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Quem paga a conta dos criadores independentes?

Como artistas, músicos e jornalistas têm feito uso de plataformas de financiamento para se manterem ativos

por Lucas Assunção Atualizado em 9 set 2020, 12h00 - Publicado em 9 set 2020 00h58
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(Clube Lambada/Ilustração)

e estamos falando de arte, conteúdo ou jornalismo, não importa. A remuneração de criadores independentes, que desenvolvem seus produtos sem o subsídio de grandes corporações, não anda muito bem resolvida. Produzir o que quer que seja dentro da indústria criativa custa caro e, nesse jogo de passa e repassa, ninguém sabe quem paga a conta no final. Diante dessa dificuldade de monetização e de uma situação de precarização da cultura no nosso país, muitos criadores têm encontrado suporte nas plataformas de financiamento coletivo.

Inicialmente destinado a causas sociais, comoções públicas e atos de solidariedade (aos moldes das vaquinhas off-line), hoje, o financiamento coletivo atende às mais diversas iniciativas, desde que alguém esteja disposto a contribuir com isso. Sim, as vaquinhas andaram para que o crowdfunding pudesse correr.

Na página inicial do Catarse, uma das principais plataformas do gênero no Brasil, o anúncio: “Traga seu projeto criativo ao mundo. Inicie sua campanha”. Já no Apoia.se: “Aumente o poder de realização do seu projeto com a potência do crowdfunding”. O slogan do Patreon, plataforma estadunidense de crowdfunding é “A melhor forma para artistas e criadores de conseguirem uma renda sustentável” (em tradução livre). É difícil dizer exatamente em que momento os financiamentos coletivos deixaram de ser sobre projetos sociais e se tornaram uma fonte de renda, mas a realidade é que cada vez mais artistas e criadores têm aderido a essas plataformas como forma de continuar produzindo de forma independente. No Apoia.se, das mais de 26 mil campanhas ativas, 41% são do ramo de cultura economia criativa (dança, teatro, desenho, pintura, escrita, eventos, fotografia, música, vídeo, cinema e jornalismo). No Catarse, esse número também é de pouco mais de 40% dentre as categorias de artes, cinema e vídeo, design de moda, fotografia, jornalismo, literatura, música e teatro e dança.

O Apoia.se, por sua vez, já foi criado nessa perspectiva: “APOIA.se surge da pergunta: como criar uma forma de financiar a trajetória criativa/produtiva de todo mundo que queira viver da sua forma forma de fazer arte? (a plataforma) nasceu para oferecer uma alternativa de financiamento, sustentabilidade e conexão para criadores(as) de conteúdo e artistas, mas no decorrer de nossa trajetória as possibilidades foram ampliadas. ” a partir da trajetória pessoal de Hernán Efrón, músico e idealizador da plataforma. 

Seja para viabilizar um projeto ou criar “clubes de assinatura”, o crowdfunding pode significar a autossuficiência para alguns criadores, representando a possibilidade de priorizar o conteúdo sem recorrer à lógica desenfreada de propagandas e publiposts.

O financiamento coletivo, então, se mostra como mais do que um novo modelo de negócios que incentiva a produção independente e demonstra o poder e autonomia das comunidades digitais. É também um reflexo da dificuldade de monetização e remuneração do trabalho de artistas e profissionais do ramo criativo – uma situação, que cabe acrescentar, se agravou muito desde o início da pandemia.

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Em conversa, os representantes do Apoia.se confirmam: “Percebemos que desde o início da crise da COVID-19, em março, tivemos um aumento de 73% em novas campanhas de crowdfunding lançadas na plataforma em comparação com fevereiro.” Nos meses seguintes, esse número continuou aumentando, atingindo um aumento de 145% de campanhas criadas no mês de julho, em comparação ao mês de fevereiro.

