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Baianidade e virtuosismo musical
Xenia França estreia novo show e reforça seu nome entre os grandes nomes da música contemporânea
Ao bater um papo com Xenia França imediatamente se nota, além do sotaque baiano delicioso levemente suavizado pelos longos anos em São Paulo, um charme irresistível, somados a uma inteligência eloquente e consciência ancestral que ela naturalmente transborda. A artista soteropolitana radicada na capital paulistana compartilhou conosco um pouco sobre a sua relação com a Bahia, seus próximos projetos e a estreia de seu novo show, substrato do disco Em Nome da Estrela, lançado em 2022 pela Noize.
No dia 31 de março, Xenia se apresentou para o público do Sesc Pinheiros com casa lotada e mostrou todo seu potencial artístico com um octeto de cordas e banda completa, trazendo a experiência sensorial do disco pro ao vivo da melhor forma possível. Confira abaixo o bate-papo na íntegra:
Xenia, você é baiana mas mora há muitos anos em São Paulo. Imagino que a Bahia te alimenta de muitas formas, não poderia ser diferente. Como o retorno às suas raízes costuma te impactar emocionalmente? A Bahia e ser baiana é algo que te move a nível inspiracional? Costuma sentir dor ao olhar para o berço que nunca se encontra igual ao lugar das memórias?
Eu costumo brincar que se eu não tivesse nascido baiana eu ficaria muito chateada com Deus [risos]. Eu sou a Bahia e aonde eu for tenho meu próprio jeito de expressa-la tanto na minha vida pessoal quanto como artista. Apesar de ter escolhido a maior cidade da América Latina pra viver tenho verdadeira devoção pela magia e fundamentos da minha terra e tenho consciência de que sou o que sou justamente porque “a Bahia me deu régua e compasso.”
A Bahia é um portal energético e tecnológico que me influencia desde que me entendo por gente e eu expresso essa banalidade que habita em mim sem caricaturas. O cheiro, o mar, a música, o tempo, o recôncavo, as memórias, a comida, a dança, os mitos, o candomblé e as pessoas estão em mim. Não sinto nem um pesar, muito pelo contrário, as minhas raízes são base pra muitos desdobramentos dimensionais que estão no mesmo lugar e ao mesmo tempo em movimento. A Bahia é única. A Bahia é e sempre será.
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Você tem trabalhado em um projeto de audiovisual para 2023 onde diversos diretores irão assinar curtas-metragens como pontes para as canções de seu novo disco, Em Nome da Estrela. Poderia dar alguns detalhes do projeto?
O que posso dizer sobre esse projeto que está bem no comecinho ainda é que ele nasceu do meu desejo de expandir a visão com a linguagem audiovisual, que é sempre uma magia para um álbum, pela capacidade de comunicar de um jeito diferente e trazer uma nova dimensão da coisa. Eu tenho estudado muito e há bastante tempo pra esse momento, e tenho me conectado com muita gente interessante e que gosto pra esse visual. Acredito que o nascimento desse projeto será um ponto importante da minha jornada artística até aqui.
Passado o lançamento de um disco, sempre chega a hora de traduzir a obra para o palco. Geralmente acontece toda uma reconstrução, adaptações precisam ser consideradas, rearranjos… O palco muitas vezes exige uma outra roupagem para um disco. Para alguns artistas esse pode ser um momento de dor, para outros, uma libertação. Como funciona essa metamorfose para a sua artista?
É muito maravilhoso poder brincar com as muitas possibilidades de um álbum. E o palco talvez seja para mim o mais importante, porque é uma dimensão onde estou em carne e osso, lidando com todos os meus demônios. Poder criar uma linguagem de show que não só dialogue com o que foi produzido no álbum, mas ao mesmo tempo crie uma conexão com quem está ali assistindo, é muito lindo. É realmente um momento especial do meu fazer artístico. Uma das coisas que eu mais adoro é ensaiar porque surgem no caminho muitas ideias nova de arranjos, e tem muito espaço pro virtuosismo no meu trampo, então é um momento que tanto os músicos quanto eu ficamos mais livres para livre expressão. Também tem os outros elementos, a projeção, a luz, o PA, figurino, o acting. O ao vivo é mágico e quem está presente só vive cada espetáculo uma vez, mesmo que sejam vários dias seguidos, cada experiência é única e é aí que está a mágica.
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Dia 31 você se apresentou em seu show no Sesc Pinheiros. Conta pra a gente como é sua relação com o caos da cidade de São Paulo e como costuma ser a recepção do público paulistano.
São Paulo talvez seja a cidade que mais me conheça como artista. E também é a cidade que me ajudou a construir essa onda contemporânea do meu trabalho. Essa coisa de misturar múltiplas culturas e linguagens que se condensam e criam um negocio diferente, talvez seja a essência de quem eu sou como artista. Sinto que SP me entende. Gosto de gastar minhas fichas aqui por muitos motivos, incluindo a viabilidade de realizar as coisas. No show do dia 31/03 (que gosto de chamar de Nave), me apresentei com o octeto de cordas e a minha banda completa com a intenção de trazer ao público o ponto máximo da experiência sensorial do disco pro ao vivo. Foi muito especial e o público estava entregue. A troca foi e sempre é muito especial. Eu celebro essa minha conexão com a cidade e seu caos amoroso.
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