A dança é uma das formas de expressão mais genuínas. Basta ouvir melodias envolventes que os pés, o corpo e as mãos passam a criar ritmos próprios – é o chamado improviso. E essa é uma das bases do passinho, estilo que nasceu nos bailes do complexo do Jacarezinho, no Rio de Janeiro, e mistura breaking, frevo, samba e capoeira.
Embora ele estivesse presente nas festas desde os anos 2000, foi apenas em 2006 que se popularizou. Isso porque o grupo Imperadores da Dança – fundado por Anderson Santana – o incluiu em suas performances e o levou para batalhas que aconteciam pela cidade, uma tradição que ocorre até hoje. Por meio da internet, os jovens gravavam vídeos e competiam entre si para ver quem tinha mais repertório. É aí que nasce o “Passinho Foda”, por exemplo, que se tornou um dos mais importantes do movimento.
O dançarino e coreógrafo Khalifa explica que é preciso ter técnica e criatividade para se dar bem. “O dançarino pode imprimir suas próprias ideias na hora de se mexer. Mas a característica principal é a rapidez e a coordenação dos pés e das pernas. É preciso de muito treino para executar de forma perfeita”, explica.
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E não é só do Rio de Janeiro que surgiram os ícones. Um morador da Vila Romano, Zona Leste de São Paulo, conhecido como Magrão, criou o “Passinho do Romano”. Ele acabou falecendo em um acidente de moto uma semana depois que o passo foi lançado, mas até hoje é homenageado. Tanto que o MC Bruno IP criou uma música que cita seu nome e sua habilidade. Em Recife, o brega-funk ajudou a criar a variação conhecida como “Passinho dos Maloka”. Já em Belo Horizonte, é o “Passinho Malado” que toma conta dos pés da galera.
No ano de 2011, a dança ganhou uma espécie de legitimação institucional. Foi criada a primeira batalha de passinho no SESC Tijuca, o que levou o cineasta Emílio Domingos a criar um documentário sobre o tema no ano seguinte, intitulado “A Batalha do Passinho”. A exposição internacional veio na cerimônia de encerramento dos Jogos Paraolímpicos de Londres em 2012, quando um grupo de profissionais brasileiros se apresentou.
Outro marco importante dessa história é a participação de dançarinos na cerimônia de abertura das Olimpíadas em 2016. O momento emblemático, que ocorreu ao som de “Rap da Felicidade”, canção de Cidinho & Doca,
significou tanto que a manifestação artística urbana foi declarada Patrimônio Cultural Imaterial do Rio de Janeiro, em lei aprovada em 2018.
“Quando chegamos a esse patamar o que muda é o jeito da gente se comportar, mas a essência é a mesma. Na favela, temos uma certa linguagem, códigos e falamos de um jeito mais solto. Mas a visibilidade faz com que a gente acredite mais no nosso trabalho”, afirma Khalifa, que participou da competição Red Bull Dance Your Style no ano passado.