Edu, eu estou muito constrangida. Nem sei como te falar isso, mas… tem um vídeo seu circulando na internet sem o seu consentimento”. O vídeo em questão mostrava Edu, 29, ajoelhado, se masturbando e bebendo a urina de um outro cara – um dos seus fetiches que lhe dá mais tesão. Postado em um perfil pornô do Twitter, o vídeo teve mais de um milhão de visualizações e milhares de compartilhamentos.
A situação seria um pesadelo para qualquer pessoa mas, para Edu, não foi bem assim. Ao receber a mensagem da sua colega de profissão, Edu não sentiu vergonha por ser exposto em uma situação considerada degradante para a maioria das pessoas. Ele sentiu tesão – principalmente por ter sido reconhecido. “Na hora, fingi espanto, disse que veria o que eu poderia fazer sobre isso mas, na realidade, eu não estava nem aí!”, contou ele à Elástica, dando uma risadinha safada.
Expôr suas aventuras sexuais a um público virtualmente ilimitado na internet não era nenhuma novidade para Edu, que já cultivava um público significativo no Tumblr. Em dezembro de 2018, quando a rede decidiu banir todo o conteúdo pornográfico dos seus servidores, o publicitário achou que já era hora de excluir todas as suas postagens por conta própria para evitar possíveis implicações na vida profissional e familiar.
Mas o fim da putaria no Tumblr não mudou em nada as taras de Edu, que sempre gostou de cruising (sexo com desconhecidos em lugares públicos) e de vários outros fetiches, como podolatria (fetiche por pés), pissing (tara por urina), humilhação… enfim, de sexo com adrenalina. Como muitos órfãos do Tumblr, Edu criou um Twitter “side b” para consumir pornografia e, principalmente, acompanhar dicas de lugares públicos onde a pegação rola solta. Um dos mais famosos Twitters desse tipo em São Paulo, o @cruisingsp, tem mais de 40 mil seguidores.
Hora da discórdia kkkk
Pegação mais top de SP— 🌈GayDoggingSP® (@CruisingSp) August 29, 2020
Diferente do Tumblr e de qualquer outro site pornô da internet, o Twitter dá à pornografia uma dimensão social. A busca ativa por vídeos excitantes é substituída pela recepção passiva de conteúdos curados por algoritmos, que reforçam e moldam os gostos e preferências do usuário. Além disso, a liberdade de conversar anonimamente (ou não) com outros usuários sobre tabus de sexualidade, a possibilidade de postar conteúdo próprio e de encontrar pessoas com os mesmos gostos fez o “deep-Twitter” explodir no último um ano e meio.
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Foi nesse período de tempo que João Marcos, 27, conhecido como @naughtypuzzle, acumulou mais de 160 mil seguidores no Twitter. Habitué dos grupos de nudes no Facebook por pura diversão, ele acabou sendo banido da rede social e criou um Twitter para poder postar suas fotos e vídeos explícitos (e mostrando o rosto) sem grandes restrições – de acordo com os termos de uso, o Twitter permite conteúdo adulto desde que a conta seja marcada como “sensível” pelo próprio usuário, o que a exclui da busca pública da rede social, por exemplo.
Por conta dos vídeos que postava, João foi convidado a gravar com o seu maior ídolo da pornografia virtual, o garoto de programa e influencer Blessed Boy. O vídeo alavancou a audiência de João. Entre os novos seguidores, estava Lucas Quintanilha, 27, que acabou se tornando seu namorado e começou a aparecer nos vídeos também. “Eu sempre gravei minhas fodas para mandar para alguns contatinhos, como um nude, mas eu não publicava porque tinha receio que esses vídeos chegassem em pessoas que não aceitariam, como a minha família, que é super evangélica. Então, eu pedia para o João postar no dele”, explica Lucas, que foi se desprendendo dessa preocupação e acabou criando seu próprio Twitter. Em nove meses, já são quase 110 mil seguidores. Isso mesmo: juntos, eles somam 260 mil pessoas que gostam de seus conteúdos.
Lov u ❤️ pic.twitter.com/TwPQyV0uvx
— Naughty Puzzle 🧩 (@NaughtyPuzzle) September 9, 2020
Com toda essa audiência, o medo de Lucas acabou se tornando realidade: alguns primos e tios viram os vídeos e ameaçaram mostrá-los para os pais dele. “Eu falei assim: olha, se isso chegar nos meus pais, eu chego na maior festa que tiver na família e conto os podres de todos vocês. Vou falar quem transou antes do casamento, quem tem filho com outra, quem tem amante…”, conta ele, que na adolescência já tinha sido expulso de casa pela mãe por ser gay. “Ninguém nem me respondeu. Morreu o assunto.”
Na loja de departamentos onde Lucas trabalha, até mesmo os clientes já o reconheceram. Inevitavelmente, sua chefe também soube do alter ego safadinho. “Eu pensei que seria demitido, mas tive uma grande conversa com a minha chefe e a única coisa que ela me pediu é que os vídeos não mostrassem o meu local de trabalho e nem o meu uniforme”, conta ele, que depois disso ficou ainda mais confiante para continuar produzindo e postando os vídeos – especialmente no OnlyFans, onde o faturamento do casal com assinaturas já passa dos 10 mil reais por mês.
Aquele beijo por trás gostoso 😈 pic.twitter.com/8qFjFVmsT9
— Furry Horny (@FurryHorny1) September 7, 2020