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Leia autores LGBTQIA+

Romance, poesia, quadrinhos, ficção, documental. Qualquer que seja o gênero, vale a pena prestigiar escritores e escritoras que pertencem à sigla

por Redação Atualizado em 6 jul 2022, 12h14 - Publicado em 29 jun 2022 23h40
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(arte/Redação)

omemorar o mês do orgulho LGBTQIA+ aqui na Elástica é assunto sério. Em junho, especialmente, quando o mercado se volta para as questões dessa população socialmente minorizada, mas gigante – em número e em tudo que se propõe –, fazemos questão de colocar outras lentes e ir mais fundo na cobertura desse tema, que é precioso para nós o ano inteiro. 

Falar sobre diversidade sem ser raso e óbvio é, muitas vezes, um esforço consciente. De aprender a olhar para fora de si e para o mundo, entender que existem outros milhares de recortes. Na hora de escolher o que vamos ler em nossos momentos de lazer, isso também se aplica. Por isso, batemos tanto nessa tecla. Leia mais autoras mulheres. Leia mulheres negras. Leia pessoas indígenas

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Neste último dia de mês do orgulho, leia pessoas LGBTQIA+. Existe uma profusão de clássicos e novidades que foram escritos por gays, lésbicas, bissexuais, transsexuais e diversas outras pessoas que se identificam com a sigla. Além da nossa lista, que você confere aqui embaixo, uma alternativa para se manter informado sobre novidades desse universo é o Lendo Livres, clube de leitura LGBTQIA+ que existe desde 2020, fundado pelo publicitário Bruno Frika, como um respiro para trocar ideias durante o período de pandemia (aqui está o link para se inscrever e para newsletters passadas)

“O projeto começou entre amigos, para conversarmos sobre lançamentos e conteúdo LGBTQIA+, mas acabei abrindo para outras pessoas. Hoje, temos encontros mensais sobre os livros, mas também debatemos filmes e séries”, ele conta. “É muito rico perceber que, dentro dessa esfera LGBTQIA+, as opiniões são bastante diversas, com visões muito diferentes. Às vezes, a gente chega com uma opinião e, depois do encontro, dá até vontade de reler para ver a obra de outra forma.” Outra alternativa é seguir no Instagram o projeto Eu Leio LGBT, criado pelo escritor Felipe Cabral, com dicas de livros e quadrinhos sobre temáticas do Vale.

Preparades para nossa lista? 🌈

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(Editora Macondo/Divulgação)

Sismógrafo – Leonardo Piana

Falar sobre ser LGBTQIA+ é, invariavelmente, falar sobre encontros e desencontros (principalmente consigo mesmo), falar sobre solidão, falar sobre a relação com a família e revisitar lugares, dentro e fora de você, que de alguma forma fazem tudo isso. Sismógrafo, romance de estreia de Leonardo Piana, faz tudo isso com delicadeza e maestria.

Já no início, a primeira frase do livro ressoa e te acompanha por toda a leitura. “Quantas imagens são necessárias para contar esta história?” Sismógrafo acompanha Eduardo, em seu retorno a Andradas, cidade natal que ele há muito deixou para trás. Com um envelope de fotografias na mochila, o protagonista revisita a cidade de interior e, ao lado dele, descobrimos também sua história, a criação católica, as primeiras vezes que ele experimentou a própria sexualidade.

Entre idas e vindas, conhecemos também Tomás, colega de escola um ano mais velho que tem papel fundamental na história – e na vida – de Eduardo. Em uma das fotografias do envelope, aliás, está Tomás. E, se contarmos mais do que isso, corremos o risco de estragar as surpresas do livro.

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Vencedor do Prêmio Cidade de Belo Horizonte, Sismógrafo é mais do que a história de uma pessoa, mas a alegoria para uma geração nascida nos anos 1990 que “enfrente os horrores da vida adulta ao mesmo tempo que se depara com uma renovação do mundo tecnológico, com sua profusão de imagens a borrar as fronteiras entre o público e o privado”. E também uma história íntima contada por Leonardo que ilustra bem a relação delicada, que mistura culpa e violência, associada aos corpos de homens gays.  

Leia Sismógrafo

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(Detransition Baby/Reprodução)

Destransição, Baby – Torrey Peters

Reese, uma mulher trans, sempre quis ser mãe – tanto que acabava desempenhando esse papel em relacionamentos amorosos com suas parceiras que estavam iniciando a transição, sendo amante, professora e cuidadora delas. Um de seus relacionamentos mais longos e importantes foi com Ames, que, eventualmente, decide voltar a viver como homem. 

Ames trabalha em uma agência de publicidade e está se relacionando secretamente com sua chefe. Médicos lhe garantiram que os anos tomando estrogênio a deixariam estéril, mas, de repente, sua chefe descobre que está grávida. Ao receber a notícia, Ames só consegue se lembrar de Reese.

