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O passinho nos pés é a esperança para novas gerações

Além da diversão, o estilo de dança propõe novas perspectivas e possibilidades para crianças das periferias

por Beatriz Lourenço Atualizado em 23 jan 2023, 11h49 - Publicado em 23 jan 2023 11h45

A dança é uma das formas de expressão mais genuínas. Basta ouvir melodias envolventes que os pés, o corpo e as mãos passam a criar ritmos próprios – é o chamado improviso. E essa é uma das bases do passinho, estilo que nasceu nos bailes do complexo do Jacarezinho, no Rio de Janeiro, e mistura breaking, frevo, samba e capoeira.

Embora ele estivesse presente nas festas desde os anos 2000, foi apenas em 2006 que se popularizou. Isso porque o grupo Imperadores da Dança – fundado por Anderson Santana – o incluiu em suas performances e o levou para batalhas que aconteciam pela cidade, uma tradição que ocorre até hoje. Por meio da internet, os jovens gravavam vídeos e competiam entre si para ver quem tinha mais repertório. É aí que nasce o “Passinho Foda”, por exemplo, que se tornou um dos mais importantes do movimento. 

O dançarino e coreógrafo Khalifa explica que é preciso ter técnica e criatividade para se dar bem. “O dançarino pode imprimir suas próprias ideias na hora de se mexer. Mas a característica principal é a rapidez e a coordenação dos pés e das pernas. É preciso de muito treino para executar de forma perfeita”, explica. 

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E não é só do Rio de Janeiro que surgiram os ícones. Um morador da Vila Romano, Zona Leste de São Paulo, conhecido como Magrão, criou o “Passinho do Romano”. Ele acabou falecendo em um acidente de moto uma semana depois que o passo foi lançado, mas até hoje é homenageado. Tanto que o MC Bruno IP criou uma música que cita seu nome e sua habilidade. Em Recife, o brega-funk ajudou a criar a variação conhecida como “Passinho dos Maloka”. Já em Belo Horizonte, é o “Passinho Malado” que toma conta dos pés da galera. 

No ano de 2011, a dança ganhou uma espécie de legitimação institucional. Foi criada a primeira batalha de passinho no SESC Tijuca, o que levou o cineasta Emílio Domingos a criar um documentário sobre o tema no ano seguinte, intitulado “A Batalha do Passinho”. A exposição internacional veio na cerimônia de encerramento dos Jogos Paraolímpicos de Londres em 2012, quando um grupo de profissionais brasileiros se apresentou. 

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Outro marco importante dessa história é a participação de dançarinos na cerimônia de abertura das Olimpíadas em 2016. O momento emblemático, que ocorreu ao som de “Rap da Felicidade”, canção de Cidinho & Doca,
significou tanto que a manifestação artística urbana foi declarada Patrimônio Cultural Imaterial do Rio de Janeiro, em lei aprovada em 2018.

“Quando chegamos a esse patamar o que muda é o jeito da gente se comportar, mas a essência é a mesma. Na favela, temos uma certa linguagem, códigos e falamos de um jeito mais solto. Mas a visibilidade faz com que a gente acredite mais no nosso trabalho”, afirma Khalifa, que participou da competição Red Bull Dance Your Style no ano passado. 

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(Tauana Sofia / Red Bull Content Pool/Divulgação)

Um novo futuro

Não é raro ver nos noticiários que a polícia brasileira é uma das mais truculentas. Entre 2017 e 2019, ao menos 2.215 crianças e adolescentes morreram em operações pelo país. Um relatório da Rede de Observatórios da Segurança, publicado em 2022, indicou, inclusive, que o Rio de Janeiro é o local onde a letalidade é maior. Não é possível esquecer do caso de Ágatha Felix, criança de 8 anos que foi morta com um tiro de fuzil, em setembro de 2019, no Complexo do Alemão, Zona Norte do Rio.

“Como explicamos para os pequenos que os policiais são os heróis da história?”, questiona Khalifa. “A dança significa esperança para as crianças da favela. Quando participamos de competições e passamos a trabalhar com isso, viramos referência para elas – que entendem que podem seguir um caminho para além daqueles que estão acostumadas.”

Além disso, os núcleos de passinho se tornam um respiro e estimulam conexões, além de ajudar o jovem a se orgulhar de sua identidade. “O passinho nunca perde sua essência, todo mundo sabe de onde ele veio. Hoje eu trabalho com isso e tudo o que tenho foi ele que me deu. Agora tento passar isso para os outros e levar a cultura periférica para o mundo”, reflete o coreógrafo ao fazer referência à sua viagem para a Dinamarca a fim de ministrar workshops. 

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De passinho em passinho

Passinho dos Maloka
Nascido no subúrbio do Recife, o estilo é marcado por movimentos do braço, virilha e ombro. É ligado ao brega-funk e, por isso, tem como objetivo exaltar a cultura nordestina.

Passinho do Romano
Para aprender a dança, é preciso de rapidez – e um tanto de interpretação teatral. Isso porque as caretas são marcantes. Os braços livres e o break também estão na lista.

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Passinho Foda
De acordo com Khalifa, o funk é o que mais chama atenção no passo – por isso, molejo no quadril é a característica principal.

Passinho Malado
Criado em Belo Horizonte, essa é uma versão mais rápida dos passinhos dos bailes de charme. Na hora de dançar, faça um triângulo com os pés, gire e jogue os pés para a direita e para a esquerda. E aí, bora dançar? 

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