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A Paixão Nacional de Mateus Carrilho

O cantor fala sobre ativismo e importância da valorização da cultura nacional

por Gabriel Portella Atualizado em 4 ago 2023, 12h45 - Publicado em 30 jun 2023 12h26

Pode parecer clichê, mas o verão representa muito bem o espírito do brasileiro. Seja pelo calor onipresente, ou por aquela inexplicável alegria que começa cedo e acaba tarde, nada é mais brasileiro do que os gatilhos sensoriais que a estação nos causa. A muvuca de domingo em volta da churrasqueira, a cerveja trincando na mesa do bar, a areia da praia agarrada entre os dedos dos pés e o sol quente reluzindo na pele  são apenas alguns cartões postais do nosso país verde e amarelo.

E para celebrar toda a diversidade da brasilidade, o cantor Mateus Carrilho lançou seu primeiro álbum, intitulado Paixão Nacional, onde explora não apenas os diferentes ritmos e gêneros musicais do país, mas também se auto desafia a ir além do que é mostrado em seu histórico.

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(fotografia: Fernando Mendes/ design: Núria Lima/Divulgação)

Um brinde ao Brasil sem Bolsonaro

Em conversa com a elástica, Mateus Carrilho explica que seu disco é um brinde ao país, um discurso sobre o que é brasileiro e um olhar para o futuro sobre o que o cantor define como tempos sombrios vividos. “Se o Bolsonaro tivesse sido reeleito não faria sentido nenhum esse disco. A vitória do novo presidente foi importante para mim porque ela é um resgate da nossa cultura, da nossa bandeira. As nossas riquezas são muitas, não podemos nunca deixar de exaltar e tomar isso para a gente”, explica.

Isso me excita como artista, vou sempre procurar um novo lugar para caminhar. É muito sobre quem sou hoje e minha musicalidade que soa bem mais madura. Abandonei todas as minhas certezas, tipo ‘ah, isso eu vou fazer porque acho que vai viralizar’. Sou artista e preciso ser artista, e é um álbum sobre a minha paixão pela música e pela arte e pelo Brasil”

O cantor, que teve seu início nos holofotes quando ainda era integrante da extinta Banda Uó afirma que a construção do seu lançamento levou anos e que reflete uma grande evolução como compositor, sendo a primeira vez que explorou ritmos e estilos que não havia feito antes: “Isso me excita como artista, vou sempre procurar um novo lugar para caminhar. É muito sobre quem sou hoje e minha musicalidade que soa bem mais madura”, comenta Mateus. “Abandonei todas as minhas certezas, tipo ‘ah, isso eu vou fazer porque acho que vai viralizar’. Sou artista e preciso ser artista, e é um álbum sobre a minha paixão pela música e pela arte e pelo Brasil.”

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Come back da Banda Uó

Entre sorrisos e olhares nostálgicos, daqueles que buscam uma lembrança boa no fundo da memória, Mateus relembra o início do seu sonho em ser artista, que começou ainda na infância, quando utilizava a câmera emprestada do tio para criar e se expressar. O cantor expõe que todas as suas brincadeiras eram sobre a arte, seja fazer demo, fazer clipe, fazer filme, mas que a certeza de seguir nesse caminho só veio após o momento que começou a receber projeção e atenção de pessoas da indústria. “Falam sobre um come back (da Banda Uó), mas o que eu vivi na fase da Uó fez muito sentido naquela época, hoje meu lugar é outro, sou apaixonado pelo frescor, pelo que é novo. Tive o sucesso de ‘Corpo Sensual’, que foi estrondoso e mexeu comigo, porque foi a primeira vez que experimentei o mainstream. No entanto, depois que eu fiquei sozinho, percebi que é muito mais sobre ter a segurança de saber onde e tô pisando e sobre ter confiança no que to fazendo”, explica.

O cantor também comenta que sua paixão de criança pelo audiovisual se mantém e sua vontade de atuar ainda pulsa forte. Segundo o intérprete de “Menino”, o cinema brasileiro o influenciou na sua arte e ele estaria disposto a se aventurar nas telonas.

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(Thais Vandanezi/Divulgação)
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Ativismo e influência

Em junho é comemorado o Dia Internacional do Orgulho LGBTQIAP+ e, de acordo com um estudo feito pela Oldiversity, 72% da comunidade gostaria de ver mais propagandas com elementos de diversidade. Devido a essa demanda, principalmente em junho, as empresas buscam trazer figuras públicas que pertencem à comunidade para estrelar suas campanhas. No entanto, tal prática, comumente chamada de pink money, pode ser mal vista pelos LGBTQIAP+ caso se comprove que a marca está se utilizando das pautas da comunidade apenas para fins lucrativos, sem realmente mostrar algum interesse sólido em auxiliar o grupo minoritário

Mateus afirma que, durante junho, as propostas comerciais aumentam e que as marcas devem tomar cuidado para que essa questão não se torne apenas publicitária e financeira. De acordo com o cantor, o problema, que não é novo, não está perto de ser resolvido e é necessário que a comunidade LGBTQIAP+ construa o lugar de reivindicação. “Para nós, que somos influenciadores, é bater na tecla que não é só em junho que precisamos trabalhar. Eu sou parte da comunidade, mas também sou compositor, artista, quero estar num programa de manhã para fazer pão de queijo, não apenas para falar sobre a causa”, afirma Mateus Carrilho.

Para o cantor, ser artista é falar sobre o seu tempo e a sua história, o que torna seus posicionamentos naturais. Protetor também da causa animal, Mateus explica que é necessário tomar cuidado e sempre lembrar que do outro lado há pessoas que estão sendo verdadeiramente influenciadas pelas atitudes e falas dos artistas.

“Sou um garoto que cresceu na roça e aí virei pai de pet durante a pandemia. Quando me mudar para uma casa maior quero adotar mais animais ou até mesmo conseguir uma parceria com uma instituição ou abrigo, para poder contribuir de verdade”, afirma o cantor sobre sua atuação na defesa da causa animal.

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(Thais Vandanezi/Divulgação)
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I.A. e futuro

Questionado se teme o crescente uso da inteligência artificial nas criações artísticas, Mateus brinca que adoraria que elas ajudassem a baratear a produção de coisas caras, como os videoclipes. “Jamais vou substituir o que faço por uma inteligência artificial. Se a tecnologia puder contribuir para que nós avancemos em questões que são muito lentas, vou achar o máximo, porém creio que as coisas precisam de alma. Talvez a I.A. vire uma estética e não um lugar que tome tudo”, explica o cantor.

“Abrace suas particularidades, sem fazer isso, ninguém te enxergará. Há algo guardado aí dentro que pode ser a virada de chave, então abrace as diferenças que te fazem especial”

O cantor ainda ressalta a importância da autenticidade para a sua carreira e para os novos talentos que ainda estão começando na indústria da música, os quais, muitas vezes, creem que para serem vistos precisam seguir tendências. “Abrace suas particularidades, sem fazer isso, ninguém te enxergará. Há algo guardado aí dentro que pode ser a virada de chave, então abrace as diferenças que te fazem especial”.

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(Thais Vandanezi/Divulgação)
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