oi durante a faculdade de história que Assucena mergulhou na música. “Ela chegou tão de mansinho que, quando eu vi, já estava entregue. Desisti de uma carreira convencional para seguir esse caminho”, conta à Elástica. A artista, ex-integrante do grupo “As Baías”, segue em carreira solo e está pronta para lançar um disco.
Segundo ela, a banda teve grande importância na cena musical brasileira por toda a representatividade e empoderamento que mostraram durante os dez anos de existência. “Eram duas mulheres trans [ela e Raquel Virgínia] em cima do palco empunhando a bandeira do respeito, da liberdade e da democracia”, reflete. Mas, ainda que a cantora acredite que trabalhar com cultura no país é difícil – majoritariamente pela falta de um Ministério e apoio do Estado –, ela ressalta que a música está em seu coração e a ajudou na manutenção de sua fé.
Se minha avó me entendeu e a minha mãe me entendeu, por que Deus não vai me entender? É uma mentira que pessoas LGBT’s não podem ter acesso ao divino e ao sagrado.
Assucena, cantora e compositora
Essa última, inclusive, tem tomado sua atenção nos últimos dias. Isso porque há a preparação para o Yom Kipur, também conhecido como Dia do Perdão, que acontece entre a tarde de 4 de outubro até a tarde do dia seguinte. Este é um dia dedicado ao jejum, à oração, à reflexão, ao arrependimento e ao perdão. “O fundamento da cultura judaica é a religião. Aprendi a rezar os salmos desde criança e isso me conecta muito com Deus”, diz. “Esse é o feriado mais importante do calendário hebraico porque quando essa consciência se compadece da vida. Dizem que Ele vem até a humanidade nesse dia.”
Sua avó, inclusive, usou um texto da Torá como forma de validar para a família sua transexualidade. “Ela disse que Deus, na verdade, não olha para aparência, e sim o caráter e a bondade. Eu poderia ser a pessoa que mais se afastaria da religião como uma forma de negação da minha identidade”, ressalta. “Mas se minha avó me entendeu e a minha mãe me entendeu, por que Deus não vai me entender? É uma mentira que pessoas LGBT’s não podem ter acesso ao divino e ao sagrado.”