“Percebemos também que muitos músicos, artistas, ONGs e muitos outros criadores perderam seu principal fluxo de receita devido ao distanciamento social.” Renata Batistelli, do Apoia.se aponta que os impactos da crise do COVID-19 sobre a economia criativa, principalmente o setor de cultura e eventos, também pode ser percebido pelo aumento das campanhas de financiamento coletivo. “Está também acontecendo o surgimento de um público completamente novo para o financiamento coletivo. Empresas locais, como restaurantes, cafés e bares, estão usando o financiamento coletivo para sobreviver durante as crises”, continua.

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(Jup Do Bairro, Felipa Damasco, Cai Ramalho/Divulgação)

De dois em dois reais fiz o meu malote

“Corpo marginal, transgressor e sem juízo”. Assim se define Jup do Bairro, artista independente e ativista dos direitos LGBTQI+. Na música “O Corre”, ela entoa: “Hoje eu tô no corre/De dois em dois reais fiz o meu malote”. Jup possui, hoje, uma campanha de financiamento recorrente que pode ser acessada através de seu perfil no Spotify, mas sua história com os financiamentos coletivos é mais antiga. Em 2018, ela começava a planejar sua primeira campanha de crowdfunding, lançada no ano seguinte, para financiar o álbum, Corpo sem juízo, lançado em junho deste ano. “Mal sabia o que me aguardava, uma guerra cultural já estava sendo estabelecida afetando diretamente as produções artísticas. Uma semiótica que é sempre importante levantar, como exemplo, é que, quando um governo conservador assume o poder, as primeiras ações de cortes são justamente na cultura e acessibilidade à arte” conta Jup que, frente a essa situação, mudou a estratégia para conversar diretamente com o público.

“A sensação que eu tive ao dividir meu trabalho financiado coletivamente foi a emoção que as pessoas me passam com um ar de ‘poxa, eu ajudei a fazer isso’, com isso, a minha equipe deixa de ser de quatro pessoas [Thiago Felix, Felipa Damasco, Izabela Costa e Bia Bem] e acaba sendo gerada direta e indiretamente por mais de 700 pessoas que me ajudam a administrar, cuidar e compartilhar esse trabalho”, explica a cantora, ao dizer que deixou o público tão responsável pela realização do álbum quanto ela mesma.

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“Acho importante levantarmos uma reflexão sobre o isolamento social. O mundo está vivendo hoje o que corpo pretos e corpos trans já vivem durante muito tempo: o medo de sair de casa e morrer e, sobretudo, a precariedade”

Jup do Bairro

Além da forma de financiar álbuns e projetos, o formato de streaming  e o jeito de consumir música também mudou a forma como ela é produzida. “Estamos num momento em que a indústria pede uma música de até três minutos, que comece pelo refrão e tenha potencial de viralizar no TikTok, senão, que ao menos tenha potencial dramatúrgico” afirma Jup, que complementa que as plataformas são, sim, importantes, para alcançar mais pessoas, mas não podem ser o destino final. Isso porque a remuneração de artistas independentes é muito precária na era do streaming, com plataformas como o Spotify pagando R$0,00397 por play — fora os 20% ou 30% abocanhados pela distribuidora.

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(Jup Do Bairro, Felipa Damasco, Cai Ramalho/Divulgação)

E esse problema se tornou ainda maior desde o início da pandemia da covid-19, em que Jup, assim como todos os outros artistas, ficaram sem a possibilidade de realizar shows ou eventos. Quando questionada sobre, ela é incisiva: “Acho importante levantarmos uma reflexão sobre o isolamento social. O mundo está vivendo hoje o que corpo pretos e corpos trans já vivem durante muito tempo: o medo de sair de casa e morrer e, sobretudo, a precariedade”.

