Sucesso na TV e no cinema, aos 29 anos o ator tem mais uma conquista: estrelar um filme internacional ao lado de um de seus diretores favoritos
por Humberto MaruchelAtualizado em 16 dez 2022, 10h15 - Publicado em
28 out 2022
12h05
em sempre demonstramos afeto da maneira mais óbvia, como um abraço, um beijo ou palavras carinhosas. Com frequência, ele parte da indicação de uma música, trechos de um livro, ou um filme. Compartilhar coisas que despertam nosso interesse é uma forma justa de expressar amor. Para o ator Gabriel Leone, sua infância foi marcada por esse diálogo afetivo com os pais, que se dava pelos filmes que assistiam, e pela coleção de vinis que escutavam juntos.
Seu pai, Luís, sempre foi apaixonado por cinema, especialmente por filmes épicos, como Gladiador, O último dos moicanos, e também os musicais, ao estilo de Hair e Jesus Cristo Superstar. Se uma obra despertasse sua atenção, o próximo passo seria compartilhar com os filhos: Gabriel e o caçula, Lucas, que, não por acaso, é repórter de cinema. Atualmente, os filmes prediletos de Gabriel são aqueles que o pai apresentou durante os primeiros anos de vida.
Com a mãe, Márcia Helena, não era diferente. Apaixonada pelo universo da fantasia, era um ritual, naquele universo particular, assistir animações da Disney ou mesmo ler obras de Harry Potter com os filhos.
Se for possível rastrear as matérias que constituíram a identidade de Gabriel Leone, certamente, o cinema e a música ocuparam lugares especiais. Havia também o esporte, como o futebol – ele é torcedor do fluminense. E foi federado em polo aquático na adolescência, mas abandonou para seguir na carreira como ator.
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Da música ao nome
Antes mesmo de nascer, Gabriel Leone já tinha uma relação forte com a música. Seu nome foi escolhido pela canção de Beto Guedes, lançada em 1978, 15 anos antes do nascimento de Leone.
“Toda vez que a vida mandar olhar pro céu, estrela da manhã. Meu pequeno grande amor, que é você, Gabriel. Pra poder ser livre como a gente quis. Quero te ver feliz”, foram a partir dessas palavras que nasceu Gabriel.
Foi crescendo e a curiosidade aumentando. Na adolescência ganhou uma vitrola portátil de uma tia. Aprendeu sozinho a tocar e passou a bisbilhotar a coleção de vinis dos pais e, assim, expandiu seu conhecimento musical. Nas idas e vindas da escola, carregava CDs diversos para escutar em seu discman: Eagles, Elvis e Elis Regina eram alguns. Gravar músicas na fita cassete para dar para amigos ou namoradas era um dos seus gestos de mostrar um pouco de si mesmo para os outros.
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Embora seja carioca e ainda resida no Rio de Janeiro, são os artistas mineiros que mais tocam seu coração, como Lô Borges, Beto Guedes e, claro, o Clube da Esquina.
“Sinto que a música popular mineira é a que mais me emociona, mais mexe comigo e acho que tem muito a ver com essa memória emotiva de tanto que eu ouvia em casa.”
Falar de Gabriel Leone sem falar de música seria uma farsa. O cosmo musical dá o tom de muitos de seus trabalhos no cinema. Em um de seus primeiros filmes, Minha fama de mau, interpretou Roberto Carlos. Foi escolhido a dedo pelo próprio rei. Participou do musical Natasha, Pierre e o Grande Cometa de 1812, de Dave Malloy, em 2018.E, em 2021, deu vida ao filme inspirado por uma das canções mais populares do país: Eduardo e Mônica, de Legião Urbana, ao lado de Alice Braga.
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Hoje, aos 29 anos, o ator guarda com afeto aquelas imagens e sons da infância. Foram elas, de certo modo, que o colocaram no caminho das artes. “Mesmo meu pai e minha mãe não tendo nenhuma relação artística, a minha casa sempre foi muito regada a música. Desde o meu berço, desde as músicas que meu pai minha mãe me ninavam.”
