izem que a História humana, assim mesmo com H maiúsculo, é feita de contradições. São elas que fazem girar o motor do progresso, das mudanças. Tirar pela primeira vez minha sunga em uma praia de nudismo me fez perceber que nem toda contradição leva de fato a uma evolução.
Nascemos todos pelados, e ao longo dos últimos 10 mil anos descobrimos como trabalhar tecidos vegetais, couros e peles animais para cobrir nossos corpos. Passamos a usar túnicas, saias, vestidos, calças, camisetas, ternos, cobrimos nossas vergonhas da cabeça aos pés, transformamos vestimentas em moral, poluímos nossos cérebros com julgamentos, e tudo isso para que, quando chega o verão, a gente queira ficar peladão.
Porque, em maior ou menor grau, estar na praia é mostrar o corpo, e isso exige um desprendimento. Acontece que quando cobrimos nossas genitais, nosso cérebro entende que não há mais diferença se estamos usando uma sunga, um maiô ou um trenchcoat. Soa bizarro dizer isso, mas coloque-se nesse lugar e me diga se você não se sente igualmente “protegido” dos olhos alheios assim.
A grande maioria das pessoas que nunca foi a uma praia de nudismo tem dúvidas ao mesmo tempo pertinentes e absurdas sobre esses locais e os frequentadores. O que pode e o que não pode, afinal?
De acordo com as regras das sociedades naturistas – que certificam e estabelecem as normas de boas condutas dessas praias de nudismo –, as principais delas são condutas que garantem respeito, uma característica que deveríamos ter em todos os momentos das nossas vidas. Não fique olhando para outras pessoas a ponto de deixá-las desconfortáveis, não saia dando em cima de desconhecidos, não transe em público.
Na Praia da Galheta, na região leste da ilha de Florianópolis, as formações rochosas de pedras altas até formam lugares privativos para quem quiser se pegar, mas não acho que tenha sido o caso no dia que estive por lá. Também não notei ninguém olhando avidamente para meu corpo, nem pela curiosidade que eu eventualmente possa causar por ter minha bunda completamente tatuada.
Nesse sentido estritamente descritivo, o que dá pra dizer é que uma praia de nudismo é exatamente igual a qualquer outra: as pessoas tomam sol, comem camarão frito, bebem caipirinha, nadam no mar. A grande diferença são os locais do seu corpo que a areia alcança [risos].