expressão

O metal respira: Crypta

Fúria e poesia marcam o death metal politizado da banda brasileira formada só por minas que é destaque na cena headbanger mundial

por Eduardo Ribeiro 21 out 2021 01h49
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(Clube Lambada/Ilustração)

ssim como o death metal surgiu do thrash metal no final dos anos 1980, a Crypta é uma banda de death só de minas formada por ex-integrantes de uma banda thrash. Para leigos, isso pode não querer dizer muita coisa, mas a mais sutil diferença entre gêneros não passa despercebida para quem é headbanger. Por volta de maio de 2019, Fernanda Lira (voz, baixo) e Luana Dametto (bateria) fundaram a Crypta, inicialmente, como um projeto paralelo à Nervosa, que àquela altura já era uma das mais influentes bandas brasileiras só de mulheres tocando thrash desde a Volkana (1988-96). Mas logo o que era secundário se tornou principal, e Fernanda e Luana anunciaram sua saída da Nervosa, no auge da exposição até mesmo fora do circuito. Por quê foi tomada essa decisão, de rompimento e desvio estético, entre outros temas como a politização do death metal e a representatividade feminina na cena pesada, foram pauta da conversa que tive com a Fernanda nesta entrevista que encerra a nossa série dedicada ao protagonismo feminino no punk, no garage rock e no metal nacional.

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A holandesa Sonia Anubis (guitarra) segurou os riffs sozinha por quase um ano, até que, em abril de 2020, a guitarrista Tainá Bergamaschi entrou para encorpar a parede sonora. Pouco depois, elas assinaram com a gravadora austríaca Napalm Records. Recentemente, foi lançado o primeiro álbum, Echoes of the Soul, e um videoclipe, para a música “From the Ashes”, dirigida pelo cineasta brasileiro André Gustavo (Uncanny Filmes e 02 Filmes), com cenografia de Pepe Mendes. Está rolando também um lyric video da faixa “Starvation”, e um vídeo playthrough – que foca a técnica das musicistas em estúdio –, para “Dark Night of the Soul”. Com a pandemia, os primeiros shows estão previstos no festival Wacken Open Air (Schleswig-Holstein, norte da Alemanha), em agosto de 2022, e uma turnê europeia ao lado do Deicide e Krisiun, marcada para abril e maio do mesmo ano.

A Crypta pega as letras diretas e o imaginário mórbido do death metal oldschool e leva ao extremo. Como o nome sugere, versam sobre morte, dor e sofrimento. Mas Fernanda, ao contrário de alguns artistas do estilo, não recorre ao extremo do horror fantasioso; ela escreve sobre a morte como um renascimento, a respeito da dor sob uma perspectiva existencial, e acerca do sofrimento em decorrência das injustiças sociais. Essas letras implacavelmente sombrias são enaltecidas por riffs cortantes e maciços ​​que oferecem novas tinturas tanto à visceralidade do Morbid Angel como à intensidade do Deicide. O repertório, além disso, agrega estruturas musicais mais complexas do que no último trabalho da Nervosa com Fernanda e Luana. No papo a seguir, a gente também troca um pouco de ideia sobre isso.

Fernanda, há quanto tempo você curte metal, e como foi atraída para esse rolê?
O metal é um nicho alternativo, mas bastante sólido, e mundial: onde quer que você for, sempre tem um metaleiro. O meu envolvimento com o metal é meio que de berço porque meu pai é headbanger, curte som desde sempre, então estou acostumada a ouvir metal desde pequena. Em casa, era a trilha sonora de fundo. Quando comecei a ter um pouquinho mais de discernimento, lá pelos 6 anos, tinha algumas músicas que eu gostava mais e pedia para ele fazer umas coletâneas para mim. E meu pai adorava, né! [risos] Daí ele fazia umas coletâneas com várias coisas, mas já dentro do metal. Como é bastante amplo, tem vários gêneros, e dentro do hard rock e do heavy metal sempre tinha banda com mulher. Por isso, para mim, sempre foi muito natural apoiar, ouvir banda com mina, meu pai já ouvia várias.

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Então você já nasceu e cresceu hedbanger?
Claro, quando eu era criança ainda, rolava um metal paralelo a Spicy Girls, um É O Tchan! de vez em quando, normal, ninguém é de ferro [risos]… Mas, quando entrei na pré-adolescência, fiquei metal total! Eu curtia pra caramba, tinha a minha galerinha. O metal ajuda nessa questão do pertencimento, que é tão importante nessa fase. Dessa época, que fiquei radicalzona, a paixão se estendeu para diversas outras áreas da minha vida. O que era diversão ali, um entretenimento para mim e meus amigos, acabou virando outras coisas. Em meados da adolescência, já comecei a tocar numas bandas e tal, não só curtir, mas começar a tocar.

