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Dia da visibilidade trans: séries com personagens T fortes

Ainda falta muito para que pessoas transsexuais tenham a devida representatividade na TV, mas essas produções mostram que estamos no caminho certo

por Alexandre Makhlouf 27 jan 2022 22h44
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(Clube Lambada/Ilustração)

odo dia 29 de janeiro é comemorado o Dia Nacional da Visibilidade Trans no Brasil. A data é celebrada há 18 anos e o antepenúltimo dia de janeiro foi escolhido porque, em 29 de janeiro de 2004, um grupo composto por mulheres trans, homens trans e travestis se dirigiu ao Congresso Nacional para o ato de lançamento da campanha “Travesti e Respeito”, promovida pelo então Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde. Desde então, é nesse dia – e, recentemente, ao longo do mês de janeiro – que os holofotes da mídia se voltam para a questão T.

Fato é que, para nós, da Elástica, falar que vidas trans importam vai muito além de uma hashtag e de uma iniciativa pontual em apenas 1 dos 365 dias do ano. O direito das pessoas transsexuais e travestis está sempre no nosso radar – já falamos sobre a vida depois das casas de acolhimento, artistas pertencentes à sigla que lutam por espaço na indústria e contamos a história de ativistas do movimento.

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No ano passado, dedicamos esse dia para recomendar pessoas trans que produzem conteúdo na internet e podem deixar seu feed mais diverso. Este ano, decidimos falar sobre representatividade nas telas. Cada vez mais – ainda bem – temos visto séries que trazem personagens trans fortes ganharem espaço no mainstream. Ainda falta muito, é verdade, mas a cultura e as narrativas ficcionais que se dispõem a contar essas histórias, com atores e atrizes transexuais, têm papel fundamental na percepção de quem consome esses conteúdos.

Ah, importante pontuar: nada de transfake na nossa lista. Ou seja: todas as séries aqui indicadas têm pessoas trans no elenco, interpretando papeis de pessoas T e no comando de suas narrativas, sem nenhum ator ou atriz cis ocupando esse espaço. Vamos nessa?

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(Euphoria/Reprodução)

Euphoria

Praticamente impossível não começar por Euphoria neste momento, em que a segunda temporada acaba de estrear – a maior estreia da HBO Max, diga-se de passagem, desde que o serviço de streaming começou. Com enredos que mostram as dificuldades de ser adolescente nos tempos atuais, sem poupar o telespectador sobre dilemas envolvendo drogas, sexo e dilemas morais, uma das protagonistas é a garota trans Jules, vivida pela impecável Hunter Schafer. É óbvio que ser uma mulher trans atravessa toda a narrativa da personagem, mas é inspirador ver uma série que consegue se aprofundar em várias outras questões da vida de Jules, como o romance com a melhor amiga e a vida secreta de dates arriscados, às escondidas, que muitas pessoas T experimentam em suas vidas. 

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(Pose/Divulgação)

Pose

Talvez a série mais importante dessa lista por ter sido a produção audiovisual com maior número de pessoas trans no elenco. A série se passa nos anos 1980 em Nova York e fala sobre a cena ballroom, protagonizada, em sua maioria, por mulheres trans negras. É desse universo que saiu o voguing, tipo de dança que originou o grande sucesso de Madonna e, atualmente, é queridinha do movimento LGBTQIA+. Pose mostra a história das houses, grupos de pessoas que, distantes ou preteridas por suas famílias, se juntam em uma nova unidade familiar e competem nos bailes. Uma das protagonistas da série, MJ Rodriguez, também fez história recentemente ao ser a primeira mulher trans a ganhar um Globo de Ouro como Melhor Atriz em uma série de drama. Pose tem três temporadas e as duas primeiras já estão disponíveis na Netflix.

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(Sense 8/Reprodução)

Sense8

Oito pessoas que não se conhecem, em partes diferentes do mundo, que estão conectadas e conseguem interagir umas com as outras de forma quase paranormal, emprestando habilidades entre si e tendo, inclusive, experiências sexuais intensas há milhares de quilômetros de distância. Essa é a premissa de Sense8, série da Netflix que foi um sucesso desde seu lançamento e traz diversas pautas LGBTQIA+ para a mesa. Uma das Sense8 é Nomi Marks, interpretada pela atriz trans Jamie Clayton, uma ativista política e hacker que vive em San Francisco. A série é criada e produzida pelas irmãs Wachowski, também mulheres trans. 

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(Manhãs de Setembro/Reprodução)

Manhãs de setembro

Nem só de produções gringas vive a representatividade trans. A cantora Liniker é a protagonista de Manhãs de setembro, produção original do Amazon Prime Video que conta a história de Cassandra, mulher transsexual que, depois de adulta, descobre que tem um filho pré-adolescente. São apenas seis episódios cheios de nuances muito delicadas, performances impecáveis de Liniker em cima dos palcos e reflexões sobre como o amor e a maternidade são também construções. A segunda temporada já foi confirmada – e nós estamos ansiosos.

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(Segunda Chamada/Divulgação)

Segunda Chamada

Produzida e exibida pela Globo em 2019, Segunda Chamada conta a história de Lúcia (Debora Bloch), professora que volta a lecionar na rede pública, mais especificamente na escola Estadual Carolina Maria de Jesus, assumindo a turma de Educação de jovens e adultos (EJA). A maioria das pessoas que frequenta as aulas está em algum tipo de situação vulnerável e uma das alunas é Natasha, uma travesti interpretada por Linn da Quebrada, que finalmente toma coragem para voltar a estudar depois de ter sofrido transfobia desde nova. Segunda Chamada tem duas temporadas e está disponível no GloboPlay.  

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(Veneno/Divulgação)

Veneno

Vou pedir licença na imparcialidade jornalística para falar sobre Veneno: é uma das melhores séries que já assisti na vida. Recomendo assistir com uma caixa de lenços do lado, porque não faltam episódios tristes na vida de Cristina “La Veneno” Ortiz, mulher transexual que se tornou uma personalidade da TV espanhola. A série conta toda a história de Cristina, desde sua infância antes da transição, e mostra como a prostituição é a única alternativa para muitas mulheres trans, além de deixar claro como o estrelato comprometeu a saúde mental da protagonista. A série é baseada na biografia Digo! Ni puta ni santa. Las memorias de La Veneno, escrita por Valeria Vegas, também transexual – a série mostra o encontro das duas e o processo de escrita da biografia. Vale lembrar que é uma série ficcional, inspirada na vida de Cristina, mas com algumas licenças poéticas que contribuem para a alta qualidade da obra.

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(And Just Like That/Reprodução)

And Just Like That

Deixei essa série por último porque a pauta trans não está entre as principais da série – que é a recém-lançada continuação de Sex and the city. No entanto, And Just Like That tem uma personagem bem importante, que vai ganhando espaço no desenrolar da temporada, que é uma pessoa não-binária. Trata-se de Che Diaz, humorista, influenciadore e podcaster interpretade por Sara Ramirez (talvez você se lembre dela como Calliope Torres, em Grey’s Anatomy), que também revelou se identificar como não-binárie no fim do ano passado. Ainda que o tempo de tela de Che Diaz não seja um destaque na série, é um refresco assistir a trajetória de sucesso de uma personagem NB, identidade de gênero que também está incluída na letra T.

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