ma das marcas significativas da maconha é o aroma. Quem nunca sentiu alguém fumando um beck a quilômetros de distância? A riqueza da marofa tem justificativa: a complexidade de seus terpenos.
O termo é popular entre os consumidores da erva, já que pesquisas revelam grande complexidade de terpenos na sua composição (são mais de 100). Mas não é algo exclusivo à cannabis: ervas, frutas, raízes, madeira e muitos elementos da natureza são lotados desses compostos orgânicos responsáveis pelo aroma.
“Há empresas no exterior comercializando terpenos para o mercado canábico e muitos brasileiros estavam importando. Então, por que não produzi-los aqui?”
João Lordello, sócio da Cool Terps
Alguns de seus nomes dão boas dicas. O limoneno, por exemplo, é bastante encontrado nas frutas cítricas; o pineno está presente em pinheiro, eucalipto e sálvia. Já o linalol é bem representado por flores como o lírio e a lavanda. Outra qualidade dos terpenos é seu papel terapêutico. Eles são a base de óleos essenciais, muito usados em tratamentos para depressão, ansiedade, dores musculares e até problemas respiratórios. Quando aplicado isoladamente, o terpeno tem poder ainda maior. “O óleo essencial ainda recebe outros produtos na composição, o que o torna menos potente”, explica João Lordello, sócio da Cool Terps, empresa brasileira de terpenos inaugurada no ano passado.
Quando se trata de alimentação, o grande barato dos terpenos é conseguir aromatizar qualquer produto com pouquíssima quantidade – um ótimo negócio para quem trabalha em escala industrial. Esse é o grande objetivo da Cool Terps, mas, neste início, a empresa se voltou para os apreciadores da cannabis. “Há empresas no exterior comercializando terpenos para o mercado canábico e muitos brasileiros estavam importando. Então, por que não produzi-los aqui?”, questionou-se o empresário.
Hoje, há quatro blends criados pela Cool Terps: Mango, Diesel, Lime Kush e Berry White, todos relacionados às cepas comuns aos consumidores. “Os nomes despertam curiosidade entre os leigos, que não fazem associação direta à maconha. Por outro lado, atrai quem já conhece as cepas. Assim, conseguimos atingir os dois mercados”, justifica. Antes que saiam pensando que a empresa está usando cannabis, Lordello faz questão de frisar que seus produtos são elaborados de forma totalmente legal. E, mesmo se o cultivo fosse liberado no Brasil, talvez não fosse tão vantajoso usar a erva na produção. “Extrair [os terpenos] da flor de cannabis é muito caro e ainda corre o risco de ter THC e CBD na composição”, conta ele, que consegue terpenos de outras fontes naturais e recombina-os, para chegar ao aroma da maconha.
Se por um lado esses terpenos costumam ser a salvação para os maconheiros aromatizarem seus prensados de baixa qualidade, de outro eles são um grande atrativo para quem quer brincar com os aromas na gastronomia. A sommelière e especialista em bebidas Carolina Oda foi apresentada aos terpenos da Cool Terps e viu uma oportunidade de trazer intensidade e persistência aromática para bebidas, sejam elas drinques, cervejas e até não alcoólicos. “No futuro, se vender os terpenos separadamente, você vai poder fazer seu blend exclusivo, o que é também legal”, opina a especialista.
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Outro gancho para o uso dos terpenos “canábicos” está no público cervejeiro, como sugere Carolina. “Muita gente sabe que lúpulo e cannabis são primos, então podem atrair os amantes de IPA [estilo de cerveja bem lupulada] pela familiaridade desses aromas”, completa. Já tem cervejaria explorando esse parentesco: a Hipnose, de Lençóis Paulista (SP), em colaboração com Sommelier da Depressão, lançou recentemente uma Session IPA feita com terpenos “canábicos” e leva o sugestivo nome O seu cheiro me lembra… “Há mais dez cervejarias bacanas que estão testando nossos produtos”, avisa Lordello.
“Muita gente sabe que lúpulo e cannabis são primos, então podem atrair os amantes de IPA pela familiaridade desses aromas”
Carolina Oda, especialista em bebidas
Os terpenos da Coop Terps são vendidos em uma pipeta com 1 ml e, segundo o empresário, basta uma gota para aromatizar 1 litro de cerveja. Também dá para usar um álcool mais neutro, como a vodca, para fazer sua própria bebida “maconhada”. Como o terpeno é muito volátil, não é recomendado usar em pratos quentes. “Vai bem em sobremesas e bebidas e comidas geladas”, recomenda Lordello. Mas a brincadeira não é tão barata. Os valores variam entre R$ 90 (Lime Kush) e R$ 220 (Berry White). Se quiser se arriscar, aproveite as duas receitas de Carolina Oda com os terpenos, com exclusividade para a Elástica.