“Quando eu era criança ainda, rolava um metal paralelo a Spicy Girls, um É O Tchan! de vez em quando, normal, ninguém é de ferro [risos]… Mas quando entrei na pré-adolescência fiquei metal total! Eu curtia pra caramba, tinha a minha galerinha. O metal ajuda nessa questão do pertencimento, que é tão importante nessa fase”

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(Crypta/Divulgação)

Antes de montar a Nervosa e pular para o outro lado da força, você já esteve do lado de cá, né, como jornalista de rock?
Eu queria ser jornalista, então decidi depois que queria reportar sobre o metal. Essa foi mais uma área em que o metal acabou dominando, porque cursei jornalismo, e durante o curso fiz tudo o que você pode imaginar abordando o metal. Comecei fazendo resenha de disco, depois resenha de show, cobertura fotográfica de show, aí comecei a entrevistar os artistas, virei repórter de um programa de TV sobre metal… o último trabalho que fiz relacionado a metal foi o programa de rádio no UOL chamado Heavy Nation, eu amava fazer, era muito legal. Nessa coisa do metal e do jornalismo, esse estilo de som acabou se tornando a minha principal dedicação, sobretudo profissional. Quando me firmei ali com a Nervosa, que fiz todo o corre para profissionalizar a banda, era essa a minha intenção, foi quando realmente comecei a “viver” da minha arte. Tudo o que aconteceu na minha vida com a música até agora envolve o metal. A música levou a todas essas coisas, até a conhecer e estar hoje com o Juninho [baixista do Ratos de Porão], que é meu namorado, e eu sempre fui super fã do Ratos.

O seu pai é músico ou só curte som?
Meu pai é baixista, teve instrumento por um tempo e tal, mas o que eu via dele tocando era quando pegava um violão da minha bisavó e afinava as cordas bem baixas para ficar parecendo com o som de contrabaixo. Eu via meu pai tocar aquilo, e naturalmente me interessei pelo instrumento, que aí eu pegava aquele violãozinho, imitava ele tocando com o dedo, ficava tentando tirar as músicas do Kiss lá. Isso, bem pequena. Depois que tive grana, comprei meu primeiro baixo. Meu pai nunca teve ou se interessou em ter banda nem nada ou fazer aula, mas ele continua tocando até hoje, você vai lá na casa dele e ele está lá com o violão “tugudu gudu gudu gudã-gudu gudugudã”.

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Com a Nervosa, e, agora, a Crypta, chega uma nova geração de minas interessadas em música pesada. Como é para você, que já esteve na posição de fã, hoje ser uma referência para elas?
Isso é legal demais. Assim, eu tenho uma modéstia meio esquisita [risos], então demorei muito para entender que hoje desempenho um pouco esse papel. Eu sei como é você ser apaixonada por um ídolo, se espelhar, se inspirar e tudo mais, e por muito tempo para mim era só curtir, fazer pessoas terem um entretenimento bacana e tal, mas demorei para entender que, poxa, talvez eu esteja inspirando outras pessoas, e comecei a sacar isso quando nos shows realmente vinha um monte de meninas falando que começaram a tocar por causa de mim, que saíram do show energizadas, de outros países até, chegando para dizer que sou uma influência. Isso é massa. Hoje consigo compreender a dimensão disso e tento usar para o bem. Poxa, se eu puder causar numa pessoa que está assistindo o meu show o sentimento que as bandas que amava causavam em mim, se puder fazer uma contribuição, mesmo que mínima, para que mais e mais meninas se sintam inspiradas e confortáveis para seguir o seu sonho, seja lá qual for, a missão está cumprida.

A Nervosa já existia quando você entrou, mas foi a partir dali que a banda deixou de ser um projeto e realmente decolou, é essa a história?
Na verdade, quando entrei na banda, a gente profissionalizou, foi quando realmente virou “banda”. Porque, assim, elas eram guitarrista e baterista procurando baixista e vocalista, e eu, vice-versa. A gente juntou os interesses e falou, “bom, agora vai!”. E eu levei bastante know how também porque já estava na cena, tinha tido outras bandas, já conhecia todo mundo por causa dos trampos de jornalismo e tal. Então foi quando a coisa realmente se profissionalizou: gravamos som, compusemos, lançamos, fizemos show. Antes não rolava isso porque era um projeto. Até chegou a contar com outras meninas, mas não era nada muito sério.

