ssim que chegou em uma das edições da festa Blum, a criadora e produtora do eventos Nikkatze se deparou com uma cena estranha. Várias das pessoas que participavam do rolê – que é um dos maiores encontros independentes de música eletrônica de São Paulo – estavam passando mal e desmaiando. “Acho que foi o caso mais grave que a gente já teve que lidar”, explica Nikkatze, que também é DJ.
O acolhimento teve apoio dos profissionais da T.E.C.O. (Tenda Especializada para Cuidar da sua Onda), um projeto de redução de danos (RD) que nasceu antes mesmo da criação da festa. “A Blum foi o espaço que me permitiu trazer à realidade esse ambiente, que eu já havia planejado na cabeça enquanto era só frequentadora da cena de entretenimento noturno”, revela. “Sempre notei uma carência muito grande desses espaços de cuidado nos ambientes de festa.”
Como lembra o bioeticista Luis Felipe Valêncio, espaços de RD oferecem a oportunidade das pessoas pensarem nas suas relações com as drogas. “O principal potencial é educativo, tendo em vista que a gente não aprende redução de danos na escola. Os jovens brasileiros têm essa educação que é baseada no medo, na moralização religiosa”. Para Valêncio, que integra o portal Ciência Psicodélica e o Grupo de Pesquisa ICARO (Cooperação Interdisciplinar para Pesquisa e Divulgação da Ayahuasca), da Unicamp, essa educação moralista contribui para a criação de tabus em relação ao uso de drogas, o que só aumenta os riscos. “Como dizem as pessoas da área, a redução de danos é uma porta de entrada para o cuidado.”
“O principal potencial é educativo, tendo em vista que a gente não aprende redução de danos na escola. Os jovens brasileiros têm essa educação que é baseada no medo, na moralização religiosa. A redução de danos é uma porta de entrada para o cuidado”
Luis Felipe Valêncio, bioeticista
Não à toa, foi graças à T.E.C.O. que Nikkatze conseguiu dar o suporte necessário às pessoas que desmaiavam em sua festa, sendo possível ainda encontrar o motivo. “Descobrimos que havia uma menina distribuindo maconha sintética para a festa inteira, era uma droga falsa que tinha acabado de ser criada”, explica. “A tenda de RD foi essencial, já que só conseguimos descobrir o que estava rolando por causa das denúncias das pessoas que iam até lá levar os amigos e falar com os psicólogos.”
Foi possível, assim, identificar a garota e interromper a distribuição. “Como se tratava de desmaios temporários, ainda conseguimos informar o pessoal sobre a importância de se fazer a testagem e saber a procedência das substâncias”, lembra a DJ e produtora.