Tá, mas quem é Lourdes?
Uma grande safada (aloka)! No início do texto, trouxe um trecho de uma conversa que tive com a Lourdes. Não é a da novela – que morreu e me deixou mega triste. Ela é seguidora do meu canal, Senta, e sempre comenta ativamente as minhas postagens. Fiquei intrigado com uma mulher mais velha comentando e participando ativamente das discussões que normalmente são apropriadas pelos jovens.
Lourdes é viúva, avó e mãe. É adepta da inversão de papéis: prática sexual onde a mulher come o homem. Tudo começou quando os filhos dela saíram de casa e ela se viu sozinha e com tempo pra si mesma. Aqui, ela conta um pouco dessa história.
Como era a vida sexual da senhora antes dos 60, o que mudou de lá pra cá?
Lourdes: Com o pai dos meus filhos era um sexo tranquilo, sem tantas emoções. Ele me traía muito, mas eu não ligava e fui deixando. Fui cuidar dos meus filhos e deixei a vida sexual de lado. Quando é assim, já viu, né? Tinha que cuidar deles e eu não podia nem pensar em me relacionar. Mais tarde, aos 40 anos, descobri uma endometriose que me custou um ovário, fiquei arrasada pensando que minha parte mulher tinha ido embora. Meus filhos já estavam todos encaminhados, tendo suas próprias vidas e indo para universidade. Eu, naquela síndrome do ninho vazio, [sensação de solidão quando os filhos saem de casa], resolvi me aventurar na internet. Ali, descobri o mundo de chats virtuais e encontrei vários parceiros sexuais numa sala chamada “Mulher come homem”. Eu nem entendia direito o que era. Aos poucos, fui conversando e vi que eu tinha potencial para inversão.
E hoje, qual é o perfil dos seus parceiros?
Meus “amigos” são todos casuais e conhecidos através das salas de bate-papo. Normalmente casados, acima de 55 anos, já na decrepitude [termo que significa velhice] e que querem experimentar coisas diferentes. Já que eles não têm ereção, estão topando outros tipos de prazer. Eu queria muito alguém fixo, mas ainda não consegui.
E como foi sua primeira vez com alguém dessas salas? Quais as histórias mais interessantes?
A primeira vez foi muito esquisito. O cara queria se montar na minha frente de mulher. Ele era engenheiro civil, veio na hora do almoço. Fomos num motel. Ele se montou com roupas femininas, de sapato de salto e tudo. Na hora, eu não entendi o que estava acontecendo, mas estava engraçado. Daí, a gente começou a transar. Ele pediu que eu enfiasse o dedo no ânus dele e ele gozou rapidinho. Parecia que era a primeira vez dele também. Depois que ele foi embora, nunca mais nos falamos. Era bem frequente esse comportamento pelos homens da sala. Outro caso foi de um rapaz que quis se encontrar comigo e pediu que eu fizesse fisting – prática sexual onde se penetra o punho (fist) e braço no ânus – nele, coisa que eu nunca havia feito. No dia, fiquei horrorizada e doeu minha mão, mas fiz mesmo assim. Eu sempre estava com tesão e querendo encontrar mais pessoas, acredito que pelos hormônios que comecei após o tratamento da endometriose. Então, resolvi comprar um consolo (dildo), que fez muito sucesso com um rapaz que peguei uma vez, que esqueceu de mim e queria ficar só com a boca no meu brinquedo.
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Aprendi a me soltar quando conheci um homem que era muito carinhoso comigo. Ele sempre levava o próprio dildo para os encontros. Era impressionante a expressão de prazer que ele fazia quando usava. Aos poucos, fui entendendo que realmente o prazer anal era diferente para os homens. Ficamos mais fixos e frequentes. Em determinado momento, tomei liberdade de convidá-lo para minha casa, para ficarmos mais íntimos um do outro. Era bem legal. Ele me encontrava em casa, às sextas-feiras à noite, comigo já nua e de cintaralho esperando. Ele adorava. Hoje, ele quer explorar como é dar para um homem, o tempo todo me pede para arrumar um homem pra ele (risos).
A senhora acredita que, hoje, sua vida é mais prazerosa do que antes?
Então, agora eu sinto muito mais gosto de fazer sexo. Hoje em dia, tenho orgasmos muito mais prazerosos. Após minha endometriose e todas as questões ginecológicas, comecei a tomar um medicamento chamado Tibolona, que protege o coração e os ossos. E, de um cinco meses pra cá, comecei a utilizar estrogênio também. Hoje em dia, é muito melhor. O que mais gosto é quando tem “carinhos de mão”, – acredito que seja a famigerada siririca. Nossa ,eu vou para o céu e volto, sempre! Me deixa doida. Penetração eu tive pouco depois dessa idade, meus parceiros são mais velhos. Então, é mais difícil. Eu gosto muito de sexo. Gosto de estar com homens. Gosto de carinho de homens e de acariciar o corpo deles, frente e verso. Se eu encontro um homem que gosta de todos esses carinhos da frente e atrás, é uma maravilha. Hoje, por conta da pandemia, está mais difícil. Ainda mais que eu gosto de homens com mais de 55 anos. E esses são os mais sem-vergonha, sempre levam as coisas para a sacanagem, mas tem dificuldade de se entregar. Ah, outra coisa que eu percebi é que os homens bissexuais são mais interessantes nesse último quesito, se entregam mais e não tem tanta resistência de me dar o verso – o verso é o ânus.
Lourdes, a senhora vê muito preconceito com sexo após os 50 anos? Qual recado você daria para pessoas da sua idade que são muito tímidas e retraídas?
Acho que sim, mas temos necessidades. No meu caso, as pessoas que saem comigo correm atrás de mim. Então, fico no meu canto. Quem quiser conversar comigo, ter amizade e afins, que o faça. Eu tenho muito preconceito comigo mesma, pela minha idade, maturidade e até mesmo por eu ser mulher. Acho que a pessoa que chega na minha idade, sobretudo mulheres, não gostam nem de falar de sexo. Elas dizem que já esqueceram isso. Eu me sinto muito privilegiada. Primeiro pela minha mentalidade, segundo pelo uso do meu hormônio. Acredito que eu seja assim pelo uso dele, pois sem ele eu fico com a pele seca, envelheço, entro em depressão e fico de mau humor.
E para os jovens, qual o seu recado?
Acho que eles devem olhar com mais amizade, carinho e atenção para nós. E não apenas como uma fantasia ou aventura com uma mulher mais velha. Uma mulher mais madura é carinhosa, atenciosa, que dá mais suporte para o homem e entende as fraquezas. Eu sinto que o jovem olha para a pessoa mais velha e acha que a gente não serve para mais nada. Muito pelo contrário, servimos muito: de conversa até sexo. Acredito, inclusive, que somos mais liberais e menos puritanas que os jovens. Acho que a partir dos 50 anos, a gente vive a vida sexual mais intensamente do que quando mais jovens.