“Eu sei como é você ser apaixonada por um ídolo, se espelhar, se inspirar e tudo mais, e por muito tempo para mim era só curtir, fazer pessoas terem um entretenimento bacana e tal, mas demorei para entender que, poxa, talvez eu esteja inspirando outras pessoas, e comecei a sacar isso quando nos shows realmente vinha um monte de meninas falando que começaram a tocar por causa de mim, que saíram do show energizadas, de outros países até, chegando para dizer que sou uma influência. Isso é massa. Hoje consigo compreender a dimensão disso e tento usar para o bem”

Foi quando a coisa virou para todo mundo, né, porque você também vinha de outras bandas que não pagavam as contas, digamos assim…
Sim, tive várias experiências antes da Nervosa, mas coloco a Nervosa como o primeiro marco profissional. Aprendi pra caramba nas bandas anteriores, mas foi na Nervosa que consegui aplicar todo o meu conhecimento, não só de composição e amadurecimento musical, mas toda a questão do business. Eu sabia como fazer um press release bacana, para quem enviar, conhecia todo mundo da imprensa…

Quando você e a Luana saíram da Nervosa, praticamente vocês levaram para a Crypta uma boa parte da essência do som da banda, porque foi baixo, vocal e bateria. Mas esteticamente o que a gente observa é que a Nervosa estava mais atrelada ao thrash, enquanto a Crypta surge com uma pegada de death metal. Teria sido essa diferença que motivou a formação de um novo grupo?
Em partes, sim. O thrash e o death são meus gêneros favoritos dentro do metal, não tem jeito, sempre foi o que eu mais gostei. E fiquei, por muito tempo, sendo muito feliz lá fazendo thrash, era muito legal e confortável para mim a questão lírica da coisa, porque o thrash tem aquela veia de protesto. E quem me acompanha nas redes sociais sabe que eu tenho essa coisa da crítica social muito ativa. O lance da transição para a Crypta foi que a Luana já tinha uma preferência pelo death metal. Pessoalmente, o apreço é igual em termos de preferência, mas para ela, não. Ela “é” uma baterista de death que, por um curto período, tocou numa banda de thrash. Daí a gente já estava com o relacionamento bem desgastado na Nervosa em vários aspectos quando a Luana falou: “Putz, tô com uma saudade de tocar death metal, quero muito ter um projeto paralelo e que você venha comigo, bora criar juntas”.

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Esse foi o único projeto paralelo durante seu tempo na Nervosa?
Eu nunca tinha tido muito tempo para me dedicar a projetos paralelos porque fazia muita coisa na Nervosa, desde o começo, sempre foi meu foco principal. Mas como já estava ficando até um pouco desmotivada, achei que seria interessante ter não só um outro ambiente de banda, mas uma saída criativa, uma alternativa num outro gênero que até me inspirasse a ficar mais estimulada no meu projeto principal. Até porque eu nunca tinha tido a oportunidade de ter uma banda de death metal, apesar das pitadinhas que colocávamos nas músicas da Nervosa. E aí foi muito legal, porque estou descobrindo um outro lado em mim de várias maneiras. Não só musicalmente, mas como um livro em branco no qual eu posso rabiscar o que quiser. Está sendo massa explorar novos terrenos. Passei dez anos envolvida com uma paixão, e agora começo uma nova fase explorando um pouco da minha outra paixão.

É legal que essa mudança fez a criatividade de vocês fluir pra caramba no campo da musicalidade, e além disso tem a parte lírica também, das letras, que estão muito boas.
Acabei me propondo a novos desafios, uma nova maneira de escrever. É como eu disse, andava muito confortável para mim estar ali escrevendo thrash metal com aquela pegada do protesto. Como o death tem uma sonoridade mais agressiva, sombria, decidi explorar a minha temática de letras nessa roupagem. Então peguei os demônios da vida real que a gente tem que enfrentar, as dificuldades com que precisamos bater de frente, peguei esses aspectos mais obscuros da nossa jornada pela vida, passei para as letras, e saiu um bom resultado. Tem umas três letras ali que nasceram de uma veia social forte, mas escrevi de uma maneira mais poetizada, até rebuscada.

“Peguei os demônios da vida real que a gente tem que enfrentar, as dificuldades com que precisamos bater de frente, peguei esses aspectos mais obscuros da nossa jornada pela vida, passei para as letras, e saiu um bom resultado. Tem umas três letras ali que nasceram de uma veia social forte, mas escrevi de uma maneira mais poetizada, até rebuscada”

Considerando a sua veia politizada, você se sentiria estranha se tivesse que fazer aquelas letras que costumam ser mais gore, mais explícitas, ou que partem para aquele horror tipo satanismo, essas coisas, de falar de demônio etc.?
Eu nem tenho conhecimento o suficiente para isso. Foi então que pensei que dava para remeter à temática da morte abordando, como no caso de “Starvation”, os tipos de morte que as injustiças causam no dia a dia. Nessa letra estou narrando ali uma pessoa gradualmente morrendo de fome; já na faixa “Kali”, eu falo sobre a morte do ego; em “From the Ashes” e “Death Arcana”, sobre a morte de um ciclo, de um “eu”, para que o outro nasça; assim como na “Dark Night of the Soul”. Então a morte está permeando ali, mas de um jeito muito mais palpável. Era isso que eu queria fazer. Se você for ver as letras, elas têm um conteúdo forte, mas remete à vida real, fala dos nossos demônios interiores, nossas imperfeições e tudo.

