
dia 14 de março de 2020 ficou marcado como o último sábado em que uma festa de música eletrônica aconteceu (legalmente) na cidade de São Paulo no primeiro semestre – e provavelmente no ano. A pandemia do novo coronavírus congelou os eventos na cidade, no país e no mundo, deixando uma indústria inteira a mercê da sorte e, no Brasil, de um governo que deixou profissionais autônomos desassistidos. Enquanto os DJs e performers conseguem continuar tocando e se apresentando, ainda que com alguns obstáculos, equipes inteiras de segurança, limpeza e bar, que têm nas festas paulistanas sua única renda, ficaram completamente paradas.
A festa Versa, por exemplo, estava agendada para o dia 20 de março e precisou ser desmarcada. Com o caixa que tinha arrecadado para produzir o evento, Gabriel Brugnara pagou os funcionários com os quais já trabalhava por algum tempo. Em maio, quando o caixa foi zerado, decidiu criar o Salva Rave, iniciativa de união entre a cena underground de música eletrônica de São Paulo que visa amparar esses profissionais por meio de doações arrecadadas em lives, conversas e festas no Zoom com convites pagos. “A ideia é ajudar e valorizar quem está por trás da cena”, explica Brugnara.


“Antes das festas, faço uma reunião e explico que não é para maltratar os clientes, que eu não aceito racismo, gordofobia e homofobia”
Monica Pereira, chefe de equipe de segurança e limpeza
Na sua primeira fase, a Salva Rave conseguiu arrecadar quase R$ 5 mil reais, ajudando quarenta profissionais que sempre trabalharam para fazer a festa acontecer sem problemas. Uma dessas equipes é comandada por Monica Pereira, que cuida da segurança e da limpeza da maior parte das raves paulistanas com sua equipe de 47 pessoas. “Nós priorizamos contratar mulheres trans, lésbicas e gays”, conta. O cuidado de educar esses profissionais para que atuem em festas em que a maior parte do público é LGBTQIA+ é essencial – e um dos diferenciais da equipe que Monica criou há quatro anos. “Antes das festas, faço uma reunião e explico que não é para maltratar os clientes, que eu não aceito racismo, gordofobia e homofobia, que é pra tratar todos bem”, completa Monica.
Já na segunda fase do projeto, a Salva Rave se fundiu ao Rolê do Bem – iniciativa parecida de auxílio a esses profissionais – e a Fernando Sapuppo, da Cartel 011, unindo parte das festas paulistanas para ajudar, entre elas Blum, Dando*, Caldo, Gangue, Ghost, Silvertape e Sangra Muta, alguns dos nomes mais importantes da cena underground paulistana. No próximo domingo, dia 16, quase exatamente cinco meses depois da última festa presencial registrada em São Paulo, a Salva Rave vai transmitir uma live com Marcelo Elídio (Dando*), Kipitok (Blum), Victoria Ortiz (Caldo) e o DJ G/O na Rádio Toca com a finalidade de arrecadar mais recursos para o projeto. “A ideia, na segunda fase, é dobrar o número de pessoas assistidas. Na primeira fase, ajudamos as pessoas que estavam numa situação mais vulnerável”, completa Brugnara.

“Nós temos o plano de continuar essa iniciativa, de discutir equidade entre os salários de todos que trabalham na cena de música eletrônica. Os cachês dos DJs e dos seguranças não pode ser tão diferente”
Fernando Sapuppo, sócio da Cartel 011
O futuro do projeto, no entanto, não se limita ao fim da pandemia do Covid-19. “Nós temos o plano de continuar essa iniciativa, de discutir equidade entre os salários de todos que trabalham na cena de música eletrônica. Os cachês dos DJs e dos seguranças não pode ser tão diferente”, completa Fernando Sapuppo, que entra com a parte de planejamento de comunicação e divulgação da iniciativa. No futuro, Sapuppo também planeja criar uma loja online da Salva Rave dentro do site da Cartel 011, com roupas doadas por marcas amigas, para aumentar a arrecadação.

– (Blum/Divulgação)