“Por mais amador que fosse e apesar de ser a primeira vez no palco, me senti estranhamente confortável. Estava absolutamente nervoso e inseguro, mas, por outro lado, naquela apresentação, senti prazer de ver e interagir com a plateia”
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Para além dessa paixão, havia uma personalidade que favorecia a escolha de carreira. ““Eu era muito extrovertido quando novinho. Sempre gostei de participar das coisas e de interagir com todos. Se tinha uma apresentação musical, uma leitura em sala de aula ou uma peça de teatro valendo nota, eu já queria fazer parte”, lembra.
Foi numa dessas aventuras que caiu na rede das artes cênicas. Aos 14, um professor de história propôs à turma que fizessem uma peça inspirada nas décadas de 1960 a 1980. Seu grupo escolheu os anos 80. Gabriel interpretou ninguém menos do que o ídolo Cazuza. Dali em diante, o apelido colou. Hoje em dia, ele brinca que foi naquele momento que o bichinho das artes o mordeu.
“Por mais amador que fosse e apesar de ser a primeira vez no palco, eu me senti estranhamente confortável. Lógico que estava absolutamente nervoso e inseguro de alguma forma, mas, por outro lado, naquela apresentação, senti prazer de ver e interagir com a plateia. Desde ouvir uma risada ou ver as pessoas emocionadas. Era a sensação de ‘nossa, estou aqui, as pessoas estão ali paradas na minha frente e eu consigo emocionar elas’.”
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“Uma das coisas mais bonitas que o teatro me dá é o senso do coletivo, de você entender que um depende do outro. Essa coisa do ao vivo te traz a necessidade de segurar a mão de quem está do seu lado. Acho que é uma lição muito valiosa, ainda mais num momento trágico como o que vivemos”
Depois daquilo passou a se dedicar mais àquela atividade. Virou um caminho sem volta: “Não tem lugar que eu me sinta melhor do que no palco.”
Não é apenas o êxtase de estar em cena que mantém sua paixão pelo teatro, mas uma lição que aprendeu ali e que leva para a vida. “Uma das coisas mais bonitas que o teatro me dá é o senso do coletivo, de você entender que um depende do outro. Essa coisa do ao vivo te traz a necessidade de segurar a mão de quem está do seu lado. Acho que é uma lição muito valiosa, ainda mais num momento trágico como o que vivemos, em que cada vez mais as pessoas estão se afastando, se odiando. Acho que o senso de coletividade faz muita falta.”
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Mais 15 anos se passaram. Durante nossa conversa, Gabriel está em Módena, província italiana conhecida pelo vinagre balsâmico (aleatório, sabemos) e por ser sede de grandes marcas do automobilismo. Sua passagem pela região, inclusive, diz respeito ao surgimento de uma das maiores fabricantes de carros de luxo: a Ferrari. Foi ali que seu fundador, o piloto Enzo Anselmo Ferrari, nasceu. Há três meses, Gabriel habita a região para participar das filmagens do filme Ferrari, do diretor estadunidense Michael Mann.
Essa é sua estreia no cinema internacional. E faz com grande estilo: ao lado de Adam Driver, que vive Enzo, e Penélope Cruz, no papel de Laura, esposa de Enzo. Gabriel interpreta o piloto espanhol Alfonso De Portago, que sofreu um grave acidente em uma corrida, em 1957, que tirou sua vida, aos 28 anos.
Como se completasse um ciclo, que teve início na sala da casa dos pais, assistindo filme atrás de filme, Gabriel realizou outro grande feito. Além de estrelar uma obra de um dos diretores que mais admira, pôde apresentar Michael ao seu pai. Michael Mann dirigiu O último dos moicanos, um dos filmes preferidos de Luís. “Tive o grande privilégio de dizer ao Michael Mann que foi meu pai que apresentou seus filmes. A vida e suas voltas malucas.”
A experiência diária de estar ao lado de uma das lendas do cinema reforçou a admiração que Gabriel tinha pelo diretor.
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“Em quase 80 anos de vida, esse é apenas o décimo segundo filme dele e agora eu pude entender o porquê. Ele é o diretor mais meticuloso, detalhista e perfeccionista que já tive a experiência de estar junto. É muito bonito de ver como ele trabalha. Desde a prova de figurino que ele ficou absolutamente concentrado em achar a fivela correta do meu cinto a todo resto. É incrível sua dedicação aos detalhes. Ele entende que é a partir desses pequenos tijolos que ele vai construir um grande castelo”, conta o ator.