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Foi bom você mencionar “Starvation”, que na minha opinião é uma das faixas mais bacanas no disco, não só pela sua brutalidade instrumental, mas justamente porque ela traz uma mensagem urgente, e propõe um death metal que fala do terror social, da sombra da morte indigna numa sociedade quebrada, sem precisar recorrer ao universo fantasioso. Separei aqui um pedaço da tradução para você comentar: “Eu deveria prosperar, não morrer de fome. O pior flagelo da humanidade, a fome. Apenas mais um em um bilhão morrendo de fome como eu, continuamente mortos pela ganância do sistema. A infecção se espalha pelo meu corpo. Organismo frágil, sem anticorpos. Hipotermia, tremores constantes. Confuso, minhas habilidades motoras estão falhando. Não há escapatória agora! Eu deveria prosperar, não morrer de fome.O pior flagelo da humanidade, a fome.”
“Starvation” tem isso, esse lance do horror de forma poetizada, mas ela é uma letra de protesto contra a desigualdade social. Se fosse numa banda de punk ou hardcore, e até de thrash metal, seria uma coisa mais panfletária, mas fato é que se trata de uma crítica social, principalmente agora, com o Brasil de volta ao Mapa da Fome, metade do país em situação de insegurança alimentar, isso é mais real do que nunca. Minha ideia foi tentar fazer quem escuta se colocar no lugar de quem passa fome. Tipo, “você já passou fome? Você sabia que suas células do corpo se comem? Que seu corpo suga seus próprios músculos para ter energia para viver mais um dia?”. Sabe? Eu quis trazer para essa realidade, um debate, mas de forma filosófica.

Fale um pouco sobre o vídeo recém-lançado, para o single “From the Ashes”. Andou repercutindo bem o post que você fez comentando o significado da letra e o lance da cena com a mina chutando o caixão…
Várias pessoas associaram a letra de “From the Ashes” à nossa saída da Nervosa, a gente ressurgindo e tal… Poderia até ser, mas não é isso. E tenho recebido várias interpretações. Essa música trata basicamente do conto da Fênix, mas numa linha mais “motivacional”, digamos. Chegam depoimentos com interpretações das mais diversas. De gente que tinha acabado de sair de um episódio suicida e encontrou na letra uma mensagem para sair da bad; de gente que tinha acabado de terminar um relacionamento, que tinha perdido o emprego, que estava saindo de um processo de luto por causa da pandemia… Então é uma letra que abrangeu essa questão do fim e começo de ciclos de várias perspectivas, e acho que por isso também o clipe acabou repercutindo muito. Não só porque, modéstia a parte, ficou bem bonitão [risos], mas porque a letra conseguiu conversar com as pessoas. Muitas pessoas, principalmente nesse momento da pandemia, estão passando por fins e começos de ciclos. Essa identificação vem ajudando no feedback.

“Chegam depoimentos com interpretações das mais diversas. De gente que tinha acabado de sair de um episódio suicida e encontrou na letra uma mensagem para sair da bad; de gente que tinha acabado de terminar um relacionamento, que tinha perdido o emprego, que estava saindo de um processo de luto por causa da pandemia… Então é uma letra que abrangeu essa questão do fim e começo de ciclos de várias perspectivas, e acho que por isso também o clipe acabou repercutindo muito”

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Esse clipe tem uma abordagem de curta-metragem, achei.
Essa era a ideia. A Luana e eu sempre sonhamos em ter uns clipes que conversassem cada vez mais com a linguagem do cinema do que de videoclipe. Rolou essa oportunidade de fazer com uma equipe maravilhosa que faz vários trampos lá para a O2, e foi possível traçar uma mensagem. Claro, totalmente atrelada ao imaginário do death metal, o fogo, o caixão e tal, mas sem perder o sentido. Você pode ver que no vídeo estamos enterrando a nós mesmas, para dar luz à uma nova versão. A linguagem visual ajudou a contar essa história e a fazer as pessoas se conectarem.