Por mais que as lives patrocinadas que tomaram conta do YouTube e de apps desde o início da quarentena cubram o buraco no orçamento de alguns artistas, esse recorte não é democrático. “Hoje, as grandes marcas e instituições vendem a teoria de fortalecimento de artistas que não estão conseguindo trabalhar, mas quem são esses artistas? O interesse é único e exclusivo para gerar algoritmos. Assistindo a grande quantidade de dinheiro investida em poucos artistas me deixa pessimista do que vem depois disso”, questiona Jup, que não se sente tão otimista com as possibilidades pós-pandemia. “Mas estar pessimista não é estar derrotada.”

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(about Chicos/Divulgação)

Financiamento sem censura

Trazer o público para financiar um projeto artístico e cultural é também uma forma de driblar o olhar conservador que, muitas vezes, os grandes players da indústria podem ter. Exemplo disso é o projeto About Chicos, criado em 2015 com o objetivo de registrar a história e os corpos de homens gays, criado pelos mineiros Fábio Lamounier e Rodrigo Ladeira. Hoje, existem diversos projetos de nu masculino com viés mais militante e artístico, mas, quando a dupla colocou o Chicos na rua, foi um dos primeiros desse tipo.

O financiamento surgiu como opção para a dupla de fotógrafos um ano após a criação do Chicos, como maneira de publicar o primeiro livro/zine físico do projeto, com um compilado dos registros captados entre 2015 e 2016. “Fizemos um livro de 300 páginas, com acabamento incrível, do papel à impressão, capa dura e com relevo, tudo feito da melhor forma possível por R$ 120m incluindo a entrega para qualquer cidade do Brasil. Sabemos que não é um preço barato, mas considerando que editoras cobram algo como 50% a 70% do valor, o livro teria de ser vendido a quase o dobro”, contam.

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(about Chicos/Divulgação)

Fábio e Rodrigo afirmam que o About Chicos não foi criado com fins lucrativos seu sustento vem da produtora criada paralelamente pela dupla, a Doma 02 –,m mas nem por isso as questões comerciais deixaram de ser problemáticas. “Temos uma série de temas que ou são tabus ou não vão ser apoiados por empresas, ou mesmo galerias, por questão de polêmica ou falta de interesse comercial. Quando começamos o Chicos, acompanhamos uma série de projetos com a mesma temática do corpo enfrentando as mesmas dificuldades de estarem presentes e em atuação. Coincidentemente, o Instagram do Chicos atualmente se encontra desativado pela própria plataforma por uma censura que se repete com bastante frequência”, diz Fábio.

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Uma publicação compartilhada por fábio lamounier (@fabiolamounier) em

Enfrentando a censura do Instagram e, ainda, o preconceito com o trabalho do Chicos, a dupla aponta: “As plataformas de financiamento coletivo dão uma certa independência pro artista, que consegue propor seu trabalho sem tantas amarras que alguma empresa ou veículo colocaria. Sabemos que nosso livro, lá em 2016, jamais seria publicado por alguma editora, talvez por ser um projeto recente, ou por conta do tema, mas também pelo custo que queríamos chegar com o livro.”

Fábio e Rodrigo finalizam lembrando que é trabalhoso cuidar de um financiamento coletivo: existe todo o processo da campanha, da divulgação e, no caso deles, de acompanhar a impressão e erros no processo. Mas que, chegar direto a quem acompanha o projeto e atuar sem intermédio de ninguém, “torna muito mais rápido e possível esse trabalho.”

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(Marina Colerato/Divulgação)

Um jornalismo sustentável (em todos os sentidos)

Garantir que o olhar de quem idealiza o projeto siga intacto e sem influências mercadológicas não é importante apenas na arte, mas também no jornalismo. Marina Colerato é a criadora do Modefica, projeto independente que existe há seis anos e aborda o socioambientalismo sob a perspectiva interseccional. Se a discussão sobre financiamento da produção jornalística acontece até mesmo para grandes veículos, para aqueles de menor porte e que ainda tem uma perspectiva midiativista isso se torna ainda mais complexo.

