Casa Clã

Elástica explica: O que é slam?

Na batalha de poesia, a palavra, a criatividade, a sonoridade e as formas de expressão são protagonistas

por Beatriz Lourenço 22 mar 2023 16h12

Declamar poesia é expressar os sentimentos da forma mais genuína possível. O processo é composto pela sonoridade das palavras, ritmo e rima. E quando essa ação vai para as ruas, une grupos e envolve uma competição, é chamada de slamO termo, derivado do inglês, quer dizer batida – algo semelhante a uma pancada. E, apesar do foco ser a escrita, os participantes não se baseiam em clássicos da literatura, mas reivindicam a visibilidade e poder para corpos historicamente deixados à margem.

Apesar da fala ser o elemento de destaque, a escuta não pode ser deixada de lado. “Ouvir também é uma forma de se alimentar e estimular a criatividade. Isso tem a ver com reconhecer a história de diferentes pessoas e captar o que estão te dizendo”, explica a poeta Mel Duarte, uma das fundadoras do Slam das Minas SP.

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(Mayra Azzi / Casa clã/Fotografia)

A prática não é recente. Na verdade, tudo começou em Chicago na década de 1980 com o poeta Mark Smith – que organizava saraus pelas ruas da cidade. Até que ele teve a ideia de criar uma competição de poesia envolvendo prêmios. Há, portanto, algumas regras: são três minutos para declamar o poema, que não pode ser acompanhado de figurino ou música

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(Elástica/Redação)

No Brasil, o slam foi introduzido por Roberta Estrela D’Alva, que fundou a Zona Autônoma da Palavra (ZAP!), primeira batalha de poesia do país, depois de ter conquistado o terceiro lugar na 8.ª Copa do Mundo de Slam, em Paris, no ano de 2011. 

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“Quem brilha é a palavra. É preciso procurar formas de brincar com elas”, diz Mel. “Para isso dar certo, é preciso ensaiar para não perder nota. Também é necessário aprender a lidar com o público e a própria competição. Às vezes, você se mata para escrever um texto muito legal e te dão nota seis. É muito doido esse processo.” 

Neste mês, Mel participou da Casa Clã, evento produzido pelas marcas da Editora Abril que reúne a Elástica e as três revistas femininas: Claudia, Bebê e Boa Forma a fim de celebrar o mês da mulher – refletindo os desafios do cotidiano e a potência feminina. Ela conversou conosco sobre como o slam potencializa os grupos sociais e pode ser um caminho para popularizar o aprendizado da literatura:

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Como o slam pode ajudar a popularizar a literatura e a poesia?
O slam trabalha na linha de frente. Há o slam escolar, por exemplo, uma iniciativa de São Paulo que já reúne mais de 100 escolas públicas. A popularidade das batalhas se deu por conta das redes sociais. Então, alguns professores vêem os vídeos que viralizam e passaram isso para os alunos porque percebem que a maioria deles têm dificuldade não só de escrever, mas de se comunicar. A galera acha legal porque é diferente, dinâmico, rápido e tem uma movimentação que foge dos textos dos cânones. E a partir daí, eles passam a se interessar pela escrita e pela leitura porque percebem que podem fazer arte a partir de suas próprias vivências.

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(Mayra Azzi / Casa clã/Fotografia)

O slam é sobre fala, expressão e sobre ritmo. Como a escuta entra nesse processo?
A escuta é o elemento principal. A gente parte da escuta para poder falar. Na hora que você está declamando, quer silêncio e atenção. Então, quando a outra pessoa fala, ouve o que ela tem a dizer. E ouvir também é uma forma de se alimentar e estimular a criatividade. Isso tem a ver com reconhecer a história de diferentes pessoas e captar o que estão te dizendo. Se você é está um pouco indiferente ao mundo, o slam é um ótimo lugar para praticar a escuta. Conheço muitas pessoas nesse fluxo que só vão para ouvir e aprender. 

Me lembro uma vez que estava num sarau do Grajaú e aí chegaram duas meninas brancas que não costumavam frequentar aquele espaço. Enquanto elas estavam ali, o Criolo chegou e elas perguntaram: “o que você está fazendo aqui?”. E ele respondeu: “Vim aprender.”

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(Mayra Azzi / Casa clã/Fotografia)

De que forma o Slam pode impulsionar o empoderamento pessoal e de grupos?
Percebi que frequentar esses espaços de fala me deu muito mais força para me posicionar em outros lugares, como no trabalho e no dia a dia. Falar sobre as inquietações muda a nossa vida. Isso fez com que eu aliviasse as inseguranças na hora de realizar uma entrevista de emprego ou apresentar um projeto, por exemplo.

E quando fazemos coisas em coletivo é muito mais fácil conseguir tirar ideias do papel. É possível pensar em pequenas ações para que a gente possa nos promover enquanto profissionais e seres humanos. Sinto que o slam ajudou muitas comunidades, principalmente a galera da quebrada, a se fortalecer, a escrever projetos, a entender que poderia viajar para fazer poesia e se conectar com outras pessoas. E isso, dentro da produção cultural, deu um gás muito grande para todos. 

3 grupos de slam para conhecer 

Slam das Minas SP

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Slam Marginália

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