Quando assisti a primeira vez, olhei o marcador de tempo e pareceu que era uma música épica, depois que fui me ligar que os dois ou três últimos minutos eram só de crédito [risos]. Mas ficou legal aquele final com o barulhinho ambiente e o letreiro subindo. Tipo o momento reservado à reflexão depois do impacto.
[risos] É dois minutos só de crédito, parece o filme do Avatar [risos]… mas a galera merece.

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(Crypta/Divulgação)

Tem um carinha comentando aqui nas redes sociais da banda, na postagem do clipe: “Tanto a Crypta como a Nervosa, após separação, são de outro nível se comparado ao que eram antes. Foi bom pra todos, temos duas bandas fodas feitas só de minas pra injetar aquela dose de energia no metal”.
Quando estava chegando no fim do nosso ciclo com a Nervosa, todas nós já sabíamos que não rolava mais daquele jeito e que alguma coisa precisava ser feita para voltar a ficar bom para todo mundo, né. A primeira vez que passou na minha cabeça a ideia de deixar a Nervosa… pô, eu tenho a banda tatuada… eu lembro de mim mesma polindo as primeiras letras, o primeiro mês na gravadora… na hora que passou isso na minha cabeça eu falei “sai para lá, não quero nem pensar nisso”. Mas depois esse pensamento começou a se tornar recorrente, e quando a gente sentou para tentar compor material novo e não rolou, não deu liga, nós três compondo juntas, aí tive a certeza de que alguma coisa realmente precisava ser feita. Tive que tirar não sei de onde esse culhão para poder tomar uma atitude. Foi horrível, a decisão mais difícil da minha vida, fiquei em um lugar muito ruim emocionalmente. Não de arrependimento, mas de apego mesmo. Porém, olhando para trás, agora, e vendo o quanto estamos felizes, empolgadas e motivadas; e o quanto elas estão felizes, trilhando o caminho delas, o quanto ambas as bandas têm fãs incondicionais, penso, “putz, que bom que eu tive a coragem”.

Ficou bom para todo mundo, igual o comentário do mano.
A gente estava ali sem conseguir compor juntas uma música sequer, eu tomei essa decisão, separamos ali os caminhos, e tanto elas como nós compusemos novos discos super rápido. Estamos já começando a compor o segundo disco agora, então não era uma questão de falta de criatividade, mas de que o ciclo havia chegado ao fim. Foi muito difícil, mas olho para trás com orgulho. Acho que o modo como acabou foi correto, tudo teve o seu tempo, mas a situação já vinha por um tempo se arrastando mesmo. Até que chegou em um ponto insustentável. Por mais que eu amasse a banda, nada mais ia sair dali. E tudo que faço, é com muita paixão, muita intensidade. Fazer música fingindo que está curtindo não rola, naturalmente não ia rolar.

Quando vocês começaram, foi anunciada a proposta de tocar um death metal pautado pelo conceito old school, mas, embora os elementos clássicos do estilo estejam ali presentes, é notória uma certa modernidade. Como foi o processo de criação das músicas, esse exercício de fazer soar fresco um gênero que já foi bastante explorado, e ao mesmo tempo manter as características que não se desviam da sonoridade básica da vertente?
Na verdade, a gente decidiu deixar fluir. Ou, melhor, quando começamos a banda a proposta era tocar mesmo tocar um death metal old school, só que todas nós temos muitos gostos diferentes, na hora de compor as referências são completamente diferentes. E como tudo é super democrático dentro da banda, incluindo a hora da composição, acabou cada uma colocando o seu toquezinho. Isso sem que fosse proposital, tipo, “vamos inovar, misturar um old school mais agressivo com umas partes melódicas para dar um refresh”. Nada disso. Foi acontecendo. Quando começamos a compor, de fato, vimos que já estava organicamente fluindo para um outro lugar, e, ao invés de recuar e buscar voltar para a proposta inicial, decidimos foi tirar o “old school” da apresentação da banda, deixando só o “death metal”. E fluiu para esse lugar que eu não consigo nomear. É death, mas tem vários elementos, às vezes parece death metal americano, outra hora sueco etc. Eu falo que a Crypta é um caldeirão de várias pitadinhas de death metal diferente [risos]. Gosto disso, de para onde foi, porque se tivesse feito um disco completamente sozinha iria para outro lugar completamente diferente, isso vale para todas. E juntas conseguimos criar essa coisa original.

O próximo disco vai ser assim também?
Estamos começando a criar uma coisa ou outra e já está indo para um outro lugar. Tem ali a essência que permeia todas as músicas no Echoes of the Soul, mas já tem novos elementos, então está bem interessante.