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Para Marina, o financiamento foi uma forma de abrir uma discussão muito importante sobre o custo do jornalismo de qualidade. “É importante a gente, enquanto jornalista, incentivar e explicar que jornalismo custa caro, que tem alguém pagando e que, se não for o leitor, vão ser grandes empresas ou, normalmente, no caso de mídias independentes, podem ser fundações ou outros projetos que financiam mídias.” Ela explica que, nesse segundo caso, a editoria pode acabar se tornando refém desses anunciantes ou financiadores, comprometendo até a credibilidade editorial de um projeto – principalmente no caso do midiativismo.

À medida que a comunicação migrou para o digital e um número cada vez maior de indivíduos começou a produzir conteúdos próprios, as linhas se tornaram mais tênues. “Um dos problemas que a gente vê hoje na cultura de comunicação não é nem só a questão da remuneração, mas um analfabetismo midiático muito forte. As pessoas não sabem diferenciar o que é um produtor de conteúdo e o que é um jornalista”, ela explica.

“A gente tem também um problema de financiamento, que está atrelado a uma cultura de produção de conteúdo gratuita, então você viciou muita gente, gerações, a não pagarem pelo que consome”

Marina Colerato

A remuneração do trabalho jornalístico também sofreu nessa confusão. “A gente tem também um problema de financiamento, que está atrelado a uma cultura de produção de conteúdo gratuita, então você viciou muita gente, gerações, a não pagarem pelo que consome.” Ela reforça, no entanto, que não culpa os produtores de conteúdo pelo problema de financiamento: a própria migração dos veículos de notícia para o digital também apostou no conteúdo gratuito, já que ainda tinham o suporte dos impressos.

Marina continua, explicando ainda que essa lógica também criou uma cultura de alcance, de likes, de compartilhamento devido à necessidade de se prestar contas de um trabalho para um cliente ou anunciante. O que é problemático, já que entendemos que existe um perfil de conteúdo que viraliza, que alcança pessoas e que esse nem sempre é o perfil do conteúdo jornalístico apurado e embasado. “Existe esse problema do analfabetismo midiático e a questão do financiamento atrelado ao alcance num universo saturado e que não está necessariamente preocupado com o conteúdo”, conclui.

Sobre as plataformas de financiamento coletivo, Marina acredita em seu potencial, mas não as vê como uma solução efetiva para esses problemas. “As plataformas de financiamento coletivo ajudam, mas não sei se poderíamos dizer que é um caminho para a emancipação, do ponto de vista do jornalismo e das mídias independentes que vejo ao meu redor não existe uma perspectiva de conseguir financiar só com as doações individuais. Inclusive mídias mais robustas que conhecemos têm problemas para se financiar só com assinaturas.”

Vimos, nos últimos anos, grandes veículos de comunicação e jornalismo fechando suas portas, tendo dificuldades com assinaturas e, mesmo com elas, não abrindo mão de publicidade nem de conteúdos patrocinados em seus sites. Apesar de auxiliar, a força das comunidades on-line ainda não parece ser capaz de sustentar toda uma cadeia de produção jornalística composta por diversos profissionais tanto pelo alto custo disso quanto pela baixa adesão relativa às plataformas de financiamento coletivo.

Marina conta que, no ano passado, em seu Instagram (que julga ter um público relativamente esclarecido em relação a essas questões), fez uma enquete em que grande parte das pessoas afirmaram consumir notícias e conteúdo de veículos médios e grandes e essa mesma maioria também nunca havia contribuído financeiramente com eles. Ela reitera sobre o quão demandante é a manutenção de uma campanha on-line de financiamento coletivo. Assim como Fábio e Rodrigo nos contaram, todo o trabalho de divulgação é complicado para esses profissionais e exigem um tempo que poderia ser dedicado a outros ofícios – aqui, no caso, o jornalismo. E a efetividade de um crowdfunding é dependente de uma frequência de divulgação que, além de dispendiosa, pode comprometer uma editoria.