Entre idas e vindas, passado e futuro, arranjos e novas famílias, o livro de Torrey Peters conta de perto toda a revolução que é ser trans. É uma delícia ler e uma outra perspectiva que foge do que a autora chama de armadilha do mercado editorial para pessoas trans: escrever uma autobiografia regada a trauma e empoderamento.

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(Fun Home/Reprodução)

Fun home – Alison Bechdel

O famoso teste Bechdel (para passar, um filme precisa ter mais de um personagem feminino com nome, essas mulheres precisam conversar entre si e não pode ser só sobre homem essa conversa) surgiu na série de tiras que Alison publicou por anos, chamada Dykes to watch out for (algo como Sapatonas para ficar de olho). Bechdel é, há muitos anos, uma lésbica profissional – muito difícil separar sua orientação sexual do seu trabalho.

Em Fun home, seu primeiro livro em quadrinhos, ela conta sobre como foi se descobrir gay vivendo no interior dos Estados Unidos, na casa da família que era também uma funerária (essa piada impossível de se traduzir entre fun, divertido, e fun, funerária) e como foi conviver com seu pai, que ela suspeita ter sido um homem gay que viveu no armário toda a vida. 

O livro foi adaptado para um musical da Broadway e é uma peça-chave do universo lésbico americano. Aqui, foi publicado lindamente pela Editora Todavia.

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Leia Fun home

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(Ricardo e Vânia/Reprodução)

Ricardo e Vânia – Chico Felitti

Toda cidade tem seus personagens icônicos e Ricardo Corrêa da Silva é um deles. Uma figura cativante das ruas de São Paulo que foi pejorativamente chamado de “Fofão da Augusta” e que chamou a atenção de Chico Felitti. A curiosidade do jornalista rendeu uma primeira matéria sobre sua história com a cidade e com algumas pessoas que o encontravam em seu dia-a-dia ou quando íam à festas. 

O livro, fruto do desdobramento dessa história, adiciona alguns outros personagens e histórias, mas principalmente seu grande amor: Vânia. Para além do relato do tórrido amor do casal, o livro humaniza muito a figura de Ricardo tão desgastada por piadas e chacotas. Mostrando que era um cabeleireiro muito conhecido e queridinho das famosas nos anos 1970 e 1980, vivia com esquizofrenia, foi drag queen e figurinha carimbada nas festas mais chiques e prafrentex da época. 

Li pela segunda vez durante a fase mais reclusa da pandemia e foi aí que ele se firmou como a história de amor mais bonita e real com a qual tive contato até hoje. Chorei copiosamente como se fosse a primeira vez que estava lendo, uma escrita muito sincera e cuidadosa sobre essas pessoas tão preciosas e únicas. Para mim, este é um livro que encapsula alguns sentimentos muito específicos da comunidade, como: a preocupação com a beleza, a vanguarda, o fervo, as dificuldades com a família, a importância das amizades e dos afetos, as questões psíquicas e políticas, a solidão e o força dos amores LGBTQIAP+.

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Leia Ricardo e Vânia

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(vila mathusa/Divulgação)

Vila Mathusa Zênite Astra

Este livro conta as histórias entrecruzadas de moradores transgênero que habitam uma mesma vila na capital paulista. Ao todo, são oito textos escritos em diferentes formatos: cartas, contos e diários, por exemplo – o que deixa a leitura leve e dinâmica, prendendo sua atenção do começo ao fim. 

A autora Zênite Astra contempla momentos de perda, ternura, suspense e humor, sob a perspectiva de personagens como Aurora e Rubi, duas crianças que vivem no local. Temas como o envelhecimento, os afetos e o sentido de comunidade são tratados com riqueza visual. Abaixo, nosso top 3 trechos favoritos. 

“rubi sabe que algumas crianças nascem menino, que outras nascem menina, e que outras nascem criança e só, que nem rubi. sabe também que algumas nascem menino, mas na verdade são menina, que nem aurora.”

“a transição foi uma chave para portas que eu sequer percebia que estavam fechadas.”

“é menos sobre descobrir quem se é e mais sobre inventar quem você quer ser. precisei do diário para encontrar palavras que fossem minhas. como a estátua que se esconde dentro do mármore, fui entalhando até encontrar meu nome e o que eu queria dizer.”

Zênite Astra nasceu em 1995 em Ribeirão Preto, no interior paulista, de onde saiu em 2013 para morar em Campinas, cidade em que reside até hoje. É licenciada em Letras pela Unicamp e atua como educadora. Em sua produção artística, explora prosa e poesia, e faz da experimentação com diferentes linguagens uma tentativa de dar conta de realidades plurais. Se interessa por investigar a memória, a resistência e a formação de comunidades nas experiências trans, não binárias e travestis.

Leia Vila Mathusa

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(24/Divulgação)

24 – Hugo Lorenzetti Neto 

Este livro é o debut literário do autor, também poeta, tradutor, ensaísta, professor e diplomata que vive em Luanda, onde dirige o Centro Cultural Angola, como parte das suas atividades na Embaixada do Brasil. Em nota, o autor conta que o livro é resultado de uma experiência queer e gay nos anos 1980 e 1990, quando começou a assumir sua sexualidade. Ele revela também que a experiência na diplomacia influencia sua escrita: “a viagem é super importante e vem para a literatura como uma experiência de vida”, afirma. 