“Quando começamos a compor, de fato, vimos que já estava organicamente fluindo para um outro lugar, e, ao invés de recuar e buscar voltar para a proposta inicial, decidimos foi tirar o “old school” da apresentação da banda, deixando só o “death metal”. E fluiu para esse lugar que eu não consigo nomear. É death, mas tem vários elementos, às vezes parece death metal americano, outra hora sueco etc. Eu falo que a Crypta é um caldeirão de várias pitadinhas de death metal diferente [risos]”

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(Crypta/Divulgação)

Recentemente você teve problemas nas cordas vocais e começou a estudar canto. Poderia comentar a importância da técnica para fazer uns vocais urrados, rasgados e guturais sem zoar a garganta?
Eu fui autodidata em tudo, no baixo, na voz, mas principalmente com a voz, na Crypta, que para mim era uma página em branco, pensei em inovar, no que poderia melhorar para desafiar os meus próprios limites. Nessa tentativa de explorar coisas novas dentro da minha técnica vocal, vi que estava complicado e decidi começar a fazer aulas, para ver se ajudava. E, putz, é uma outra coisa! O lance da aula de canto ampliou o meu leque absurdamente. Fiz por alguns meses no ano passado, aí parei no estágio da gravação, preparação para o lançamento do disco e pós-lançamento, e voltei faz pouco tempo, cerca de um mês. Nossa, tem não só me ajudado a entender como funciona a técnica de onde quero chegar como no estilo que já desenvolvi, principalmente no que diz respeito a me livrar dos vícios. Tipo quando a gente aprende inglês sozinha, sabe, que vai conversar com alguém nativo e leva um monte de vícios de linguagem? Na técnica vocal, na música é a mesma coisa.

Foram muitos vícios vocais adquiridos nesses anos todos cantando sem saber a técnica?
Descobri que tenho muitos vícios, nada saudáveis. Então está sendo ótimo corrigir essas manias porque aí vou ter uma longevidade maior. É tudo o que mais desejo, porque quero tocar até quando o corpo aguentar. Hoje, vejo o quanto evoluí em poucos meses. Se eu tivesse feito aula desde sempre, atualmente estaria monstruosa! É que nas antigas eu não tinha grana também para fazer. Mas teria sido um caminho muito mais curto, porque quando você vai aprendendo sozinha você testa mil coisas que dão errado até chegar no objetivo, e, nisso, perde-se um puta tempo. Se me pedem conselhos em relação a isso, eu recomendo, sim. Vai lá e faz aula porque vai te poupar muito tempo e saúde. Você tirar o vício é muito mais trabalhoso do que aprender o negócio certo do zero. É a mesma coisa de você aprender a andar de um jeito e ter de reaprender, sabe?

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Sim, você entende melhor o mecanismo das coisas.
Você já sabe que, está pegando ali na garganta, é porque a vibração está de um jeito e deveria estar de outro. Fica muito mais fácil, porque existe o ganho de uma consciência corporal muito maior, a descoberta dos caminhos certinhos, fica sendo só uma questão de se acostumar. É importante aprender a não abusar também. Quando entende-se o que se está fazendo, ao fazer algo errado, na hora o seu te corpo mostra. Quando estamos no autodidatismo já não, a gente acha que faz parte sentir uma coceira na garganta ou coisa do tipo.

“Dark Night of the Soul” chama a atenção pelos riffs baseados na música oriental. Como foi o trabalho de pesquisa para transpor os instrumentos antigos à distorção elétrica?
Então, isso aí foi o seguinte: estava tendo um festival de jazz [Sesc Jazz, 2019], e o Juninho e eu fomos ver o show do John Zorn, que toca saxofone, ele até já fez participações numas músicas do Napalm Death. Ele estava com uma banda lá fazendo umas doideiras, mas tudo era meio permeado com música oriental, indiana e tal. Só que, meu, estava um clima tão animal, fiquei até emocionada em umas horas, e enquanto assistia, falei, quando chegar em casa vou compor umas paradas nessa levada. Aí comecei a ouvir bastante música egípcia e consegui criar aqueles riffs da “Dark Night of the Soul”. E ficou muito massa, porque é uma música de death metal, porém ficou meio classuda, com aquele finalzinho maravilhoso que a Tainá criou. Inicialmente eu ia fazer uma letra mais relacionada ao Egito, mas não estava rolando, e eu já queria escrever sobre esse processo do lado sombrio da alma, e os egípcios, pelo que se sabe, eram super ligados à questão do espírito, da passagem de um plano para o outro. Então a temática não é sobre o Egito, mas com certeza é um processo pelo qual os antigos egípcios passavam.