Marina compara também o financiamento coletivo com outras formas de monetização do conteúdo nas redes sociais. “[Para um publipost] entram em contato comigo, eu mando uma proposta, faço o texto, ajusta, aprova e o dinheiro tá na mão e tá pago. O financiamento coletivo depende de meses convencendo as pessoas a fazer esta doação para você. Então, tem essas questões, mas ao mesmo tempo, você não tem tantas amarras, tem seus prós e seus contras.”

Marmita e conteúdo a R$10

A cantina do Duds foi criada pela Luana Adriano e pelo Eduardo Possa em 2019, em Florianópolis. Com o objetivo de acessibilizar o veganismo, eles produziam e vendiam marmitas orgânicas, entregues de bike e com embalagens retornáveis por apenas R$10. Tanto como estratégia de marketing quanto para promover o veganismo popular, Luana e Duds produziam conteúdo para o Instagram desde que o projeto surgiu.

A página somava mais de 7 mil seguidores na plataforma antes do início da pandemia no Brasil, quando os dois decidiram parar de produzir as marmitas por não se sentirem mais seguros. Como forma de manter a produção de conteúdo ativa e garantir que poderiam continuar investindo seu tempo nisso, decidiram monetizar esse conteúdo. Pelos mesmos R$10 antes cobrados pela marmita, o consumidor apoia a produção da Cantina do Duds e tem acesso a uma newsletter com conteúdos exclusivos, como conversas pessoais, recomendações de leitura e receitas.

Hoje, já com mais de 11 mil seguidores e o financiamento coletivo recorrente há mais de 5 meses, Luana conta que recebe em torno de R$750 por mês. “Não nos sustenta, mas somado ao auxílio emergencial e aos freelas que eu tenho, a gente consegue passar por essa pandemia mais tranquilamente. Depois da pandemia, pensamos em usar o dinheiro da plataforma para investir na produção de conteúdo, mas no momento estamos usando para ajudar nas contas”. Na página do financiamento, na plataforma Apoia.se, eles contam que depois da crise do COVID-19, querem manter a plataforma ativa como forma de apoio para o investimento na produção de conteúdo, com a aquisição de ferramentas de fotografia e vídeo.

“Entendo os que fazem, pois é uma profissão e tem que monetizar, né? Ainda mais num momento tão delicado como essa pandemia. Mas tem que cuidar porque é muito fácil cair no papo liberal de empresas que dizem promover uma causa, mas só querem monetizar em cima de movimentos sociais”

Luana Adriano
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(Carol Werutsky/Divulgação)

Luana conta que trabalha com produção de conteúdo para terceiros, então sempre entendeu isso de forma profissional. No entanto, quando questionada sobre a monetização da produção de conteúdo, ela explica: “O acesso a muita coisa na internet é gratuito, mas manter aquilo no ar não é. Essas profissões, criador, influencer e tal, são muita novas, né? Tem gente que nem vê como um trabalho”, pontua.

Sobre a possibilidade de criar conteúdo patrocinado, os infames #publis, ela opina: “Entendo os que fazem, pois é uma profissão e tem que monetizar, né? Ainda mais num momento tão delicado como essa pandemia. Mas tem que cuidar porque é muito fácil cair no papo liberal de empresas que dizem promover uma causa, mas só querem monetizar em cima de movimentos sociais. Greenwashing, veganwashing, pink money etc. Tem que cuidar para não ser hipócrita. Por isso, eu acho as campanhas de financiamento coletivo muito massa! Você não precisa ter um grande público, você precisa estar conectada com o público que você tem.”

No entanto, apesar das possibilidades do financiamento coletivo, ainda existem dificuldades em relação a isso. “Vejo muita gente, principalmente no Instagram e no YouTube, com campanhas de financiamento no ar, então acho que quem produz conteúdo já sacou isso, mas eu também vejo que o número de pessoas que apoiam os projetos versus o número de pessoas que acompanham as páginas é bem diferente. Por exemplo, a gente tem 11 mil seguidores hoje e pouco mais de 40 pessoas nos apoiando. A Sabrina Fernandes, do canal Tese Onze, tem mais de 300.000 inscritos e pouco menos de 1.000 pessoas financiando o canal da última vez que eu olhei, pois sou apoiadora lá.”