Nascido em Campinas, ele conta com humor e ironia esse processo. Num de seus versos curtos e bem humorados, afirma: “Imagina nascer gay em Campinas/ que azar menina?”. Já em “Quadrilha”, ele versa sobre sua profissão: “muito obrigado pela preferência/há muito sou importante para muita gente de uma forma/ bonita:/ e o nome da especialidade é assistência consular./ mas não quero ser ministro da cultura e/ você não vai lamber meus livros, por favor, não”.

Leia 24

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(A máquina extraordinária/Reprodução)

A máquina extraordinária – Hugo Lorenzetti Neto 

Escrito seis meses após 24, esta obra traz 32 poemas. O livro, escrito em seis dias, é resultado de uma desilusão amorosa iniciada num Carnaval em Recife, quando o autor decidiu expor em poesia a dor – e as ironias – da relação e da separação. “Escrever foi uma maneira de organizar a experiência da desilusão amorosa, do desapontamento e de todas as projeções internas que criamos quando nos apaixonamos”, conta o autor. 

Num dos poemas, intitulado “Charles Darwin”, ele discorre: “não parece muito inteligente/ou robusto/mas a harmonia desse urro de amor/agonizante/dó mi sol/esse espécime está perfeitamente adaptado/ao fim dos tempos”.

Leia A Máquina Extraordinária

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(Arlindo/Reprodução)

Arlindo – de IlustraLu

Arlindo é um menino adolescente que está começando a descobrir o amor. Naquela fase turbulenta cheia de primeiras vezes, ele equilibra a escola, os amigos, o bullying e os crushes com ajudar sua mãe a servir festinhas. Lindo, como todos que gostam dele o chamam, é um bom menino – ah, e também é gay.

Seu pai não o aceita, assim como não aceitou a tia de Arlindo, Amanda. É ela que diz a ele que tudo melhora, mas que são as dificuldades que fazem você ser você. E é bom que exista você.

A história de Arlindo é daquelas que contam como a gente cresce, como as descobertas e dificuldades nos tornam quem somos e é sensível demais ao fazer isso.

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Leia Arlindo

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(Devassos no Paraíso/Divulgação)

Devassos no Paraíso – João Silvério Trevisan

Não é exagero dizer que este livro é a bíblia da homossexualidade brasileira. Não porque ele pregue dogmas e um jeito certo de ser gay (isso não existe, caso ainda não tenho ficado claro em 2022), mas porque João Silvério Trevisan reúne, em seu trabalho documental primoroso, a história com os principais fatos sobre o caminho que a homossexualidade trilhou no nosso país.

O estudo que o autor faz sobre o tema é pioneiro e aborda diversas vertentes, que vão do cinema, teatro, literatura e artes plásticas à política, história e medicina. O livro, que está em sua quarta edição, foi revisto para se adequar a novas (e mais respeitosas) nomenclaturas – além de, claro, manter-se atual. A última edição tem novos capítulos e imagens que ajudam a documentar conquistas dos direitos LGBTQIA+ nos últimos anos.

Em tempo: além de ler Devassos no Paraíso, a gente recomenda também acompanhar o trabalho de João Silvério através de suas redes, em que ele divide outros textos deliciosos de ler e momentos de encher o coração, como sua presença na mais recente Parada do Orgulho LGBTQIA+ 🙂

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Uma publicação compartilhada por João Silvério Trevisan (@joaosilveriotrevisan)

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(Queer Spaces/Reprodução)

Queer Spaces: An Atlas of LGBTQIA+ Places and Stories

O nome entrega, de cara, a que esta publicação se propõe: ser um atlas de lugares e histórias LGBTQIA+. Lançado em maio deste ano pela editora Riba, o livro de Adam Nathaniel Furman reúne histórias de 90 lugares ao redor do mundo que, de uma forma ou outra, trazem em si algo queer no DNA. 

Entre os espaços escolhidos por Adam estão uma livraria independente em Glasgow, uma sorveteria em Havana (lembre-se de que Cuba não é um país muito amigável aos LGBTQIA+), onde o morango é a escolha mais estranha e uma catedral em ruínas em Manágua, capital da Nicarágua, ocupada pela comunidade clandestina LGBTQIA+.

“As pessoas queer sempre encontraram maneiras de existir e estar juntas, e sempre haverá a necessidade de espaços queer”, escreve o editor do livro, Joshua Mardell. Queer Spaces é lindamente ilustrado, em uma tentativa de te transportar para os lugares descritos. Os relatos de cada lugar são uma apuração feita pela dupla autor + editor, com histórias de colaboradores do mundo todo. 

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Com exemplos históricos e contemporâneos, Queer Spaces reconhece a vida LGBTQIA+ passada e presente como forte, vibrante, vigorosa e digna de seu próprio lugar na história. 

Leia Queer Spaces: An Atlas of LGBTQIA+ Places and Stories

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