A arte de capa foi assinada pelo Wes Benscoter, que já criou para nomes como Sinister, Autopsy, Cattle Decapitation, Slayer, Vader, etc. Como foi que rolou essa parceria?
Como queríamos uma estética com essa vibe mais old school, na hora de idealizar a capa optamos por não fazer um negócio digitalizado. E fomos por esse lado do old school, que eram pinturas, né. E hoje ainda tem vários caras que ainda fazem nesse estilo, e a gente pira. Já ficamos pensando nos backdrops gigantes, nas estampas de camiseta, como ia ficar bonito uma pintura printada. E pensamos também no vinilzão, uma capa em que desse para ficar vendo os detalhes. Tem uma parte ou outra que você amplia e consegue ver a coisinha do pincel ali, sabe? Isso é impagável! Nós mesmas listamos algumas referências de pintores especializados em capas para bandas de metal. Chegamos a cotar com alguns, e no fim das contas, ele foi o ideal. Tanto por ter a melhor condição – porque tem vários artistas que impõem algumas coisas de direito autoral e tal -, ele foi o mais tranquilo e também o que nós achamos que combinaria melhor com o conceito da capa. Já chegamos para ele com uma ideia do que queríamos, a ideia do começo de um processo, o caixão aberto com uma luz saindo, enfim… Mas ele pegou esse conceito e melhorou, colocou ainda mais algumas coisinhas, uns detalhes aqui e ali, e saiu assim. A gente curtiu pra caramba o resultado.

“Já ficamos pensando nos backdrops gigantes, nas estampas de camiseta, como ia ficar bonito uma pintura printada. E pensamos também no vinilzão, uma capa em que desse para ficar vendo os detalhes. Tem uma parte ou outra que você amplia e consegue ver a coisinha do pincel ali, sabe? Isso é impagável! Nós mesmas listamos algumas referências de pintores especializados em capas para bandas de metal. Chegamos a cotar com alguns, e no fim das contas, ele foi o ideal”

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(Crypta/Divulgação)

O logotipo de vocês também ficou chapado! Quem foi que fez?
Esse cara é muito massa, ele é o mestre dos logos, assina como Lord of the Logos [Christophe Szpajde’], já fez trampo para várias bandas legais. Ficou perfeito, do jeitinho que a gente queria. Na verdade, fez melhor, né, com o olhar de quem realmente sabe criar a parada.

O metal é daora porque propicia um ambiente para várias manifestações artísticas, não apenas na música, mas na parte de ilustração, na tipologia, e também na moda, eu acho demais o visual de vocês.
Galera que faz roupas e acessórios são essenciais. Ainda mais nesse estilo que é mais carregada a indumentária [risos], rebite pra caramba. Se não fosse a galera que faz, a gente ia estar ferrada.

Ultimamente tenho visto uma parada nova rolando que é a tendência do colorido no visual metaleiro, algo que quebra com a antiga tradição do preto, quando muito um vermelho…
Sim, agora tem até uma marca que eu sempre posto lá nas minhas redes, fazendo tudo colorido. Não vejo a hora de voltar aos shows para ver um monte de minas com as roupas tudo coloridas. Com a Crypta, decidimos entrar nessa. Eu sou do metal e amo glitter, holográfico, essas coisas, e assim como eu, tem várias outras manas da cena. Então optamos por fazer as coisas tradicionais na lojinha da banda, mas colocar também shortinho para as meninas, camiseta colorida, com tom de lilás, rosa com glitter, tem para todos os gostos.

Gosto de camiseta preta, mas, para falar a verdade, às vezes enche um pouco o saco ir na Galeria do Rock e só achar camiseta preta. Tem várias estampas que ficam bem loucas no colorido, ou até no branco. Eu tenho uma do Sepultura no azul clarinho, aquela capa do Schizophrenia.
Ah! Eu tenho uma também dessa, a azulzinha do Schizophrenia, é muito foda!

“Não vejo a hora de voltar aos shows para ver um monte de minas com as roupas tudo coloridas. Com a Crypta, decidimos entrar nessa. Eu sou do metal e amo glitter, holográfico, essas coisas, e assim como eu, tem várias outras manas da cena. Então optamos por fazer as coisas tradicionais na lojinha da banda, mas colocar também shortinho para as meninas, camiseta colorida, com tom de lilás, rosa com glitter, tem para todos os gostos”

