
oro na Avenida 9 de Julho há mais ou menos um ano. Bem ao lado da minha casa, existe um pequeno bar. Você provavelmente não vai reparar neste bar, caso esteja passando apressado a caminho do metrô Anhangabaú. Sem toldo ou balcão aparente, é possível observar uma única mesa de sinuca aos fundos e um pequeno balcão na lateral. Os frequentadores são poucos, mas de vez em quando vejo uma mesma mulher, sentada em uma cadeirinha de plástico na calçada, copo de cerveja nas mãos, observando a rua. Que gesto otimista, eu penso. Sentar-se para observar a avenida.
Esse bar provavelmente passaria despercebido por mim também se não fosse por seu dono. Com roupas de estampa camuflada, botas de solado grosso amarelas, turbante no topo da cabeça e uma longa barba, está o sósia de Osama Bin Laden. Sentado em uma cadeira amarela na calçada, ele também observa a avenida, diariamente. Nunca conversamos, mas de vez em quando eu o cumprimento e ele retribui. Convivendo com a sua presença em meus atravessamentos pela cidade, gosto de imaginá-lo como uma personagem fictícia. Um ator, que se dispõe a interpretar o mesmo papel ininterruptamente. Toda cidade guarda grandes e pequenas ficções dentro de portas, apartamentos, bares, calçadas e festas de aniversário com decoração de isopor. Como fotógrafa, as ficções me interessam. Esta matéria diz respeito a uma delas: os sósias.
Sósias são pessoas que se parecem com alguém, na maioria das vezes com uma celebridade. A semelhança pode ser física ou também comportamental. Sósias são atores, performers, covers, atrações e figuras que provocam ilusão e espanto. Durante um mês, convivi e entrevistei diferentes pessoas que de alguma maneira vivem ou trabalham como sósias e covers na cidade de São Paulo.

Marcelo Gomes, 40, atua como auxiliar de enfermagem há dez anos, e há sete trabalha também como sósia do ex-jogador de futebol Raí. Seu primeiro trabalho foi uma aparição no ‘Feirão da casa própria’ – onde o próprio Raí era garoto propaganda. “O Raí ia fazer a abertura, mas ele não tinha disponibilidade de ficar lá porque era muito caro. Ai me contrataram”.
Em uma sociedade que produz, industrializa e cultua figuras ‘célebres’, transformando sujeitos em produto de entretenimento e acesso impossível, o sósia é um atalho rápido. “É a facilidade de chegar mais próximo. Quando eu vou chegar perto do Neymar? É difícil. Quando se tem o sósia, é um caminho mais curto para se percorrer” diz Marcelo, que confessa não ser muito fã de futebol – e, por isso, tem facilidade em separar sua vida, com a vida de Rai.
No trabalho, a contratação para eventos corporativos, aniversários, festas e inaugurações de lojas é uma constante. Marcelo diz que o sósia está lá para “fazer parte da decoração, para enganar, ser uma atração”. Um elemento a mais que pode ser adicionado em uma fotografia que vai parar no Instagram.