Afinal, a responsabilidade de sustentar seus criadores preferidos é do público que os acompanha, por meio de um modelo de negócio como os crowdfundings? Esses questionamentos surgem, mas não existe uma resposta certa. “É compreensível você continuar consumindo conteúdo de forma gratuita quando isso é uma escolha, especialmente quando você vê uma campanha de financiamento coletivo em que o apoio é mensal, o formato mais comum para criadores de conteúdo”, explicam Luana e Duds.

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esses dias estávamos pensando sobre a nossa trajetória com a cantina. nosso negócio surgiu aos poucos, por necessidade financeira e, principalmente, vontade de empregar nossa energia vital em um projeto com compromisso e responsabilidade socioambiental. ele não foi um projeto inovador, antes de nós muitas pessoas já faziam marmitas veganas e entregavam de bicicleta, mas percebemos que a cantina inspirou muita gente a continuar repetindo esse modelo de trabalho. ⠀ sem esquecer que ainda estamos no meio de uma pandemia, mas já pensando que depois dela muitos estarão com energia acumulada e vontade de estabelecer novas relações com o trabalho, a cidade e a comida, organizamos algumas etapas que foram essenciais para a nossa jornada. é importante dizer que por conta da crise econômica que foi agravada pela pandemia de coronavirus, muitas pessoas perderam ou perderão seus empregos. esse post não tem o intuito de incentivar o trabalho informal (que tem salvado milhões de brasileiros), é sobre inspirar. seguimos lutando pelos direitos da classe trabalhadora. ⠀ todas as fotos e vídeos inclusas nesse post foram registrados em 2019.

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No corre, mas até quando?

Personalidades como a Jup, Fábio, Rodrigo, Marina, Luana e Duds (e tantos outros) buscam desviar da curva de frequente descontinuação dos trabalhos independentes por falta de investimento. Mas manter esses financiamentos coletivos ativos é um “corre”. Um trabalho intenso de divulgação para uma porcentagem relativamente pequena de apoiadores (se comparada aos seguidores, por exemplo) e repleto de incertezas. Os financiamentos ajudam esses produtores independentes a terem mais autonomia e, para campanhas pontuais, com meta e data limite, parecem representar, sim, um novo de modelo de negócios.

Para manter uma campanha ativa e efetiva, Fábio e Rodrigo, da About Chicos dão algumas dicas. “Persistir bastante na divulgação do projeto, explicá-lo, seja em texto ou em vídeos, e ser muito transparente com os gastos/custos para se realizar o que quer que seja. Também não se desanimar com a projeção do arrecadamento – geralmente, existe um “boom” nos primeiros dias, seguido por uma estabilidade bem baixa de adesão. Sempre ‘lembrar’ as pessoas da importância de ter o apoio delas pro projeto e do tempo finito para que isso possa acontecer. Nem todo mundo acompanha o seu projeto desde o início, então é bom ser didático em alguns conteúdos no sentido de conseguir novos apoiadores.”

Os financiamentos coletivos não sustentam esses criadores e não parece existir uma perspectiva de que isso aconteça, também. No entanto, eles apresentam uma boa saída para a produção independente enquanto buscamos novas soluções para a remuneração e repensamos onde investimos nosso dinheiro: “Claro que cuidar de todo esse processo é muito trabalhoso, mas vale a pena quando você vê pronto! Pensar que estamos atuando há mais tempo e com a possibilidade de chegarmos direto a quem acompanha nosso trabalho sem intermédio de ninguém pelo financiamento, torna muito mais rápido e possível esse trabalho.” concluem Fábio e Rodrigo.

 

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