Quando a gente fala de uma banda formada só por caras, chamamos de “banda”; e quando vamos falar de uma banda formada só por minas, vira “banda de mina”. Você acha isso zoado? Não deveríamos nos referir a todas as bandas apenas como “banda”? Parece até que se trata de um gênero à parte, “banda de mina”.
A representatividade é uma coisa muito importante para mim. Todas as minhas bandas sempre foram só de minas, sem exceção. Eu nunca toquei com um cara. A primeira rolou sem querer, mas hoje eu tenho uma consciência muito maior de porquê do que na época. No começo, eu pensava que tinha um monte de banda só de caras, então por quê não tinha umas bandas só de minas? Era um pensamento natural, eu queria tocar só com mina também. Eu queria sempre ir por esse lado, achava legal. Era mais isso, no começo, por achar legal. Depois, que eu fui ficando mais velha, fui criando a consciência que tenho hoje, de que, tipo, na verdade levando como uma bandeira mesmo. Eu não me incomodo com o rótulo que usam para falar das bandas só de mulheres, o lance do “all girl metal band”, “banda de death só de mina”… não me incomodo, eu amo. Exatamente porque para mim isso representa uma luta. Não temos condições iguais, ainda não temos o mesmo respeito, nem a mesma quantidade de mulheres e homens se sentindo confortáveis para estar numa banda, cair na estrada e viver seus sonhos.

Então, enquanto isso não for algo natural, para você, esse jargão, essa etiqueta, “banda de mina”, é uma luta.
É uma bandeira que carrego com orgulho, porque principalmente as mulheres sabem a sensação de ver outras mulheres no palco ou fazendo qualquer outra coisa. Eu me lembro da sensação que tinha vendo os vídeos da Girlschool, da Doro Pesch [vocalista da banda de heavy metal Warlock e uma das poucas cantoras de metal dos anos 1980]… falava, Meu! Que daora que tem uma mulher fazendo aquilo. E se elas estavam lá vivendo o sonho delas, eu também poderia viver o meu. Legal que tem um monte de caras que nos inspiraram, mas a gente também gosta, sabe e quer fazer. Quanto mais bandas de mulher tiver, mais mulheres vão continuar se sentindo inspiradas para tocar. Isso foi um outro ponto positivo da bifurcação que rolou com a Nervosa, porque, agora, o que era um sonho se tornou em duas bandas com representatividade, um alcance muito grande, e mais minas vivendo seus sonhos. Afinal, lá entraram mais três mulheres que vão rodar o mundo tocando, e na Crypta, mais duas minas que também vão fazer o mesmo. Antes, éramos três. Agora, somos duas bandas e oito minas inspirando outras minas.

“Eu não me incomodo com o rótulo que usam para falar das bandas só de mulheres, o lance do “all girl metal band”, “banda de death só de mina”… não me incomodo, eu amo. Exatamente porque para mim isso representa uma luta. Não temos condições iguais, ainda não temos o mesmo respeito, nem a mesma quantidade de mulheres e homens se sentindo confortáveis para estar numa banda, cair na estrada e viver seus sonhos”

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(Crypta/Divulgação)

Num show de metal, que tipo de situação uma mina de banda passa que um cara de banda não passa hoje em dia?
Não é fácil, porque um cara, quando sobe no palco, não tem lá alguém que chegue para mostrar para que serve cada botão, como se as minas não soubessem. Isso já aconteceu comigo várias vezes, do cara ajustar o meu microfone da altura que ele acha que é bom, aí eu coloco no lugar, ele vai lá e tira. Já aconteceu várias vezes de ser impedida de entrar no meu próprio camarim. “Olha, aqui é a banda”. Aí, de eu falar, “Eu sou a banda”, e o cara, “Não, aqui é só a banda e não para quem está com a banda”, tipo insinuando que eu era groupie… Várias vezes… Então, eu sei os prazeres e as dores de ter uma banda só de mulheres.

Quais são os planos para o ano que vem?
Temos vários planos, queremos tocar demais quando tudo isso se amenizar. Este ano, ainda não, pois não achamos seguro. Mas a partir do ano que vem, vamos avaliar se está realmente seguro e rodar o mundo tocando. É bizarro, eu nunca lancei um material e fiquei em casa sentada, nem com as minhas primeiras bandas. Esse disco, nós gravamos durante a pandemia, foi uma logística bem mais trabalhosa e detalhada, e lançamos ainda na pandemia. O mundo conhece a Crypta, mas ainda não ao vivo, não tem noção de como é, sendo que, se tudo estivesse normal, nós já estaríamos na segunda turnê.

Uma das integrantes, a Sonia, é holandesa. Como rolam as composições, nesse caso? Vocês fazem tudo à base da troca de arquivos?
Sim, ela é holandesa, a única integrante de outro país. Nós compomos tudo à distância porque mesmo nós, que somos brasileiras, moramos cada uma em um lugar. Eu moro em São Paulo, a Luana, no Rio Grande do Sul, e a Tainá, em Minas Gerais. É tudo Google Drive, grupo do WhatsApp, mandando arquivo uma para a outra, é isso aí.

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