Andar pelo centro de São Paulo é uma experiência que causa diversas sensações. Se por um lado, há o choque com a miséria crescente que ocupa as ruas e praças, é também um exercício de observar os vestígios de uma cidade desfeita e reconstruída tantas vezes.
A rua Venceslau Brás, no bairro da Sé, esconde em seus prédios germinados alguns tesouros do século passado, um deles é o edifício Superloft. Com três andares, grandes portas de vidro, colunas e fachadas que remetem tempos de opulência, o prédio cor de areia se camufla quando passamos em frente a ele. Quase ninguém sabe dizer qual é a sua história, mas hoje ele é o lar dos mais diversos eventos noturnos.
Na sexta (7) e sábado (8), os imensos salões internos abrigaram a estreia do projeto Night Embassy, promovido pela marca de licor alemão Jägermeister. O projeto, que incentiva a arte, a cultura e a diversidade com um olhar atento sobre a noite, chega pela primeira vez na América Latina após ter circulado pelas capitais mundiais do rolê: Berlim, Paris, Moscou e Joanesburgo. Para essa edição brasileira, foram escolhidos três embaixadores para comandar as atrações em cada data, fazendo também a curadoria cultural do espaço, trazendo workshops e palestras que acontecem ao longo dos dias, e também para as grandes festas e shows, realizados no período da noite, durante o mês de outubro..
Essas lideranças, artistas individuais ou coletivos, têm autonomia para explorar temas e conceitos relevantes para suas comunidades, com destaque a grupos periféricos e pessoas LGBTQIA+, e expressá-los em uma programação que apresenta diferentes formas de arte: dj sets com apresentações ao vivo, instalações, design, poesia, fotografia, pintura, dança e demais expressões. São grandes articuladores, conhecidos por uma forte capilaridade em espaços de efervescência cultural.
Leia mais sobre o projeto Night Embassy São Paulo
O embaixador do primeiro final de semana foi o estilista carioca Diego Gama, dono da marca Diegogama. Com o nome Margens do Encontro, os dois dias de residência exibiram a junção entre moda, arte e festa. Diego contou com supervisão e mentoria do stylist, maquiador e drag queer Alma Negrot (nome artístico de Raphael Jacques).
Nascido em Friburgo, Diego é filho de profissionais do esporte. Ele jogou basquete durante alguns anos, mas escolheu percorrer um caminho diferente. Foi então que se mudou para São Paulo para cursar a faculdade de moda. Havia, no entanto, um elemento no mundo esportivo que serviu como porta de entrada para a moda: o uniforme. “No esporte, o uniforme tem uma importância muito grande. É uma roupa que não está necessariamente está no lugar comercial para quem está vestindo, ele diz muito mais sobre comunhão, sobre o time, sobre a equipe, sobre trabalhar duro por um objetivo. É sobre coletividade”, ele conta.
“No esporte, o uniforme tem uma importância muito grande. É uma roupa que diz muito mais sobre comunhão, sobre o time, sobre a equipe, sobre trabalhar duro por um objetivo. É sobre coletividade”
Diego Gama
E, assim como o esporte, a festa também representa a comunhão para o estilista. Novo na cidade, foi nas festas, na noite de São Paulo, que encontrou suas pessoas.
Diego teve pouco mais de um mês para elaborar a curadoria para os dois dias de evento. De certo modo, seu desafio era colocar um pouco de sua história, com “A proposta era responder como eu represento a comunidade da moda, a constituição dessa comunidade dentro desse espaço”, diz.
Responder a essa pergunta não foi nada fácil. “Eu sempre me senti outsider na moda. O que eu faço é muito experimental para ser moda e muito moda para ser arte. Então eu quis trazer pessoas que fazem trabalhos com a intenção de borrar esses limites do que entendemos o que são essas linguagens.”
Tarefa fácil ou não, fato é que moda e rolê têm tudo a ver, principalmente para pessoas LGBTQIA+, como Diego.