aímos de Campo Grande na tarde de quarta-feira em um trajeto absolutamente reto e tedioso. Na visão do horizonte plano pelos dois lados da janela, tudo que se enxerga são plantações de milho e alguns tratores empenhados na colheita aqui e ali. Estamos nos momentos finais da safrinha de milho, quando o grão é plantado no inverno em substituição da soja. Depois de 400 quilômetros viajando sob a mesma paisagem, chegamos em Bonito.
Paraíso ecológico próximo mais ou menos próximo das fronteiras com o Paraguai e a Bolívia e cidade que representa a transição entre os biomas da Mata Atlântica e do Pantanal, Bonito tem belezas naturais mundialmente famosas, e é também a casa do evento público multicultural mais antigo do estado do Mato Grosso do Sul. Na cidade a expectativa era grande para o dia seguinte, quando começaria a 21ª edição do Festival de Inverno de Bonito.
Artistas de 12 estados brasileiros e alguns vizinhos da América do Sul, representantes de mais de uma dezena de etnias indígenas e 80 mil pessoas no público, entre turistas e moradores locais, passariam os próximos quatro dias imersos em uma programação de quase 15 horas ininterruptas. De 25 a 28 de agosto, passaram por lá nomes nomes musicais famosos, como Gaby Amarantos, Rincon Sapiência, Majur, Ira! e o sertanejo Daniel, todos gratuitos e abertos ao público em geral, e junto das atrações de teatro, circo, moda, dança, gastronomia e artes visuais encheram Bonito de magia e esperança.
Eles se apresentaram principalmente em palcos concentrados na enorme praça central da cidade, mas as grandes atrações da música ficaram espalhadas em outros três palcos próximos, um deles o belíssimo Balneário Municipal, onde o público assistiu aos shows tomando deliciosos banhos de rio. Em todas as vertentes artísticas foram privilegiados debates sobre temas brasileiros atuais, como a repressão aos povos originários, as questões de gênero, a preservação ambiental e das manifestações culturais locais para as novas gerações. A impressão geral é de que o Festival de Inverno de Bonito mostrou coragem em escalar artistas engajados brilhantes a tão pouco tempo das eleições, e o público respondeu à altura com palavras de ordem contra o atual presidente, é claro.
Em Bonito, quem acorda cedo ainda consegue aproveitar os quase 50 passeios eco turísticos que a cidade oferece, como rios de flutuação exuberantes, cavernas com estalactites ancestrais, espelhos d’água, trilhas, rapel e boia cross. Para quem curte a noite, bares e baladas animadas levavam o after para madrugada adentro.
Estivemos no Festival da primeira apresentação na quinta-feira até a última cerveja na madrugada do domingo. Totalmente recuperados dessa imersão, registramos esses momentos.