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Movimento PANC

Cinco coisas que você precisa saber sobre plantas alimentícias não convencionais, por Neide Rigo

por Alexandre Makhlouf 5 nov 2020 02h04
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(arte/Redação)

Se você se interessa por culinária, gastronomia em geral, está sempre em busca de um novo ingrediente/receita/restaurante e, somado a tudo isso, também se preocupa com os impactos da sua alimentação na sociedade, provavelmente já ouviu falar das PANCs. A sigla para plantas alimentícias não convencionais foi cunhada por Valdely Ferreira Kinupp e Harri Lorenzi, autores de Plantas alimentícias não convencionais (PANC) no Brasil, livro que é resultado de mais de dez anos de trabalho da dupla e traz um dos registros mais completos dessa botânica “não convencional” já realizados.

Mas, pensando um pouco sobre o nome, quando é que a gente decidiu o que é convencional na alimentação do brasileiro e o que não é? Será que plantas que encontramos em qualquer supermercado, feira livre e hortifruti deveria ser considerada convencional quando, na verdade, tê-la o ano inteiro significa abusar do uso de agrotóxicos em seu cultivo? Quantos sabores a gente deixa de experimentar pelo simples fato de ficar restrito ao que alguém selecionou por nós e colocou nas prateleiras dos supermercados? Batemos um papo com Neide Rigo, nutricionista, colunista do Estadão e expert no assunto – ela comanda uma caminhada pela horta comunitária CityLapa para (re)conhecer PANCs, inclusive, que infelizmente está suspensa por conta da pandemia – para entender algumas definições, descobrir curiosidades e destrinchar um pouquinho desse movimento PANC.

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Movimento PANC

Existem muitas PANCs. Muitas mesmo

“É impossível saber o número exato. Estima-se que sejam aproximadamente 30 mil, mas esse número pode variar para mais ou para menos. O que temos como referência é o que está no livro do Kinupp, são 12 mil espécies catalogadas lá”

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Movimento PANC

Consumir PANCs não é realmente inovador 

“Se você pensar que muitas plantas foram negligenciadas, abandonadas, pode-se dizer, sim, que existe uma tendência a voltar a prestar atenção nelas. Ninguém está inventando de comer, todas essas plantas hoje classificadas como PANCs têm registro de consumo. Essa é uma classificação extra-botânica, não existe certo ou errado, mas é uma classificação em que ele agrupou plantas poucos conhecidas num livro e deu esse nome. A forma de olhar é inovadora, e isso no mundo todo. O nome PANC, que é usado no Brasil, é diferente dos demais países porque agrupa muitas coisas, muitos alimentos, não só os silvestres e espontâneos, mas tudo que não está no mercado convencional. A não convencionalidade fala sobre mercado, não sobre a incidência delas no nosso território. Olhe o macarrão, por exemplo: nunca foi brasileiro, veio com os europeus, mas está nas mesas de norte a sul. A farinha d’água, por exemplo, está só no norte, apesar de ser tipicamente brasileira. O macarrão é mais convencional do que a ora-pro-nobis, se você for pensar, e essa PANC tem até uma festa típica em Sabará, Minas Gerais. Para mim, não importa muito o nome, o que importa é que elas estejam nas mesas. Acho que todo o movimento PANC tem como objetivo que elas, um dia, não sejam PANCs. Que os pratos fiquem mais biodiversos, que as pessoas ganhem mais autonomia na hora de comer, que mais coisas sejam convencionais.”

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Todo país tem suas próprias PANCs

“Existe um movimento no mundo todo, com diferentes nomes – plantas silvestres comestíveis, por exemplo. Tenho vários livros de plantas silvestres de outros países.Fora daqui, também tem muitas plantas espontâneas, que já foram muito utilizadas e hoje não são mais. Isso acontece em todos os países. Estava vendo no outro dia uma salada com flores de flamboyant, que no Vietnã as pessoas fazem essa salada com flores de flamboyant e frango, e isso é não convencional para muita gente lá. Muita gente comia lá quando era criança, mas perdeu-se esse costume. Agora, parece que alguém colocou lá no Instagram e rolou um boom. Tem várias coisas que são de outros países e que vieram para cá por motivos diversos, às vezes nem para fins alimentícios. Manga-verde, por exemplo, não é convencional – quando eu cato manga verde na rua, muita gente vem me perguntar o motivo. Na Índia, na Tailândia, é super comum suco de manga verde, conserva de manga verde, mas que a gente recebeu aqui da Ásia e chegou para consumir madura, assim como a jaca. Jaca verde é igual palmito em muito país asiático.”

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PANCs são punks

“Incluir PANCs na alimentação pode ser considerado um gesto político. Qualquer escolha que você consiga fazer com independência é um gesto político. Nossa alimentação é tão imposta, alguém escolheu o que está no mercado para consumirmos. A partir do momento que você identifica algo comestível e coloca no seu prato, é um gesto político e é uma resistência.

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PANCs podem transformar a alimentação fora dos grandes centros

“Na periferia, o grande desafio é encontrar espaços para esse tipo de cultivo. Onde tem espaço, tem alguém para morar: essa é a lógica. Eu nasci na Brasilândia e conheci muitas PANCs lá, tinha cercas entre uma casa e a outra e, nelas, tinha feijão lab lab, chuchu, taioba. Hoje, o que eu vejo na periferia, mesmo no bairro em que eu nasci, é que não tem mais espaço, não tem quintal. Depende de vontade política, políticas públicas, espaços para hortas para que as pessoas possam cultivar de alguma forma. De forma alguma podemos elitizar as PANCs. Estamos falando também de partes não convencionais, fazer uma feira e utilizar todas as partes do vegetal. Nas feiras nas periferias, você poderia ter a introdução delas, mas para isso precisa de demanda. E, para ter demanda, as pessoas precisam conhecer. É necessário que haja um esforço coletivo para que as pessoas dependam menos de produtos industrializados, que possam fazer escolhas saudáveis e que saibam que essas escolhas podem ser grátis. Você pode comer um coração de bananeira gratuitamente, e ela é considerada PANC. Hortas nas escolas poderiam ser uma bela saída. Na periferia, as escolas concentram espaços que poderiam ser hortas e já ajudar na merenda escolar. Mas você vê escolas com grandes terrenos tomados por grama, espaços fechados, normalmente nem são espaços utilizados pelos alunos. Tudo isso poderia ser horta com diversidade de espécies, para que se conheça e depois busque esses alimentos”

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(Arte/Redação)
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