E não foi apenas a excelência no ofício que lhe impressionou. “Ele [Michael] me recebeu da maneira mais carinhosa possível e, ao longo do processo, nós construímos uma relação maravilhosa, de muito entendimento. É um aprendizado novo todos os dias.”
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Rebobinando a fita
Gabriel antecipou a viagem para Itália para se preparar e conhecer o ambiente. Uma das dificuldades foi se adaptar ao idioma. E, apesar de contracenar com grandes nomes de Hollywood, ele afirma que leva a experiência como todas as outras nas quais já participou. “É um processo novo, com outro tamanho, mas no final das contas, é um trabalho, é um set de filmagem. Busco estudar e dar o meu melhor e levar com a mesma dedicação.”
Além de estar envolvido num projeto de uma dimensão maior do que os anteriores, Gabriel realiza outro sonho: poder viver na Itália.
“É um processo novo, com outro tamanho, mas no final das contas, é um trabalho, é um set de filmagem. Busco estudar e dar o meu melhor e levar com a mesma dedicação”
Há, acima de tudo, uma emoção pessoal, de estar mais próximo da história de sua própria família. Os bisavós maternos eram italianos. Apesar de estar longe de casa, Gabriel teve a companhia de sua parceira de vida, a atriz e cantora Carla Salle, desde o início das gravações.
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“A chance de viver essa experiência está sendo incrível, principalmente por estar com a Carla o tempo todo comigo. E agora meu pai e meu irmão vieram me visitar, então pude compartilhar esse momento tão fantástico da minha vida, da minha carreira, com as pessoas que mais amo.”
Recentemente, a Itália foi cenário de outra obra da qual participou. No drama familiar Duetto, de Vicente Amorim, o ator contracenou com Marieta Severo e Luisa Arraes. Antes mesmo de terminar um projeto, Gabriel já tem outros em vista. Ainda na Itália, ele se prepara para seu retorno ao Brasil, onde começará as filmagens do longa Barba ensopada de sangue, adaptação do livro de Daniel Galera, que será dirigido por Aly Muritiba. É também protagonista da série da Amazon Prime Video, Dom, de seu saudoso amigo Breno Silveiro, trabalhopelo qual tem sido bastante elogiado pela crítica.Não bastasse tudo isso, estreia a minissérie Independências, de Luiz Fernando Carvalho, na TV Cultura, no papel de Dom Miguel.
Falar de seu currículo causa falta de ar. O descanso parece acontecer enquanto ele trabalha. Apesar de uma imensa bagagem acumulada em pouco tempo de carreira, ele diz que ainda sente o frio na barriga a cada novo trabalho.
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“A chance de viver essa experiência está sendo incrível, principalmente por estar com a Carla o tempo todo comigo. E agora meu pai e meu irmão vieram me visitar, então pude compartilhar esse momento tão fantástico da minha vida, da minha carreira, com as pessoas que mais amo”
“Eu escolho muito cuidadosamente todos os projetos que busco fazer. Então a ansiedade sempre me acompanha, por trabalhar com as pessoas envolvidas, e também a ansiedade de fazer o projeto e viver o personagem.”
Para o ator, não há dúvidas de que o espaço que ocupa foi resultado de muita batalha e muitos “nãos que recebi no caminho”. Mas é inegável o sucesso e fama que o acompanha e nem por isso ele se deixa deslumbrar.
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“Tenho uma família muito próxima e que segue participando das minhas escolhas, de todos os passos que dou, então acho que essa base é algo que tem me sustentado em termos de valores e de ter para onde voltar.”
Ele compartilha que gosta de fazer um exercício consigo mesmo para não perder de vista as coisas tal como são, que é recordar os passos iniciais em sua carreira: a entrada no grupo de teatro e as primeiras participações na televisão. Isso tudo o ajuda a manter os pés no chão, ele diz.
“Estava lembrando recententemente com os meus pais, que em 2013 fiz uma participação na Grande Família, e lembro da sensação que tive pela primeira vez entrar num set de filmagem, de ver aquelas câmeras, a figuração, e de estar ali meio perdido. E naquela participação, estou de terno e gravata e com um cabelinho lambido. E eu falei para os meus pais: “nove anos depois, me vi aqui num set com um cabelo lambido para trás, vestindo terno e gravata, fazendo esse filme. Então é isso: eu sei de onde eu vim.”