de se masturbar aumentou depois de ler tudo isso – ou se a libido anda em alta e você quer se masturbar toda hora, fique tranquilo, pois não existe um número correto ou incorreto de vezes que você pode fazer isso. “O importante é fazer quando estiver com prazer, sentindo o estímulo erótico, e aproveitar o momento. Se começar a prejudicar a vida da pessoa por algum motivo, é hora de ligar o alerta”, alerta a especialista.

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