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O Tinder dos famosos

Passei um mês no Raya, o "Tinder dos famosos" – entre prints proibidos e perfis de pessoas com milhões de seguidores, aqui conto como foi a experiência

por Ana Malvina Atualizado em 25 nov 2020, 20h08 - Publicado em 18 nov 2020 00h35
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(Clube Lambada/Ilustração)

ocê já deve ter se questionado como famosos acabando namorando ou casando apenas com outros famosos ou até como eles fazem pra arranjar aquele date despretensioso numa terça-feira à noite (pré-pandemia, né?). A resposta para esses questionamentos é que existe um aplicativo feito para conectar essas pessoas, tal como os famosos Tinder e Bumble, feito para pessoas famosas – ou pelo menos quem sabe que ele existe e pode pagar a mensalidade.

O Raya nasceu em 2015 como um aplicativo exclusivo para membros, quase como uma comunidade secreta. Famoso nos Estados Unidos e na Europa, até hoje o app é quase desconhecido no Brasil. Digo isso porque até eu, uma entusiasta desse tipo de aplicativo, que já se inscreveu em todos e adora uma gameficação da paquera, nunca havia ouvido falar. Até que uma amiga minha postou algo sobre o aplicativo no Melhores Amigos do Instagram e eu, curiosa sem nunca ter visto aquela interface, fui logo investigar. Ela logo respondeu: “é o Raya, amiga, se inscreve que eu tenho certeza que você vai ser aceita.”

Aceita? Pois é, não vá achando que é só preencher alguns dados e logar como nos aplicativos “comuns”. No Raya, além de você precisar conhecer pessoas que também estão inscritas, você passa por uma fase de seleção. Fiz a inscrição, esperei cerca de sete dias e recebi a mensagem que brilhava como o bilhete dourado d’A Fantástica Fábrica de Chocolate: eu tinha sido aceita – confesso que a vaidade e o ego até inflam ao perceber que você vai fazer parte dessa comunidade super-ultra-mega exclusiva. Em uma busca rápida, entendi que além de checar suas redes sociais (é preciso vincular a conta do Instagram ao seu perfil do Raya), há, sim, um comitê que avalia sua beleza. Isso até poderia ser uma questão problematizável, mas tal qual uma adolescente que agora pode sentar com os mais populares no intervalo, não pensei muito sobre o que isso significava.


“Em uma busca rápida, entendi que além de checar suas redes sociais (é preciso vincular a conta do Instagram ao seu perfil do Raya), há, sim, um comitê que avalia sua beleza”

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O segundo passo após a aceitação é uma verificação de que aquele perfil do Instagram é, de fato, seu. Você precisa mandar, manualmente, um código de verificação para o @ oficial do Raya na rede social. Essa verificação do Instagram faz com que seja impossível que os homens ultrafamosos que vi por lá – já já chegamos nesse assunto – sejam fakes. Após alguns minutos, como num passe de mágica, você está dentro. E aí vem a segunda surpresa: o aplicativo é pago. Confesso que não fiz uma busca muito grande sobre o Raya ao instalar pois queria ser surpreendida, então eu realmente não sabia que era preciso desembolsar R$ 40 mensais para fazer parte do tal clubinho – muito provável um dos motivos pelo qual esse aplicativo não explodiu no Brasil. Há também outros detalhes que fazem com que o aplicativo não seja acessível: além da mensalidade, o Raya só funciona no sistema operacional IOS, da Apple, e ele é todo em inglês.

Após um exame de consciência, decidi pagar por um mês para ver qual era a desse app. Logo você preenche seu nome, o que você faz e a empresa em que trabalha. É possível escolher se você está ali para arranjar um relacionamento amoroso ou apenas novos amigos. Você escolhe suas melhores fotos e vídeos, uma música no Spotify e o app cria uma espécie de slideshow com suas informações (o que é um pouco brega, mas dá pra ter a noção estética e musical do possível rolo). Assim que seu perfil é criado, você recebe uma mensagem dizendo que print screens não são permitidos – a “multa”, se essas imagens caírem na rede ou forem reincidentes, é o cancelamento de sua conta.

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(João Barreto/Ilustração)

Mas tem famoso mesmo?

Logo que fui aceita, criei o perfil e li as regras restritas de comportamento dentro do app, fiquei inebriada pela possibilidade de encontrar algum famoso de verdade. Diferente dos aplicativos mais famosos, o Raya não limita os matches por região: é possível ver perfis do mundo inteiro. Los Angeles, Miami, Cidade do Cabo, Nova York e Paris são algumas das cidades que aparecem mais. Em alguns swipes rápidos, percebi que o aplicativo não permite que você veja perfis ao infinito, como seus irmãos Tinder e Bumble. Após cerca de 20 ou 30 perfis, o Raya mostra uma mensagem dizendo que querem criar uma comunidade íntima e que, em duas horas, você receberá mais opções – mas se você quiser ver mais perfis, pode pagar mais R toda vez que eles se esgotarem. Outro recurso “limitado” são os likes (que são liberados após o pagamento de outra taxa de cerca de R), sob a mesma premissa. Ou seja: não dá para sair curtindo todo mundo, o aplicativo te instiga a clicar em cada perfil e ver se você realmente tem algo a ver com aquela pessoa, até porque, se os perfis acabarem e você não quiser desembolsar mais dinheiro, você fica duas horas “na geladeira”.

Na primeira noite que fiquei brincando no app, cruzei com Niall Horan, do One Direction, com quem dei match. O Raya facilita uma mania que sempre tive de ver quantos seguidores meus pretendentes têm no Instagram (millennials, né?) e, ao ver os mais de 25 milhões do cantor, fiquei bem assustada com a dimensão daquilo – principalmente porque não fazia ideia de quem era. Entre outros famosos que trombei por lá estavam os cantores John Mayer e Austin Mahone, o corredor de Fórmula 1 Lewis Hamilton e o ator Channing Tatum. Infelizmente, com nenhum desses dei match – sempre que eu via alguém verdadeiramente famoso, desses que até sua mãe sabe quem é se você disser que tá namorando, eu dava like.


A impressão que fica é que, apesar de esses superastros estarem presentes por lá, o Raya é um aplicativo de paquera para pessoas ricas. Não só por causa da sua mensalidade e pelo fato de você precisar pagar a mais por quase tudo, mas também pelo perfil das pessoas com quem cruzei

Após alguns dias, devo confessar que a graça vai acabando. São muitos perfis que parecem perfeitos e inalcançáveis demais, fora que é muito chato ficar esperando quase 24 horas para dar like naquele gatinho que você curtiu quando já acabaram seus likes diários. A impressão que fica é que, apesar de esses superastros estarem presentes por lá, o Raya é um aplicativo de paquera para pessoas ricas. Não só por causa da sua mensalidade e pelo fato de você precisar pagar a mais a praticamente cada minuto que fica online por lá, mas também pelo perfil das pessoas com quem cruzei. Entre viagens em cenários paradisíacos, a música Blinding Lights, do The Weekend, em três a cada cinco perfis e as fotos que parecem saídas de um editorial profissional, fica evidente que quem se dá melhor por lá são homens e mulheres que se encaixam no padrão estabelecido pela sociedade atual.

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*Ana Malvina é um pseudônimo. O nome da nossa repórter infiltrada no Raya foi preservado para que ela não perca seu acesso ao app

As imagens que você viu nessa reportagem foram feitas por João Barreto. Confira mais de seu trabalho aqui

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